Golo no último minuto rouba vitória aos encarnados Injustiça, dizem os encarnados. Talvez tenham um pouco de razão, embora devam notar que o Benfica pecou ao não «matar» o encontro. A equipa jogou mais do que o suficiente para ganhar e tudo indicava que o conseguiria. Mas do outro lado estava o líder do campeonato, que soube justificar, através da crença, a «estrelinha» com que foi bafejado no último suspiro do encontro.
Nada é obra do acaso. Há quem defenda esta máxima no futebol e se calhar terá razão. Provavelmente há sempre explicação para tudo. Mas que às vezes custa a encontrar, lá isso custa.
É mais ou menos isto que deve andar a bailar na cabeça dos benfiquistas mais pragmáticos depois do empate consentido no último minuto do jogo contra o Sp. Braga efectuado na noite de hoje (segunda-feira) no Estádio da Luz e que terminou com o resultado em 2-2.
O Benfica entrou cheio de «ganas», perdeu depressa o gás e foi para o descanso a perder. Na segunda parte Mourinho mexeu na equipa e esta deu a volta ao marcador. No último minuto o Braga empatou.
Os benfiquistas não-pragmáticos (provavelmente a maioria), limitar-se-á, ao contrário daqueles de que falávamos há pouco, a atirar que o desfecho é injusto e se deve somente à falta de sorte.
Admitindo que da parte destes haverá alguma razão, tentemos no entanto sistematizar o que se passou no relvado da Luz em 90 minutos de futebol puro. Nem sempre jogado a altos níveis de qualidade, mas decididamente puro.
No final, com algum bom-senso, concluiremos provavelmente que o Benfica não ganhou por duas razões essenciais: a primeira é porque não «matou» o jogo na segunda parte; a segunda é porque o Braga nunca baixou os braços e acreditou até ao fim, do alto da sua auto-confiança, que poderia pontuar.
Bracarenses dão-se ao respeito
Os donos da casa, pressionados pela necessidade da primeira vitória na era-José Mourinho, entraram em alta rotação. Bastou, no entanto, que passassem dez minutos para todos entenderem que o Sp. Braga não chegou líder à sexta jornada por acaso.
Organizadíssimos e a respirar confiança, os homens de Manuel Cajuda perceberam como inviabilizar as incursões de Dani e Poborsky do meio-campo para a frente e, com isso, desequilibraram as coisas a seu favor na zona mais importante do terreno.
A personalidade dos bracarenses permitiu-lhes acreditar que poderiam jogar taco-a-taco e colocou o Benfica numa posição pouco vulgar - a de respeitar muito, para não dizer temer, um adversário que tinha pela frente na Luz.
O golo de Fehér (primor de execução), obtido a dez minutos do intervalo, premiou a atitude do Braga e colocou o Benfica em maus lençóis. Mas o sentido da justiça manda dizer que o empate com golos seria o resultado mais apropriado no final dos primeiros 45 minutos. É que o Braga atacou e criou oportunidades, mas o Benfica também. E a superioridade arsenalista não era assim tão grande.
As reservas bancárias e a «bomba» final
Mourinho deixou no balneário Calado (ao que tudo indica lesionado) e Miguel, colocando nos seus lugares Chano e Sabry.
O espanhol pegou nos materiais de faxina, respirou fundo e num só fôlego arrumou a casa, colocando as «peças» do meio-campo no sítio certo e com espaços para evoluir rumo ao ataque. Sabry, mais mexido que Miguel, foi criando embaraços na direita, onde estava então Ricardo Rocha (Artur Jorge rendeu o lateral-esquerdo Rodrigo e foi para o meio, Zé Nuno trocou de banda).
O treinador encarnado viu passar-se um quarto-de-hora com um Benfica claramente dominante, mas ainda assim incapaz de anular a desvantagem. Num golpe intencional - mas que dificilmente poderia ter saído melhor, se quisermos voltar à eterna discussão da felicidade das substituições - fez entrar João Tomás.
Na sequência imediata da entrada do avançado, as três reservas que Mourinho tinha no banco para o que desse e viesse justificaram a aposta: Chano desmarcou Sabry, este cruzou e João Tomás cabeceou para o empate.
O Benfica, finalmente, consumava o domínio. Mas queria mais. O Braga estava obrigatoriamente muito mais cauteloso, mas ia-se mantendo atento e continuava a mostrar que sabia o que devia fazer quando tinha a bola nos pés. Tinha-a era por muito menos tempo...
O domínio encarnado teve corolário lógico no segundo golo. Outra vez Chano na génese, desta vez com Poborsky a oferecer a cabeçada final a Van Hooijdonk.
Se antes do 2-1 o Benfica já deixara golos por marcar, depois de estar em vantagem repetiu a dose. O jogo estava ali à mão, pronto para ser resolvido de vez com o terceiro tento, mas este não apareceu.
Com o terceiro minuto de descontos prestes a expirar, o mentalmente forte Sporting de Braga teve um último assomo. Barroso atacou à bomba a baliza encarnada, a bola bateu no poste e nas costas de Enke, Artur Jorge apareceu a empurrar para as redes.
Por entre o mérito bracarense e a sensação de alguma injustiça, sobressai aqui um factor que a acontecer com outros clubes teria o nome de «estrelinha de campeão». Assim fica apenas como «estrelinha» de um líder que fica à espera de uma escorregadela do F. C. Porto em Faro para continuar a gozar o estatuto que sabe que perderá mais cedo ou mais tarde.
Do lado contrário, ficam os aplausos do público a provar que o tribunal da Luz dá sempre o benefício da dúvida aos novos e até sabe ser justo qundo vê a equipa jogar bem.