Treinador do Bragança e o jogo com o F.C. Porto: «Vou pedir para alguém gravar»

10 fev 2001, 15:34

Transmissão na TV é uma de muitas novidades Tudo está diferente em redor do Estádio Municipal de Bragança. João Eusébio, o treinador, olha em volta como se duvidasse estar no sítio que visita todos os dias. Vem aí o F.C. Porto e o sonho de entrar definitivamente para história é grande. O treinador é pragmático, mas não esconde que adorava surpreender.

João Eusébio repartia a simpatia por todas as solicitações, sorrindo com a chegada de mais um jornalista, certo que a conversa tinha tema antecipadamente definido. Estava encantado. Com a estranha movimentação após o treino e com as atenções inesperadas. O cenário, até agora desconhecido, parecia-lhe agradável e devia ser aproveitado, pois dificilmente se repetirá nos próximos tempos. A fama passara finalmente por Bragança, vencendo os montes e a interioridade. 

«É tudo novo». O treinador olha em volta e rende-se à evidência. Pedem-lhe uma descrição das últimas horas, resume tudo numa frase e numa expressão suficientemente esclarecedora. «A cidade está a ter uma grande movimentação graças ao futebol», prossegue, lembrando-se por momentos dos jogadores que orienta. «E tudo isto por nossa causa!». O Bragança já fez história na Taça de Portugal depois de eliminar o Varzim e Rio Ave nas duas últimas rondas e, só por isso, já merecia destaque. O sorteio, porém, obriga o F.C. Porto a subir momentaneamente a Trás-os-Montes. O urbano contra o interior. «Pois, há muitas diferenças entre as duas realidades», concorda João Eusébio. «Vamos jogar com aquela que é, na minha opinião, a melhor equipa portuguesa». 

Deco, Capucho, Alenitchev, Drulovic, Pena. João Eusébio escuta e regista a provocação, mantendo uma clareza de ideias rara num técnico de futebol. «Para quê falar em nomes?», interroga. «Destacar alguém seria extremamente injusto, pois são todos muitos bons», lembra, adiantando desde já que jamais tentará anular algum dos jogadores portistas. «Até posso ter atletas preparados para isso, mas tenho a certeza que não era positivo para o espectáculo. A minha equipa tem uma forma de jogar que seria prejudicada se fizesse alterações em apenas dois dias», garante. 

Cabe ao Bragança jogar o seu melhor para tentar que os futebolistas mais influentes do F.C. Porto se confundam. O relvado, em muito mau estado, pode ajudar. O frio da noite transmontana e o calor do muito público esperado serão, por certo, auxílios preciosos. O treinador concorda, mas não atribui grande importância aos condicionalismos externos. «O F.C. Porto é favorito, mas não temos nada a perder». A tristeza ou a alegria serão definidas no instante em que o árbitro mandar as equipas de volta para o balneário. Jamais o Bragança se convencerá sem argumentos fortes. «Vamos disputar um jogo», lembra. «No fundo, ainda há a esperança de voltar a fazer história. Sabemos que é difícil, mas não é uma tarefa impossível. Tenho dito aos jogadores que devem sonhar nestes três dias e depois acordar para o campeonato». 

Treinador há apenas dois anos 

Esta é a segunda temporada que João Eusébio cumpre no Bragança, precisamente o mesmo tempo que tem a sua carreira de treinador. Na estreia, na época anterior, conseguiu a subida à II Divisão B, este ano, com a mesma base de jogadores, está a fazer furor na Taça de Portugal. Nada mau. «Pode dizer-se que estou a começar bem, mas tenho consciência que o mérito é todo dos jogadores, que têm sabido desenvolver bem aquilo que lhes peço». 

O Bragança está a ressurgir após 15 anos de anonimato na III Divisão. A escolha de João Eusébio e a contratação de futebolistas experientes acabou por dar uma maior pujança ao clube. «É um esforço colectivo», explica, «até a Câmara Municipal merece ser destacada, já que tem dado um auxílio que é imprescindível neste tipo de colectividades». Uma conjugação de esforços que tem dado bons resultados. A visita do F.C. Porto é apenas um prémio e um novo incentivo. «Convoquei todos os jogadores», diz João Eusébio. Zé Gomes e Zé Carlos estão em dúvida e Rogério está lesionado. A equipa só será anunciada perto da partida, por isso todos podem sonhar com uma finta a Paredes ou com um carrinho a Pena. Será memorável. «Vou pedir a alguém grave o jogo», diz João Eusébio assim que o barulho das gruas que iluminarão o relvado se faz ouvir.

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