Julgamento Vale e Azevedo: finalmente as perguntas e respostas

23 jan 2002, 16:08

Antigo presidente do Benfica inquirido pelo Ministério Público Ao quinto dia de julgamento, Vale e Azevedo foi confrontado com as interrogações do Ministério Público. Pouco adiantou em relação a argumentos anteriores e garantiu de novo que só alugou o barco Lucky Me.

Ao quinto dia o julgamento de Vale e Azevedo entrou em nova fase. O ex-presidente do Benfica, acusado de 14 crimes de peculato e um de branqueamento de capitais por alegada apropriação de verbas do Benfica referentes à venda do jogador Ovchinnikov, terminou na semana passada de responder aos 150 artigos da acusação. 

Hoje (quarta-feira), no Tribunal da Boa Hora, foi a vez do Ministério Público começar a interrogar o antigo presidente do Benfica, tentando esclarecer eventuais contradições e pontos que não terão ficado claros nas primeiras explicações de Vale e Azevedo. O arguido manteve as versões iniciais, numa sessão pouco esclarecedora, em que quase nada se adiantou ao que já tinha sido dito. 

A Procuradora começou por questionar Vale e Azevedo quanto ao contrato de venda de Ovchinnikov registado no Benfica, referindo o facto de ser vago. O arguido garantiu que não tinha sido ele a redigir o contrato, que tinha sido feito segundo as suas instruções. Como tal, contrariou a tese de que no clube não teriam conhecimento das verbas envolvidas. 

Vale e Azevedo afirmou que foi ele quem conduziu, sozinho, as negociações com Paulo Barbosa para a venda do jogador Ovchinnikov porque José Capristano, vice-presidente para a área do futebol, estava de férias, mas que os montantes envolvidos eram do conhecimento do clube. «Toda a gente sabia dos cheques. Foram entregues ao departamento de futebol, o contrato foi redigido lá, estiveram lá 15 dias e foram tiradas fotocópias», disse, no julgamento. 

O antigo presidente do Benfica, aliás, recorreu à imprensa - que divulgou as verbas aproximadas do negócio - para justificar que ele era do conhecimento dos responsáveis do clube. Curiosamente, a mesma imprensa deixou, mais tarde, de ter credibilidade noutra área do processo. 

Foi quando a Procuradora confrontou Vale e Azevedo com uma notícia de jornal em que o arguido terá confidenciado a alguém a intenção de comprar um barco. O antigo presidente do Benfica desmentiu, disse que nunca foi essa a sua intenção e acusou a comunicação social de falta de rigor e de invenções. 

«Se alugar uma casa no Algarve vou convidar as pessoas a vir a minha casa, não vou dizer para virem à minha casa alugada. Há deduções que se fazem com alguma lógica mas que não têm repercussões na realidade», lembrou. 

O barco Lucky Me ocupou grande parte da manhã. Vale e Azevedo não trouxe grandes novidades, apesar das insistências do Ministério Público, quanto ao que adiantara nos quatro dias anteriores de julgamento, em que respondeu aos 150 artigos da acusação. 

O antigo presidente do Benfica insistiu que apenas alugou o barco, como já tinha alugado outros, e que nunca comprou nenhuma embarcação - embora a empresa Sogifa Investimentos Imobiliários, da qual é accionista, tenha chegado a deter várias. Vale e Azevedo assumiu que estreou o barco Lucky Me, que chegou a estar preocupado com o aluguer porque tinha receio de que o barco não estivesse pronto a tempo em relação à altura em que o alugou - o que acabou por se confirmar, o barco, disse Vale, tinha sido alugado para o fim de Junho e acabou por só lhe ser entregue nos últimos dias de Agosto. 

Através da empresa Vale e Azevedo e associados o antigo presidente do Benfica pagou os seguros da embarcação referentes aos anos de 1999 e 2000. Uma conta em que também movimentava dinheiros do Benfica, mas não só. Vale explicou como funcionavam as três contas da empresa, que incluíam as despesas pagas em nome dos clientes e o dinheiro adiantado pelos clientes para pagamento dessas despesas. Foi em nome de um dos seus clientes, o já famoso David Fordham, que foram pagos os seguros dos barcos, argumentou.  

A Procuradora questionou ainda Vale e Azevedo quanto ao nome da empresa a que foram endossados os dois cheques passados por Paulo Barbosa - a empresa Sogifa Limited. Vale e Azevedo garantiu que tal foi feito com o seu conhecimento mas que quando assinou os cheques para fazer o endosso o nome não estava escrito - terá sido colocado depois pelo banco, argumentou. 

O antigo presidente do Benfica voltou a garantir que ia guardar o anonimato dos investidores da empresa Sogifa Finance até ao fim, independentemente das consequências, como já tinha feito durante a sua resposta aos 150 artigos da acusação, nos primeiros quatro dias de julgamento. 

Vale e Azevedo esclareceu alguns detalhes relacionados com as sociedades das quais era detentor de capital e das quais era procurador, acrescentando que a sua mulher era chefe de serviços administrativos da Vale e Azevedo e associados e justificando assim o facto de ela assinar vários documentos, em casos nos quais havia grande confiança com os representados. 

O contrato celebrado com Paulo Barbosa motivou também uma incoerência de Vale e Azevedo, por falta de memória, justificou. «Quando fui preso a 16 de Fevereiro tinha uma ideia sobre esta operação que depois verifiquei que não correspondia à verdade.» Ao contrário do que supunha, o acordo não foi celebrado no seu escritório de advogados mas sim no Estádio da Luz. O facto de também haver papel timbrado da sua empresa no Benfica terá motivado a confusão. 

O Ministério Público vai continuar a questionar Vale e Azevedo amanhã (quinta-feira), a partir das 9.30 horas. Estão já notificadas três testemunhas para serem ouvidas amanhã, mas é provável que essa audição tenha de ser passada para sexta-feira, por falta de tempo. 

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