Homem com cancro em fase terminal dá prioridade às viagens e explica porquê

CNN , Francesca Street
29 jan 2022, 07:00
A família Sokolowski em Padar, Indonésia. Fotografia de Kris Sokolowski

Kris Sokolowski sempre foi ativo, passava o tempo livre a fazer escalada na montanha, a correr e a praticar artes marciais.

E sempre que surgia a oportunidade, podíamos encontrá-lo a entrar num avião, a caminho de explorar o mundo. No primeiro encontro oficial com a mulher que agora é sua esposa, Sokolowski comprou bilhetes para a África do Sul, numa viagem de duas semanas. O casal tem um filho de 11 anos, que também embarca nas aventuras.

As atividades de Sokolowski ao ar livre ajudaram-no a manter-se saudável. No último checkup anual, em dezembro de 2020, o médico chamou-lhe “Homem de Ferro”.

Mas seis meses após essa consulta, Sokolowski começou a sentir o que descreve como uma “sensação estranha” no estômago. “Era uma espécie de borbulhar, como quando temos fome. E continuou durante uns dias”, disse à CNN Travel.

Sokolowski foi ao médico e disseram-lhe que provavelmente era refluxo gastroesofágico. Deram-lhe uns comprimidos e mandaram-no para casa. Alguns dias depois, a sensação continuava, então, ele procurou uma segunda opinião e fez uma ressonância magnética, e depois foi aconselhado a ir imediatamente a um especialista em gastrenterologia.

O médico de Sokolowski disse-lhe que tinha uma “grande massa” no cólon e no fígado e que suspeitava ser cancro no estádio 4, a fase mais avançada de cancro que normalmente significa que já se espalhou.

“A minha primeira reação foi, como é possível? Nunca faltei a uma consulta”, relembra Sokolowski.

Mas Sokolowski, com 48 anos, não tinha idade para fazer coloscopias regulares nos Estados Unidos (que desde então baixou para os 45). E até ter aquela sensação no estômago, não tinha tido qualquer sintoma.

Uma ressonância magnética, uma colonoscopia e uma amostra de tecido confirmaram o pior: Sokolowski tinha cancro do cólon de estádio 4.

 “A ressonância magnética revelou o cancro em seis sítios do corpo”, diz Sokolowski. “Estava no cólon, no fígado, no esterno, na coluna, nos nódulos linfáticos e nas paredes do abdómen.”

Os oncologistas disseram-lhe que não havia cura.

“Deram-me entre dois anos e meio e cinco anos de vida.”

Gosto por viagens

Os Sokolowski viajaram para a China em 2015, aqui estão na Grande Muralha. Fotografia de Kris Sokolowski

Sokolowski, que vive em Atlanta, é o primeiro americano da família, descendente de imigrantes polacos. Diz que o gosto pelas viagens vem dos muitos verões que passou na Polónia, quando era criança. Aos 20 anos, começou a viajar sempre que podia, indo regularmente à Europa.

Quando Sokolowski conheceu a mulher, Elizabeth, ambos perceberam que tinham a mesma vontade de conhecer o mundo. O primeiro encontro na África do Sul foi revelador, e seis meses depois estavam casados.

“Quando o nosso filho nasceu, um ano depois, em 2010, assumimos o compromisso de todos os anos o levarmos a outro país”, diz Sokolowski.

Para o casal, é importante mostrar ao filho outras culturas e experiências fora dos Estados Unidos. Desde que ele nasceu, foram a 19 países, e ainda querem ir a mais.

“Ambos trabalhamos em grandes empresas americanas, mas poupamos o ano inteiro e normalmente viajamos durante três semanas, seja na Ásia, no Pacífico Sul, na Europa, onde quer que consigamos ir.”

Solowski diz que ele e a mulher olham sempre em frente. Raramente voltam aos mesmos sítios e concentram-se no que podem fazer para tirar o melhor partido das circunstâncias e planear algo entusiasmante para o futuro.

Aqui, a família em Seul, Coreia do Sul. Fotografia de Kris Sokolowski

Foi com essa atitude que Sokolowski encarou o diagnóstico de cancro terminal.

Ele diz que está a receber a maior dosagem de quimioterapia disponível. Os médicos avisaram-no dos efeitos secundários como fadiga, vómitos, queda de cabelo e perda de peso.

“Eu disse: ‘Sou um homem novo, tenho 48 anos, tenho um filho de 10 anos em casa. Deem-me tudo agora, que sou jovem e forte’”, recorda Sokolowski.

Até agora, os efeitos secundários têm sido mínimos e ele continuou a fazer exercício e a correr regularmente.

"Nunca fiquei doente por causa disso", diz Sokolowski. "Senti alguma fadiga, mas consegui ultrapassar isso. Tudo o que disseram que ia acontecer não se verificou comigo."

Sokolowski e a família cancelaram uma viagem planeada à Islândia no verão de 2021, mas com o passar dos meses disseram-lhe que, contra todas as probabilidades, os tumores estavam a diminuir e ele estava suficientemente bom para poder saltar um dos tratamentos de quimioterapia – que faz de duas em duas semanas – e ir de férias para o estrangeiro.

Nem a covid-19, que apanhou em novembro de 2021, veio mudar os seus planos. Felizmente, Sokolowski estava vacinado e teve apenas sintomas leves.

Os Sokolowski adoram ir ao estrangeiro nas férias. Aqui, a explorar a Eslovénia. Fotografia de Kris Sokolowski

Quando teve autorização para viajar com a família no Natal, Sokolowski ficou encantado.

“As viagens eram a minha prioridade, até em relação à saúde", diz Sokolowski. “Porque era um compromisso que tínhamos assumido quando casámos, era um compromisso que tínhamos assumido perante o nosso filho quando ele nasceu – que todos os anos o levaríamos a outro país. Então, para mim, sempre foi a prioridade número um.”

Sokolowski, a mulher Elizabeth e o filho Braden começaram a planear uma viagem durante o Natal e o Ano Novo. Escolheram uma aventura de três semanas na Polinésia Francesa: Bora Bora, Moorea e Taiti.

Sokolowski viajou com os comprimidos da químio, bem como com uma carta do médico para garantir que podia voltar aos Estados Unidos – “para o caso de haver algum confinamento devido à covid. E a carta só dizia que o Kris tem cancro de estádio 4 e que é dependente da químio.”

Sokolowski tinha escapado a muitos efeitos secundários do tratamento, mas no dia do embarque estava com a chamada síndrome mão-pé, em que a planta dos pés pode ficar muito sensível, formar bolhas e provocar inchaço.

Os Sokolowski raramente vão ao mesmo sítio duas vezes. Aqui, a família numa viagem a Malta. Fotografia de Kris Sokolowski

“Quando estava a correr, antes da viagem, fiquei com bolhas nos dois pés, acho que tinha quatro em cada pé e era muito penoso andar – era quase como andar em cima de lâminas”, diz ele.

“Então, no dia em que fomos para a Polinésia Francesa, passámos por três aeroportos: o aeroporto de Atlanta, LAX e depois no Taiti, e em todos eles tive de andar de cadeira de rodas, porque não conseguia andar, e isso foi complicado.”

Mas Sokolowski diz que chegar a Bora Bora e mergulhar naquelas águas azul-turquesa foi como uma cura instantânea.

Ele diz que deve ter sido da água salgada. Mas Sokolowski também pensa que a felicidade e a alegria que sentiu por estar de férias num sítio lindo com as pessoas que mais ama o animou e lhe proporcionou uns cuidados paliativos preciosos.

Sob um céu quente e azul, a família nadou com tubarões-galha-preta, andou de mota de água, explorou paisagens vulcânicas e relaxou.

“Passámos imenso tempo na água. Nem podia ser de outra maneira. A água é transparente. É de um azul-turquesa que nunca tínhamos visto. Vê-se tudo até ao chão, onde os peixes estão a nadar. E é muito pacífico e relaxante.”

Viver o momento

Kris, Elizabeth e Braden Sokolowski, fotografados na ilha de Moorea, apaixonaram-se pela Polinésia Francesa durante a viagem no final de 2021. Fotografia de Kris Sokolowski

Para Sokolowski e a mulher, era importante serem francos com Braden sobre a doença do pai e, ao mesmo tempo, tornarem a nova realidade mais fácil e darem-lhe apoio.

Sokolowski diz que a família está focada em criar memórias e continuar a incentivar o filho a aproveitar as novas oportunidades e aventuras.

Um dos momentos favoritos de Sokolowski da viagem de 2021 à Polinésia Francesa foi ver Braden a mergulhar com os tubarões pela primeira vez.

“Ele estava um pouco apreensivo por estar na água com tubarões. Mas depois viu-nos a fazer isso e saltou para a água”, diz Sokolowski. “E a primeira vez que um tubarão lhe apareceu à frente e depois deu meia volta e se foi embora – eu estava na água com ele e o olhar dele era… Era de puro entusiasmo, adrenalina e alegria. E eu vi como ele adorou aquilo, nem conseguia sair da água. Foi fantástico.”

Mergulhar com tubarões na Polinésia Francesa em 2021 foi um ponto alto para a família. Fotografia de Kris Sokolowski

Sokolowski ainda tem de levar o filho à Polónia, mas diz que já está na agenda de futuras viagens. Ele queria esperar até Braden ter idade suficiente para entender e aproveitar a viagem ao máximo.

Embora viva atualmente em Atlanta, a família está a pensar seriamente em mudar-se para a Polinésia Francesa, se for possível conciliar isso com o trabalho à distância e os cuidados de saúde.

“Durante 15 dias, tive um sorriso na cara, de orelha a orelha”, diz Sokolowski sobre o tempo que lá passaram. “Acredito mesmo que, se algo pode curar-me do cancro, é levar uma vida positiva feliz.”

Mas onde quer que morem, as viagens vão continuar a ser uma prioridade. Em 2022, a família espera viajar para Pamplona, Espanha, para assistirem à festa anual de corrida de touros - um velho sonho de Sokolowski.

Dar prioridade à saúde e às viagens

Sokolowski espera desafiar as expectativas e as estatísticas e recuperar da doença. No tempo que lhe resta, jurou que vai passar o máximo de tempo possível a explorar o mundo com as pessoas que ama.

“Não sei quanto tempo me resta ainda nesta terra, mas quero deixar boas memórias de viagens e um legado onde o meu filho possa tornar o planeta um pouco melhor.”

Sokolowski tem um blog onde regista as suas experiências com o cancro. Tem um enorme gosto em incentivar pessoas doentes a viajarem, se puderem, e está igualmente empenhado em incentivar as pessoas com mais de 40 anos a fazer uma colonoscopia.

Quando recebeu o diagnóstico, Sokolowski perguntou ao gastroenterologista qual seria o cenário, se tivesse feito a colonoscopia três anos antes.

“Antes mesmo de acabar a frase, ele disse: 'Eu teria retirado alguns pólipos e o Kris não estaria aqui hoje. Não estaríamos a ter esta conversa.' Aquilo deixou-me muito chocado.”

Sokolowski diz que ficar a pensar nesse “e se” não lhe faz bem.

“Eu não olho para trás. Isso não me ajuda. Isto é o que é. E eu só olho para a frente. Só olho para trás para contar a minha história e dizer: ‘Foi isto que me aconteceu. Não deixem que vos aconteça o mesmo.’”

Em vez disso, Sokolowski foca-se em manter-se o mais saudável possível e no desejo de ter mais aventuras com a família.

A mulher Elizabeth diz ao CNN Travel que pensa da mesma forma. “Temos de viver a nossa vida, pois só temos uma. O que nos faz felizes são as memórias que vamos criando.”

Sokolowski acrescenta: “Aquilo que eu sempre disse às pessoas foi para saírem das suas redomas, saírem das suas cidades e irem ver o mundo.”

“Fico espantado com a quantidade de pessoas que não se interessam por viajar – ou que se interessam e dizem: ‘Não podemos fazê-lo’, e inventam desculpas. Parem de arranjar desculpas e viajem.”

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