Clermont Foot-F.C. Porto, 0-1 (crónica)

18 jul 2002, 20:48

Dois extremos muito opostos Uma caricatura feia na primeira parte, um quadro colorido no segundo tempo. Reportagem em França.

Duas partes completamente distintas. Se no primeiro tempo o F.C. Porto foi uma sombra assustadora de uma caricatura sem expressão sorridente, depois do intervalo transformou-se completamente e assinou uma excelente exibição. Há motivos para isso. Deco entrou em campo, desenhou lances de génio, foi o herói das mil e uma noites, contagiando a equipa com o seu ritmo e a sua criatividade - aquilo que falhou na primeira parte e levou o Clermont Foot a sonhar com um resultado positivo.

Mas no seu todo, o jogo e a exibição dos azuis e brancos podia ter sido melhor. Nota-se que os futebolistas ainda não estão completamente mecanizados, não há um elo de ligação em determinados momentos, mas tudo muda quando alguém assume o risco, tem a bola nos pés e é capaz de fazer coisas mirabolantes. Deco, claro. Foi um dos responsáveis pela melhoria significativa no segundo tempo, ao contagiar os colegas com a sua precisão praticamente em tudo, até quando estava parado. Deu ritmo, transmitiu confiança, ergueu o dragão. Sem dúvida.

Foram dois extremos muito opostos. De um lado, uma equipa ansiosa e nervosa - aquela que entrou na primeira parte, a fazer algumas faltas e com o próprio César Peixoto a ver um cartão vermelho na sequência de uma entrada dura. O F.C. Porto só não ficou reduzido a dez, porque o jogo era particular e entrou de imediato Derlei para equilibrar os pratos da balança em termos numéricos. Aspectos que têm de ser resfriados, na medida em que José Mourinho instaurou um processo novo, assente em regras disciplinares. Exibe cartões aos jogadores nos treinos à porta fechada, uma tentativa de refazer os ânimos mais exaltados, mas, para já, está a sortir poucos efeitos já que também Cândido Costa tinha sido expulso no desafio com o Rouen.

Espaço fechado

Na primeira parte, o F.C. Porto procurou jogar ao primeiro toque, de uma forma simples, de forma a ganhar espaços, que nem sempre aconteciam. A bola raramente chegou à frente e Jankauskas foi sempre um avançado sem companhia e sem chama. O ritmo do desafio era baixo e o meio-campo nem sempre conseguiu abafar a forte estrutura física do adversário. Isso trouxe algumas consequências: sem capacidade de destruir, a iniciativa para chegar à frente era mínima e praticamente não houve um lance com princípio meio e fim. Praticamente, o guarda-redes do Clermont Foot não fez uma única defesa. Praticamente...

Os azuis e brancos ainda tentavam pressionar, fechar o espaço, dando a entender que podiam ter uma participação mais positiva no jogo, mas o adversário era mais acutilante - tinha o apoio do público -, mas também não conseguia criar oportunidades de perigo real. A ansiedade era latente, as faltas eram evidentes. Mas como um sonho mau, enfim, como um pesadelo, tudo terminou, precisamente depois do intervalo.

Abrir, abrir, abrir...

... o espaço. Curiosidade: o treinador do F.C. Porto não tirou a equipa inicial como tinha prometido. Manteve dois jogadores - Ricardo Costa e Ricardo Carvalho - e tirou alguns dividendos disso. Os dois centrais assinaram uma exibição de luxo e se no primeiro tempo anularam as investidas contrárias, na segunda parte foram ainda mais sólidos com Ricardo Costa a assumir a sua presença de forma extraordinária. Quem sabe não será ele o substituto de Jorge Andrade num tempo muito próximo. Marcou um golo - parece ter sido mal anulado -, esteve na jogada do remate certeiro dos azuis e brancos (82m) ao assistir, de cabeça, Derlei na sequência de um livre de Deco.

E Deco. O artista. Três remates de grande intensidade, um verdadeiro dínamo no meio-campo, cheio de presença em todas as frentes. Agitou as bandas, levou Derlei ao golo e fez com que o seu compatriota se tivesse destacado. Esta equipa do segundo tempo foi mais rápida, mais incisiva sobre a bola, enfim com uma atitude maior e mais constante porque abriu espaços e esfrangalhou uma equipa que foi perdendo motivação à medida que o tempo ia passando. Deco. E ponto final.

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