Primeiro português a jogar na Rússia O ex-avançado do Alverca vai fazer história no futebol nacional. Enquanto espera pela estreia com a camisola do Lokomotiv, trabalha para recuperar a forma. Em conversa com o Maisfutebol registou as primeiras impressões de uma aventura apaixonante.
De Alverca para Moscovo, eis o percurso insólito de Filipe Azevedo, que desde quinta-feira já treina na capital russa, preparando-se para representar o Lokomotiv pelo menos até meados de Novembro, quando termina a temporada.
O ex-avançado do Alverca vai tornar-se em breve o primeiro futebolista português a actuar no Campeonato russo. Por enquanto, trabalha para recuperar a forma física, depois de uma paragem prolongada. Com o Lokomotiv em segundo lugar, a oito pontos do líder Spartak (defrontam-se amanhã, no grande jogo da 17ª jornada) e com menos um jogo, o português é considerado um reforço importante na luta pelo título.
Ao fim do segundo dia de permanência na Rússia, as expectativas de Filipe Azevedo são as melhores, como referiu ao Maisfutebol: «Acredito que esta pode ser uma experiência muito boa. Este é um clube de grande prestígio, mesmo a nível europeu. Enquanto jogador, posso sair daqui mais enriquecido. Acho que se ganha sempre com este tipo de mudanças e espero relançar a minha carreira».
Uma carreira iniciada em França, e que em Portugal teve passagens pelo Felgueiras e pelo Alverca, que há duas épocas garantiu o seu concurso, antecipando-se ao Estrela da Amadora. Depois de uma temporada de sucesso, ao fim da qual se sagrou melhor marcador da equipa no ano de estreia na I Liga, Filipe Azevedo viveu momentos decepcionantes: «O segundo ano foi difícil, estive muito tempo lesionado e acabei por jogar pouco». Por isso, a vontade de se afirmar é ainda mais forte: «Quero dar o meu melhor aqui e, se as coisas correrem bem, logo vemos até onde poderá ir o meu relançamento. Para já, prefiro não falar de um eventual regresso a Portugal».
Estágio na Alemanha convenceu Syomin
A possibilidade de jogar no Lokomotiv de Moscovo surgiu por força dos contactos privilegiados que o empresário Paulo Barbosa mantém no futebol russo. Numa altura em que o Lokomotiv estagiava na Alemanha, Filipe Azevedo treinou-se durante quatro dias, à experiência.
Enquanto França e Itália discutiam o título europeu, em Roterdão, um jogo particular com o Estugarda, a 2 de Julho, foi a etapa decisiva para convencer o técnico Yuri Syomin, já bastante agradado com o que vira nos treinos. Filipe recorda: «Actuei apenas 45 minutos, com alguns cuidados, porque estava longe do ritmo ideal. Mesmo assim, as coisas correram-me bem e no final o treinador veio perguntar-me se eu estaria disponível para jogar no fim-de-semana seguinte, já para o Campeonato, ou pelo menos para defrontar o Spartak, no dia 16».
O ex-avançado do Alverca sorri ao recordar a sua surpresa face à pressa dos responsáveis russos: «Tive de explicar-lhes com muito cuidado que havia problemas burocráticos para resolver e que eu ainda não tinha a condição física adequada». A solução de compromisso agradou ao jogador, que ficou de apresentar-se o mais cedo possível em Moscovo e trabalhar de imediato para recuperar a forma, sem fixar uma data precisa para a estreia com a camisola dos «ferroviários».
Liga dos Campeões no horizonte
No entanto, há uma meta da qual Filipe Azevedo não abdica: o Lokomotiv está apurado para a terceira pré-eliminatória da Liga dos Campeões, com o primeiro jogo marcado para 8 de Agosto. E o jogador português não disfarça a vontade de «botar figura» na mais importante prova de clubes a nível europeu: «O meu acordo com o Lokomotiv é, em princípio, até final do campeonato, em meados de Novembro. Mas está definido que, se a equipa for mais longe na Liga dos Campeões, o meu contrato será prolongado».
A adaptação ao futebol russo não preocupa o jogador: «Já deu para ver que o Lokomotiv tem uma boa equipa. O sistema habitual é um 5-3-2, o que me agrada bastante, já que no futebol francês sempre fiz dupla com outro avançado. Em Portugal é que é mais frequente jogar-se só com um homem na frente, mas eu até prefiro assim».
Também a integração social não é aspecto que angustie Filipe Azevedo: «Fui muito bem recebido pelos elementos do clube. Como eles falam francês, não há problemas de comunicação. Até agora, como a equipa estava em estágio, limitei-me a treinar pela manhã, no estádio, só com o treinador-adjunto como companhia. Mas a partir da próxima semana isso vai mudar».
Para mais tarde fica também um conhecimento mais profundo dos mistérios de Moscovo. Por enquanto, Filipe Azevedo encontra-se alojado num hotel distante do centro, na companhia da sua esposa e ainda não teve tempo de conhecer a cidade onde vai morar nos próximos quatro meses. A mudança para um apartamento mais central, a acontecer em breve, vai resolver esse problema.
E o clima? «Nada de problemático» responde o jogador. «Por agora, está muito ameno, com mais de 20 graus durante o dia. Ao que me dizem, o frio intenso só começa em Novembro e, em princípio, o meu contrato termina antes disso». Se a estadia se prolongar, por causa da Liga dos Campeões, Filipe não hesitará em abordar a «campanha de Inverno» como um pequeno preço a pagar por uma oportunidade de fazer história e relançar a carreira.
