Boavista-Marítimo, 0-1 (crónica)

21 mar 2001, 21:30

Jogar comprido... sem cumprir O Boavista jogou comprido de mais num campo curto. Ou seja, foi ansioso de mais, rápido de mais para um relvado mais ensopado do que os casacos dos espectadores. O estado de terreno exigia prudência, mas a ansiedade tramou a equipa do Bessa. O Marítimo chega à final da Taça de Portugal, tal como em 1994/95, e praticamente assegurou a presença na Taça UEFA. Basta o F.C. Porto e o Sporting ficarem entre os três primeiros lugares.

Jogar comprido num campo curto pode parecer uma chalaça, mas corresponde à mais pura das verdades. O Boavista começou como sempre, mas acabou como nunca tinha terminado um jogo, com os nervos em franja, as emoções a falarem mais alto do que a própria razão e o público em constante alvoroço. Esta época, não há memória de um final assim, dramático e triste, para uns, alegre e eufórico para outros.  
 
A explicação para a eliminação da Taça de Portugal tem a ver com muitos factores. Mas tudo se pode resumir à tal questão do comprido e do curto, do espaço e da ausência dele, do discernimento e do nervosismo. E por aí fora. No fundo, tudo se reduz à sucessão de antíteses perfeitas, num jogo que significava muito para as duas equipas, a presença no Estádio do Jamor.  
 
Pormenor importante: o estado do terreno obrigava a jogar curto, quase de uma forma racional e milimétrica, porque os erros sairiam muito caro. O relvado estava mais encharcado do que os casacos dos espectadores e aconselhava prudência, ou seja, desarmes planeados e passes pensados, curtos e bem medidos. Especialmente isto, com o cálculo certo e exacto.  
 
Tolhido pela própria ansiedade  
 
O Boavista entrou como sempre, como um animal furioso na arena, à procura do golo. Por norma, a equipa do Bessa costuma marcar cedo, mas a prece foi diferente. Os jogadores quiseram fazer tudo num minuto, fintar, correr, passar e marcar. E quando a ansiedade é mais forte do que a própria razão a derrota pode acontecer. Aconteceu mesmo.  
 
Porém não se pode culpar os axadrezados de nada, porque estiveram sempre mais perto do golo. Produziram mais, muito mais, do que o adversário, nunca viraram a cara à batalha, mas a vida tem destas coisas. Também quando se luta de mais perde-se objectividade, porque quantidade nem sempre significa qualidade, apesar do Marítimo não ter sido particularmente brilhante.  
 
O Boavista morreu na praia, tolhido pela sua própria ansiedade de chegar à final da Taça de Portugal. Era o sonho de Jaime Pacheco, aliás tinha sido o objectivo assumido e sublinhado por todos desde o arranque da temporada. De nada valeu, porque a vontade e o querer nem sempre são o sinónimo de vitória. Porquê? Vamos lá explicar o êxito do Marítimo.  
 
Teia madeirense  
 
Falemos da equipa madeirense. Nelo Vingada parece ser um mestre em arquitectar esquemas tácticos capazes de inquietar o adversário. Os jogadores entraram soltos no terreno, descomplexados, conscientes de que a vitória era possível e de que o Estádio do Jamor era o destino final de um sacrifício prudente, aliás como sucedeu na época 1994/95.  
 
A defesa foi sempre rigorosa, ou melhor, certinha e tranquila; o meio-campo elástico, prático, a jogar ao primeiro toque, em passes curtos, em corridas ponderadas; o ataque foi o somatório dos outros sectores, ou seja, ainda mais tranquilo, ainda mais racional, mas muito, muito atrevido. A diferença também esteve aqui.  
 
O relógio chegava à meia hora quando Porfírio combina com Mariano, Mariano combina com Porfírio, devolução e... falta! Petit assina a sentença de morte. Frio e tranquilo, Paulo Sérgio marca o único golo do encontro, de livre directo, no qual o guarda-redes William podia ter feito melhor. Parece estar mal colocado na baliza, pelo menos esta é a sensação de quem está na bancada.  
 
Depois é a história do costume. O Marítimo recuou longos metros e o Boavista atirou-se para o adversário com unhas e dentes. Tal e qual como no início no jogo. Se calhar, o mal foi mesmo esse: as unhas serem demasiado grandes e os dentes afiados de mais. O relvado e a chuva também não ajudaram nada, note-se bem.  
 
A segunda parte foi uma fotocópia do último quarto de hora. Os axadrezados a correr, a correr e somar oportunidades falhadas; os madeirenses a defender de forma pausada, quase a provocar o adversário. Era uma questão de gerir o tempo e o estado psicológico do opositor, talvez por isso os jogadores exageraram na forma como iam queimando os minutos, demorando tempo de mais no solo quando recebiam assistência médica.  
 
Bem no final, há dois lances capitais. Demétrios e Duda falham golos escandalosos. Remates à queima, mas por cima da barra, com a baliza à mercê. Águas passadas para o Marítimo, que praticamente assegurou a presença na Taça UEFA. Basta o F.C. Porto e o Sporting, adversários do outro encontro da meia-final, ficarem entre os três primeiros lugares do campeonato. O Benfica também sai prejudicado nesta matemática. E de que maneira! Isto se não ficar em quarto lugar.  
 
Da arbitragem nada a dizer. Nada que tivesse influenciado, directamente, o resultado.

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