Os anúncios de emprego podem ser extremamente detalhados, com longas listas de responsabilidades e competências necessárias, descrições da cultura e vantagens da empresa e vários outros motivos pelos quais pode querer trabalhar lá. Porém, muitas vezes, há uma grande omissão: a remuneração.
Apenas cerca de 12% das publicações em sites de empregos online dos EUA incluem faixas salariais, de acordo com Julia Pollak, economista-chefe da ZipRecruiter. E trata-se de um aumento de 8% em 2019.
Parte do motivo do aumento é o mercado de trabalho mais forte, afirmou Pollak. "Um mercado de trabalho mais escasso parece ter feito com que mais empresas divulgassem os salários", afirmou.
Porém, em breve, um número crescente de empresas será obrigado pelos governos locais a divulgar o que vão pagar.
Uma nova lei na cidade de Nova Iorque, por exemplo, exige que os empregadores incluam uma faixa salarial nos anúncios de empregos. A lei, que entra em vigor em maio, aplica-se a empregadores com quatro ou mais funcionários e exclui empresas de emprego temporário.
“A nossa nova lei chama a atenção para a desigualdade salarial”, afirmou Helen Rosenthal, ex-membro da Câmara Municipal e responsável pela lei, à CNN num comunicado no mês passado. "Incluir as faixas salariais nas ofertas de emprego permite que os candidatos determinem se serão capazes de se sustentar e à sua família, quando se candidatam a um emprego."
O Colorado tem uma lei semelhante que está em vigor desde janeiro de 2021 e alguns outros estados, como Rhode Island e Maryland, têm legislação que exige que os empregadores divulguem faixas salariais mediante solicitação.
Porquê guardar segredo?
Os custos da mão-de-obra são uma grande despesa para as empresas e não saber o que estão dispostas a pagar pode permitir a contratação de candidatos por menos dinheiro, explicou Katie Donovan, fundadora da consultoria Equal Pay Negotiations.
"As empresas não querem consumidores informados... porque, quanto mais informado o consumidor estiver, mais difícil será negociar qualquer tipo de valor", afirmou. "Sem dúvida, há uma mentalidade de que o trabalho de recrutamento e contratação consiste em contratar a melhor pessoa por nem um cêntimo a mais do que o necessário. E a melhor maneira de o fazer é não divulgar a remuneração que tem realmente disponível."
Manter o valor em segredo também pode ser uma estratégia de negociação. "O primeiro a dizer um número perde", afirma Donovan.
A publicação de informações salariais também significa que os concorrentes e os funcionários atuais podem ver o que uma empresa está a pagar.
Nalguns casos, os funcionários podem descobrir que são mal pagos, o que pode levá-los a exigir mais ou a procurar um novo emprego.
"Esta é a parte assustadora, é por isso que [as empresas] não o colocam por escrito", explicou.
Porque é bom para os empregadores
No entanto, divulgar salários também pode ser vantajoso para as empresas, quando se trata de negociar, afirmou Zoe Cullen, professora assistente de Economia da Universidade de Harvard.
"As empresas que fixam um valor para um determinado emprego têm um alto grau de poder de negociação, no sentido em que anunciam a potenciais candidatos que, 'se tentar negociar um valor mais alto, isso afetará todos os outros, porque será preciso ajustar a taxa atual para este trabalho publicamente.'"
Partilhar faixas de salário pode também ajudar a atrair funcionários.
"Quando as pessoas procuram trabalho, normalmente [a remuneração] é a principal preocupação. Portanto, se não encontrarem as informações [de salário] de que precisam, podem não perder tempo com o processo", explicou Pollak.
Ao mesmo tempo, os empregadores também podem criar um grupo de candidatos mais qualificado.
"Isto poupa o tempo e a energia de procurar candidatos que nunca aceitarão o emprego... As pessoas autoexcluem-se, quando o [salário] é muito pequeno", afirmou Donovan.
Ela acrescentou que, quando as empresas são mais diretas em relação aos salários, isto pode ajudar a criar confiança. "Os candidatos sentem-se mais respeitados e esforçam-se mais quando a informação existe... Eles pensam: 'Muito bem, estão a tratar-me como um ser humano.'"
Porque é bom para quem procura emprego...
Para começar, as faixas salariais publicadas ajudam os candidatos a entender o que o mercado está disposto a pagar por determinados cargos.
"Se tem a possibilidade de saber o salário que é oferecido e o que os outros estão a ganhar, então, está em posição de se defender", afirmou Laurie Berke-Weiss, advogada principal da Berke-Weiss, um escritório de advogados de Direito do Trabalho na cidade de Nova Iorque.
Saber o que um emprego paga desde o início também pode simplificar o processo de procura de emprego. No mercado de trabalho escasso atual, os candidatos são mais seletivos relativamente às funções a que se candidatam e as faixas salariais anunciadas podem ajudá-los a delimitar as suas opções.
"As descrições podem fazer uma função parecer melhor do que realmente é, [os candidatos] podem empenhar-se no processo e perceber que o salário é significativamente menor do que aquilo que ganham atualmente", afirmou Rohan Rajiv, gerente de produto de grupo no LinkedIn. Ele acrescentou que as publicações de emprego no LinkedIn que incluem informações salariais aumentaram 50% em janeiro de 2022 em relação a janeiro de 2021.
As leis que exigem a divulgação de salários, bem como outras leis, como proibir as empresas de pedir o histórico salarial, também podem ajudar em questões de equidade salarial.
Estudos mostram que mulheres e pessoas de cor tendem a receber menos do que homens brancos nas mesmas funções. Corrigir este problema exigiria aumentos salariais significativos.
"Matematicamente, para uma mulher hispânica responder à pergunta: o que espera ganhar neste trabalho? Para ela dizer o mesmo número que um homem branco, teria de aumentar o seu salário atual em mais de 100%... apenas com base nas estatísticas", afirmou Donovan.
… e também para os funcionários atuais
A divulgação de faixas salariais também pode ser esclarecedora para os funcionários atuais.
"[Se os funcionários] perceberem que podem obter um aumento de 20% apenas ao mudar para a concorrência, começarão a ficar atentos às suas vagas", explicou Donovan.
Esta transparência também pode ajudar os funcionários existentes a saber se estão a ser mal pagos.
"A maioria das pessoas pensa que as pessoas com um cargo há mais tempo [numa empresa] ganham mais do que o novo funcionário que acabou de começar. Mas não, o novo funcionário provavelmente está a ganhar mais", afirmou Donovan. "O novo funcionário recebe o valor de mercado atual e o seu aumento de 2% [anual] não acompanhou a taxa de juro de mercado."
A pesquisa de Cullen mostra que a divulgação pública das faixas salariais pelos empregadores pode reduzir o poder de negociação de um funcionário e limitar a sua capacidade de pedir além desta faixa.
Contudo, a remuneração é mais do que aquilo que está no recibo de vencimento As empresas também podem oferecer benefícios como bónus de assinatura de contrato, opções de ações e outras vantagens que nem sempre são obrigadas a divulgar.
"Pode haver uma empresa publicamente comprometida com a transparência salarial, mas se quiser realmente um candidato que exige mais do aquilo que esta oferece inicialmente para aceitar o emprego, pode encontrar formas de fazer valer essa faixa salarial", afirmou Pollak. "As empresas podem encontrar várias formas criativas de contornar estes requisitos."
