Vítor Pereira e o lance polémico no México-EUA: «Não se assinalam penalties na dúvida»

18 jun 2002, 10:19

Aglomerado de jogadores prejudicou a visão do lance Satisfeito com o trabalho realizado no seu segundo jogo deste Mundial, Vítor Pereira admite não ter conseguido distinguir o dono do braço faltoso.

Satisfeito e de consciência tranquila. É assim que Vítor Pereira se assume, 24 horas depois de ter dirigido o seu segundo jogo no Mundial-2002, e 24 horas de ficar a conhecer o seu destino na prova - ou a viagem para o Japão, para os oito últimos jogos, ou o regresso a casa, como vai suceder a mais de metade dos 32 juízes de campo.

O juiz português ainda não visionou as imagens do México-Estados Unidos, mas tem a noção de se lhe ter deparado uma tarefa complicada: «Foi um jogo bastante difícil, até em comparação com o França-Dinamarca. Os americanos fizeram muita queima de tempo, os mexicanos enervaram-se, e houve muitos agarrões e muitos lances de choque», reconhece Vítor Pereira, que foi felicitado, após o final do encontro, pelo observador da FIFA, o somali Farah Dadou.

No entanto, um penalty por assinalar contra os norte-americanos, fica a manchar uma actuação segura e personalizada, em especial no critério disciplinar. Vítor Pereira, que viajou à noite de Jeonju, tendo regressado a Seul de madrugada, ainda não viu as imagens televisivas, mas já foi informado do lance em causa. «Já me disseram isso, e eu lembro-me da situação. É muito próxima da baliza americana, e tenho um grande aglomerado de jogadores à minha frente. Mesmo que tivesse a noção de um braço na bola, como saltaram vários jogadores juntos e eles jogam de manga curta, não conseguiria distinguir se era um braço verde ou branco. Quando olhei para o meu auxiliar (N.R.: o austríaco Egon Bereuter), ele fez-me sinal com a mão de que também não tinha visto. Por isso, e como não se assinalam penalties na dúvida, mandei seguir o jogo», assume o juiz português, globalmente satisfeito com a sua actuação. O facto de a repetição do lance ter passado no écran gigante do estádio de Jeonju nem sequer foi detectado pelo juiz português, que no entanto reconhece a possibilidade de esse «replay» ter afectado a serenidade dos jogadores mexicanos.

«Atendendo às características do jogo, penso que consegui preservar o controlo disciplinar e impedir que as coisas tomassem outro rumo», afiança, recordando serem essas as directivas fundamentais da FIFA. «Tive de mostrar três cartões amarelos aos americanos por perda de tempo, o que é raro a este nível, e depois do segundo golo os mexicanos perderam a serenidade, pelo que tive de ser mais severo com eles. Foi um jogo complicado, a partir do momento em que a Selecção americana se fechou e procurou sistematicamente queimar tempo e enervar o adversário», acrescentou, manifestando a confiança de que a análise às suas duas prestações na prova permitem manter a expectativa sobre o futuro.

No entanto, mesmo que o seu Mundial termine amanhã, Vítor Pereira já tem motivos para festejar um final de carreira à altura das expectativas criadas: «Tinha dois grandes objectivos para este ano. O primeiro era estar aqui, o segundo era dirigir dois jogos, como aconteceu no França-98. Já estão cumpridos, agora aguardo com esperança e sem ansiedade pela decisão», admite.

O juiz português, que curiosamente dirigiu por duas vezes jogos envolvendo a selecção mexicana nos oitavos-de-final dos seus Mundiais (em 1998 apitara o Alemanha-México, 2-1), destaca igualmente a boa prestação de Carlos Matos no Mundial: «Confesso que tenho alguma esperança de que pelo menos um de nós continue em prova», admite, acrescentando que dá sua parte pode coniderar a missão cumprida: «Esperava chegar ao fim dos dois jogos com a possibilidade de complicar a vida a quem tem de tomar estas decisões. Acredito que o consegui». Amanhã se saberá se a história continua.

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