Braga-Leiria, 3-5 (crónica)

27 mai 2001, 19:37

Quando tédio e loucura se confundem

Inconstante, incompreensível e até um pouco louco. Entediante, por vezes, alucinante, por muito mais, o jogo define-se com extrema dificuldade, tal a facilidade com que se assumiu como mais um, entre muitos outros, de um campeonato de imensos e inaturáveis cuidados e se confundiu com instantes comuns às melhores importações de criatividade e audácia. 

Bocejos e arrepios substituíram-se sem aviso ou mediante uma ordem minimamente lógica. Limitaram-se a suceder-se ao ritmo do capricho de quase seis dezenas de pernas, umas mais hábeis, outras mais práticas e outras ainda mais duras. O tédio seria, contudo, muito mais do que uma ameaça. Perdurou e irritou ao longo de quase meia hora, num excessivo e absurdo exercício de apalpação e estudo. 

O Braga, com os melhores motivos para arriscar um reportório vasto e variado, transmitia a sensação de medir todos os gestos e temer os movimentos alheios, desconfiando de represálias de uma estrutura estrategicamente retraída e irritantemente inofensiva. 

Um e outro tinham muito mais para dar, mas nunca sem um desafio ou provocação. Sem o primeiro golo, o Braga não libertaria a genialidade que chegou a dar o jogo como muito mais do que ganho. Sem ele, o Leiria permaneceria impávido, negando-se a gerar o espectáculo, que parecia satisfazê-lo só de observar. Até então pobre, mas servindo a intenção de pontuar. 

O Leiria carregaria consigo, por muito mais tempo, a condição de mero espectador ou, em última análise, de intérprete renitente. Antes do segundo golo, ou até ao intervalo, ninguém suspeitaria, à excepção do treinador que se despedia, a animação que aquela equipa, dissimuladamente tímida, amarrada por restricções estratégicas, podia gerar. 

Edmilson tratava, então, de servir as delícias. De cabeça, de calcanhar ou no simulação desconcertante. Era ela que fazia jogar, que tornava o jogo especial e mantinha as bancadas em «suspense», festejando golos-fantasma em Alvalade, que se espalhavam no rumor nascido da ansiedade, antes de seguir de boca em boca, erguendo braços à passagem. 

Festejava-se em falso, porque o Marítimo jamais conseguiria marcar. E falsa era também a imagem do jogo, aparentemente controlado pelos pés de Braga. Num retoque de génio ou de sorte, Manuel José desfigurou irremediavelmente a partida. Tozé levou a reviravolta atada no laço da bota direita e, um minuto depois, marcava. Derlei, também. Já não havia favor que o Sporting pudesse prestar, quando o mesmo Tozé, na versão mais louca do jogo, acertava de novo nas malhas, que Quim procurava, sem êxito, defender. Mais uns minutos e Tozé oferecia novo golo a Dinda. 

O último sopro do árbitro, com raros equívocos, confirmava as duas surpresas: o Braga perdia pela primeira vez em casa, justamente na última jornada, e o Leiria terminava o campeonato na quinta posição, a melhor que alguma vez conseguiu, e na frente do Benfica.

Patrocinados