Do pesadelo ao alívio num pontapé (França-Espanha)

25 jun 2000, 22:14

Espanhóis perdem (1-2) com penalty falhado à beira do fim Portugal-França, será essa a meia-final de quarta-feira. Na sua segunda meia-final de um Campeonato da Europa, a Selecção portuguesa reencontra a equipa que a afastou na primeira, em 1984.

1984 outra vez. Portugal vai pela segunda vez na sua História à meia-final de um Campeonato da Europa. E pela segunda vez o adversário será a França, depois dos bleus terem vencido a Espanha por 2-1, nos quartos-de-final. 

A esta hora, no entanto, os portugueses podiam estar a estudar castelhano e a ver imagens de Guardiola, Raul e companhia. Venceu a França, mas a passagem da Espanha também não surpreenderia, num jogo com uma grande primeira parte e um final para a História do futebol, daqueles que quando passam numa sala de cinema o espectador não resiste a dizer: Que mau argumentista, não podia ter arranjado nada mais verosímel

O mau filme 

Minuto 89. A Espanha procura desesperadamente o empate, cruzando bolas para a área. Um defesa francês corta, a bola vai a sair para canto, Barthez sai-se para o evitar. Só que deixa fugir a bola, que sobra para Abelardo, defesa-central espanhol que na altura já não saía da área francesa. Mesmo assim, Abelardo está de costas para a baliza, o perigo é relativo, mas Barthez perde a cabeça e em vez de agarrar a bola agarra as pernas do espanhol. Penalty. 

Já custa a engolir, não é? Quem é que se lembraria de fazer um penalty assim, em cima do final do jogo, a vencer por 2-1? Mesmo tratando-se de um jogador da França, país conhecido por fazer os maiores disparates nos últimos minutos dos jogos - ainda não foi esquecido o apuramento falhado para o Mundial de 94: a França estava empatada 1-1 com a Bulgária, resultado suficiente; Ginola, no entanto, no último minuto dos descontos, lembrou-se de centrar em vez de guardar a bola. Os búlgaros recuperaram a bola e Kostadinov (esse mesmo, que jogou no F.C. Porto) eliminou a França com um grande golo. 

Kostadinov deve ter sido o homem de quem todos os franceses se lembraram quando Barthez fez o penalty. Raul teve no seu pé esquerdo a oportunidade de substituir o búlgaro nos pesadelos gauleses. Afinal, quem deverá ter pesadelos com o lance é o avançado do Real Madrid, que rematou por cima. 

A imprensa espanhola, para quem o centro do Mundo parece ser o centro do relvado do Estádio Santiago Bernabéu, referira antes do Espanha-França que o encontro ia decidir quem era o melhor jogador do Mundo: Raul ou Zidane. O espanhol falhou na altura decisiva. O francês marcou o ritmo do encontro e deu-se ao luxo de abrir o marcador. 

Vantagem em cima do intervalo 

Foi aos 31 minutos, num livre marcado de forma soberba, que a França se adiantou. Até aí o encontro fora animadíssimo, com as duas Selecções a procurarem o golo e a criarem muitas oportunidades, os franceses graças à boa troca de bola e de posições dos seus homens mais avançados, os espanhóis apoiando-se na velocidade de Munitis e Raul. 

A Espanha não acusou o golo de Zidane e empatou seis minutos depois, de penalty, por Mendieta. 

Só que um grande trabalho individual de Vieira, a dois minutos do intervalo, permitiu que Djorkaeff surgisse sozinho na área, do lado direito. O atacante gaulês não perdoou e fez a França ir para o balneário em vantagem. 

Franceses controlam 

No segundo tempo o jogo mudou radicalmente. A França deixara por uma vez fugir a vantagem no marcador e apareceu decidida a que isso não se repetisse. Pressionou o meio-campo espanhol, especialmente Guardiola, e impediu que o adversário se acercasse da baliza. 

Os espanhóis bem tentaram, assumiram a responsabilidade de virar o resultado, mas tiveram muitas dificuldades para chegar à área contrária. A qualidade e o interesse do jogo caíram, a emoção quase desapareceu, antes do clímax final. 

A França está nas meias-finais, com justiça, pela inteligência revelada em 89 minutos do encontro, mas também com muita sorte, porque o minuto de cabeça perdida acabou por não ter consequências. 
 

FICHA DE JOGO 

França, 2-Espanha, 1 

Estádio Jan Breydel, em Bruges (Bélgica)

Árbitro: Pierluigi Collina (Itália) 

França: Barthez; Thuram, Desailly, Blanc e Lizarazu; Vieira e Deschamps; Djorkaeff, Zidane e Dugarry; Henry (Anelka, 80 m).

Treinador: Roger Lemerre. 

Espanha: Canizares; Michel Salgado, Abelardo, Paco e Aranzabal; Guardiola e Ivan Helguera (Gerrard, 76 m); Mendieta (Urzaiz, 56 m), Raul e Munitis (Etxeberria, 72 m); Alfonso.

Treinador: José António Camacho. 

Ao intervalo: 2-1

Marcadores: Zidane (31 m), Djorkaeff (43 m); Mendieta (37 m, de penalty)

Disciplina: Cartão amarelo a Deschamps (60 m); Alfonso (55 m), Guardiola (61 m), Michel Salgado (63 m) e Paco (70 m).

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