Marítimo-F.C. Porto, 0-1 (crónica)

18 abr 2001, 20:49

O que vale tanto sofrimento? O jogo não foi tão escaldante como muitos acreditavam que ia ser. A verdade é que chegou a ser entediante. Só na segunda-parte houve alguns momentos a anunciar a mudança, mas foi quando o Marítimo estava em cima do F.C. Porto que surgiu o golo redentor de Alenitchev.

As emoções que toda a gente esperava que fossem fortes, foram quase sempre amorfas e com poucos motivos para a exaltação dos espíritos. A vitória do F.C. Porto na Madeira foi sofrida e ninguém pode apontar o dedo acusador aos jogadores do Marítimo por terem facilitado alguma coisa ao adversário, como tanto se falou ao longo da semana. 

Essa ideia, realmente, não ficou registada neste jogo, porque até restou uma certa sensação de injustiça no resultado. Exactamente quando Alenitchev se cansou de esperar e decidiu tirar do livro de memórias uma jogada genial, os madeirenses estavam quase a chegar à vantagem. Pressionavam o oponente como nunca tinham tentado ao longo do jogo, apostando no contra-ataque como solução para o sufoco forçado pelos portistas. 

O banco do Porto agonizava, saltava a cada passe mais correcto e protestava com o céu quando a bola ia para a bancada. Fernando Santos fumava cigarros atrás de cigarro, Pinto da Costa estava sereno, Paulinho gesticulava, Chainho fazia de apanha- bolas e Aloísio aconselhava a calma, talvez porque fosse o único a esperar que alguém resolvesse a coisa de uma vez só. Quando o russo passou por Dani Diaz, fez a bola furar as pernas de Jorge Soares e só parou quando já podia festejar, Paulinho saltou para dentro de campo e exultou com o momento, como se fosse o herói do dia. 

Sofrer tanto assim pode tornar-se numa doença maligna. Tudo terá passado pelas cabeças dos jogadores, por razões mais do que óbvias. Uns porque não podem perder pontos se querem continuar a acreditar no título, os outros porque queriam que os primeiros permanecessem confiantes nos seus objectivos, tendo em vista a recolha de proveitos evidentes. O golo desfez todas as dúvidas, mas ainda há seis jornadas para disputar e este jogo até poderá nem ser decisivo... 

Estratégia repetida (e falhada) 

O único objectivo de Fernando Santos era vencer, como não poderia deixar de ser. Como era esperado, Ricardo Silva e Drulovic regressaram à titularidade, mas ninguém poderia prever que Maric continuasse no «onze» depois do que não fez com o Salgueiros. O treinador tentava novamente a eficácia do 4x2x4, mas viu-se forçado a mudar constantemente, porque o crota não entendeu bem o esquema (em) português. 

Nada saía bem. Drulovic não era eficaz (falhou duas boas oportunidades), Clayton lutava mas não conseguia fazer tudo sozinho, Capucho parecia bem fisicamente, no entanto sem conseguir ultrapassar o inexperiente Briguel, enquanto que Deco foi passeando alguns passos de magia, entrecortados por comportamentos inúteis. O jogo estava morno, muito fraco, e foi assim quase até ao fim. 

As mexidas que Nelo Vingada foi obrigado a fazer na equipa também deverão ter surpreendido o adversário, embora o treinador do F.C. Porto assegure que a sua estratégia não é aplicada em função da do adversário. De qualquer forma, a inclusão de Briguel e Rui César no «onze» foi inesperada, o que não significa que tenha sido ineficaz, dado que o meio-campo passou a poder contar com maior lateralização através de Albertino e Mariano. 

Regresso ao êxito 

Como pouco ou nada foi conseguido com aquela ousadia inicial de Fernando Santos, o treinador portista regressou ao esquema que tem sido mais natural. Sem Drulovic e Maric, mas com Alenitchev e Pena. A equipa melhorou e em poucos minutos criou três boas ocasiões para fazer golo, sempre sem sucesso. 

Como quase tudo foi mau na primeira parte e houve algumas coisas boas depois do intervalo, nem tudo o que foi positivo surgiu por criação do F.C. Porto. O Marítimo reagiu quando Sumudica já estava em campo e Mariano teve, mesmo, a oportunidade mais flagrante do jogo, quando totalmente isolado em frente a Ovchinnikov atirou ao lado. Pouco depois é o próprio Sumudida a obrigar o guarda-redes a uma defesa pouco fácil. O sinal de reacção quase fez pairar o espectro da derrota sobre o F.C. Porto, só que... aconteceu o tal lance inesperado que resolveu o impasse. 

Os portistas voltam a vencer fora e outra vez sofridamente, só que nesta altura a certeza dos pontos é mais forte do que a satisfação qualquer boa exibição. Exterminados vários fantasmas, resta esperar para ver como é que o Boavista a apenas quatro pontos vai reagir a este súbito assomo de consistência do F.C. Porto.

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