"Quando fui pai, algo mudou". Alexis Ohanian, marido de Serena Williams, defende a licença parental para os homens

CNN , Elissa Strauss
29 jan 2022, 15:00
Alexis Ohanian. AP Photo/Chuck Burton

A luta pela licença parental remunerada tem sido dominada pelas mulheres.

Costumam ser as mulheres a dar à luz e amamentar os bebés, daí ser mais comum ver as mulheres a ter de decidir-se entre sarar do parto e cuidar adequadamente do bebé ou um ordenado. É uma escolha que poucas querem fazer, mas a vasta maioria das novas mães é posta nessa posição e sofre com isso. Como consequência, as mulheres têm mais tendência a revoltar-se e a ser mais ruidosas.

Mas os homens também devem beneficiar da licença parental. Passar tempo com o bebé e a companheira nos primeiros tempos pode trazer benefícios psicológicos, físicos e até profissionais, a longo prazo. Também eles deviam lutar pela licença remunerada.

A CNN falou com Alexis Ohanian, cofundador do Reddit's, antigo presidente executivo e fundador da Seven Seven Six e marido da tenista profissional, Serena Williams. Defensor da licença parental remunerada, Ohanian falou da importância da licença para os homens, da lutar que deviam travar pela licença e da relutância em fazerem-se ouvir.

Esta entrevista foi condensada e editada para maior clareza.

CNN: A licença de paternidade pode ajudar os homens nas relações familiares. Em que medida o ajudou, enquanto pai?

Alexis Ohanian: Não cresci com irmãos mais novos e nunca tinha estado junto a um bebé nem imaginado estar junto a um bebé até me tornar pai. Foi a licença de paternidade que me deu confiança para estar com crianças, porque pude passar esse tempo a aprender, a cometer erros e a desenrascar-me.

Agora, mesmo com uma filha de quatro anos, consigo ver esses efeitos de forma ainda mais subtil, porque sei que conseguimos ultrapassar esse período de quando são recém-nascidos e não conseguem dizer-nos como se sentem. Essa experiência inicial faz com que todos os problemas seguintes pareçam mais simples, porque pude desenvolver a confiança que de outra forma não teria em mim.

Alexis Ohanian, Alexis Olympia Ohanian Jr. e Serena Williams

 

CNN: Que efeitos positivos teve a licença de paternidade no seu casamento?

Ohanian: A chegada de uma criança é um momento em que tudo nas nossas vidas muda radicalmente. E os homens têm um papel a cumprir, mesmo não sendo eles a carregar o bebé no ventre ou a amamentá-lo. Mesmo no melhor cenário possível, com uma gravidez e parto completamente saudáveis, é preciso estar presente para a companheira e apoiá-la emocional e fisicamente.

A minha esposa teve uma gravidez muito mediática e complicada, sendo ainda mais crucial nesses cenários. Teve de recuperar de várias cirurgias após o nascimento da nossa filha. E apesar de levarmos uma vida recheada de privilégios e apoios, não deixou de ser um momento difícil. Sinto-me muito grato por ter podido passar tempo com a bebé, mas também ter estado do lado da minha esposa. Foi indispensável.

Mas mesmo correndo tudo bem, é nas primeiras semanas que começamos a perceber como será a nossa vida daí para a frente e quais serão as nossas novas rotinas. Poder passar mais algum tempo juntos, estar presente e apoiarmo-nos um ao outro é muito importante para os relacionamentos. É sempre muito difícil, mas a licença parental ajuda-nos a tentar ter o melhor começo possível. É o tipo de coisa que tem um efeito cascata.

CNN: Em que medida a licença de paternidade pode beneficiar os homens a nível profissional?

Ohanian: Se as coisas em casa estiverem tranquilas quando se volta ao trabalho após o nascimento de um filho, a pessoa é mais produtiva. É um dos motivos pelo qual providencio licenças de paternidade enquanto empregador e que me leva a defendê-la para os funcionários. Há um valor agregado a passar-se tempo a garantir que o castelo está em ordem e que a família está bem, pois a pessoa conseguirá dar o máximo no trabalho.

O trabalho e a vida pessoal não são coisas separadas, estão completamente interligados e é do máximo interesse para os empregadores ter funcionários que possam tirar tempo livre quando necessitam. A licença remunerada pode gerar dividendos nos anos que se seguirão.

CNN: A experiência de cuidar de bebés muda os homens?

Ohanian: Terão de perguntar à minha equipa se me tornei mais solidário ou compreensivo. Não sei se consigo responder a essa pergunta, mas há uma coisa que vejo entre os líderes masculinos tipo Alfa de todas as indústrias, onde se incluem o desporto e o entretenimento, é que aproveitar o tempo da licença de paternidade para cuidar de um filho ou da companheira é uma experiência de grande altruísmo.

Enquanto homem que passou a vida obcecado com a carreira, e continuo a sê-lo, pois adoro o que faço, achava que era o centro do meu universo. Tomei imensas decisões de vida focando-me na carreira, mas quando fui pai algo mudou. Oiço isto vezes sem conta da boca de outros homens. Tenho uma família que será o meu legado e isto só mostra o quão importantes são esses momentos com a minha família. É pela minha família que as pessoas de quem realmente gosto me irão recordar.

Acho que isso não nos torna menos competitivos. Na verdade, acho que me tornei mais competitivo desde que fui pai. Mas olho para todas as minhas decisões pela perspetiva de quem, um dia, terá uma conversa com a sua filha e quer que ela sinta um orgulho tremendo das decisões que tomei, que permitiram lançar as bases para o meu legado.

CNN: Como se envolveu na luta pela licença remunerada?

Ohanian: Começou logo após esta nossa experiência. Após passar por isto com a Serena, percebi que, mesmo estando numa posição privilegiada, foi traumático na mesma. Nem imagino como será para todos os americanos que têm de passar por isto sem tanto apoio. Nenhuma pessoa deveria ter de decidir entre ficar com a esposa ou o filho na UCIN ou o trabalho. É algo impensável. Comecei a falar cada vez mais sobre o assunto e, em 2019, fui até ao The Hill com outros pais e a equipa da Dove Men+Care e da PL+US, e ajudámos a conseguir uma licença parental remunerada durante 12 semanas para os funcionários públicos abrangidos.

CNN: Porque não haverá mais homens a defender a licença parental remunerada?

Ohanian: Acho que isso está a mudar. Há cada vez mais pais bem-sucedidos a falar sobre isto e a publicar nas redes sociais a importância que têm estarem envolvidos na vida dos filhos, o que é um passo gigantesco na evolução em comparação há geração anterior, quando o meu pai é capaz de ter tirado um dia de folga apenas quando eu nasci. Já nos anos 80, quanto mais nos anos 50 e 60, era inconcebível um pai mencionar sequer que tinha vida para além do trabalho.

Estamos a assistir a uma mudança de cultura e muitos homens de sucesso estão a normalizar um comportamento que irá facilitar cada vez mais a decisão de alguns homens inseguros recusarem o trabalho em prol do tempo com a família. Acho que há muitos pais que gostavam de ter tirado a licença de paternidade, mas cuja envolvência e situação não lhes permite verbalizá-lo. Mas, repito, as coisas estão a mudar.

E.U.A.

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