F.C. Porto-Juventus, 0-0 (crónica)

10 out 2001, 22:15

Nem jogar bem foi suficiente Com uma equipa assim só há duas ou três oportunidades de fazer a vida sorrir. Quem não aproveita não deve queixar-se. O F.C. Porto sabe-o.

Decepcionante? Sim, porque o F.C. Porto não conseguiu ter todas as boas armas de que dispõe ao mesmo tempo e ainda assim esteve perto, muito perto, de encostar a Juventus às cordas. Mas sabe-se como é, um adversário destes não dá a quem o defronta mais do que duas ou três oportunidades de ser feliz. E os de azul não conseguiram sê-lo. 

O pior deste empate seco é significar a queda do F.C. Porto para uma posição incómoda e para o aborrecimento de ter mesmo de vencer o Celtic na próxima semana. Vistos bem os 90 minutos da partida com a Juventus não se pode dizer que o equipa de Octávio Machado tenha feito muito para alterar este momento da história. Mas chegou a parecer que faria o suficiente. Ilusão. 

O começo do F.C. Porto, por exemplo, foi muito bom. Ou terá sido a «Juve», por essa altura mais velha do que senhora, que entrou mal. O resultado foi o mesmo. Domínio azul, muita liberdade para Capucho e cedo um sinal claro: ali não morava inspiração. Os passes saíam mal, sobretudo os últimos, aqueles que desequilibram. 

O jogo rapidamente mudou de flanco. Clayton, esta noite uma surpresa na esquerda, dispôs de estranha liberdade. Mas nunca foi capaz de a aproveitar. Com boa dinâmica e com bom Deco, os que moravam em casa chegavam sem dor aos flancos. Parecia que o mais difícil estava feito. Sim, parecia, mas não estava. Dali para a frente era quase um deserto. 

Já se percebeu que não era dia de Capucho, muito menos de Clayton. E Pena? O avançado do F.C. Porto conseguiu ser o pior da equipa que mais tinha a bola, de uma coerência arrepiante: só não foi mau do princípio ao fim porque Octávio o retirou antes da metade da segunda parte, poupando-o aos assobios que já se ouviam. 

Insuficiente foi mesmo a palavra 

Não de repente, o F.C. Porto ficou com um problema inesperado para resolver. Tinha o jogo do seu lado, com mais facilidade do que esperaria, e pela frente um adversário que parecia inofensivo, certamente por nessa altura Jorge Andrade, Ricardo Carvalho e todos os colegas do lado jogarem tão bem. Tinha isso tudo, mas não tinha quem «matasse». Era, enfim, uma equipa insuficiente. Graciosa no jeito de andar, triste quando era preciso ser «macho». Para piorar, na Juventus só Thuram fez questão de jogar para o nome que tem e quando o faz costuma ser o melhor do Mundo. 

Octávio deve ter ido para o intervalo a pensar que ou os da frente se inspiravam ou ía ter vida difícil. O que não esperava era que o filme mudasse tão depressa. No balneário, Lippi emendou o que estava mal e não era pouco. Pessotto passou para médio esquerdo e Davids foi mais para o meio. Assim, de uma vez só, a Juventus conseguiu controlar Ibarra e Deco. 

O brasileiro continuou a ser o ponto de referência, mas nada que se parecesse com a alegria da primeira parte. Não por acaso, a Juventus teve então a sua oportunidade de ganhar. Mas também falhou, pelo que somou o 11º jogo sem vencer fora na Liga dos Campeões. 

O F.C. Porto era agora uma equipa intranquila no meio-campo, embora nunca insegura lá atrás. Continuava a faltar-lhe tudo. Aliás, faltava-lhe mais a cada minuto, pois Deco passara a estar controlado. Por esta altura, Octávio mexeu. Bem. Primeiro colocando a energia de Hélder Postiga no lugar da inépcia de Pena, depois substituindo Paredes por Soderstrom. A primeira foi boa, a segunda resultou indiferente. A terceira teria sido perfeita se o treinador portista tivesse optado por Clayton em vez de Capucho. 

Mas mesmo assim a equipa agradeceu. Com o russo em campo, o F.C. Porto voltou a ter bola. E também frescura e mais um motivo de preocupação para os italianos, que assim libertaram Deco. Chegaria? Por essa altura, com 15 minutos pela frente, o F.C. Porto carregava e carregava. Mas não, era tarde, demasiado tarde. 

Tão tarde que apesar de todo o domínio até ao final, a última oportunidade capaz de responder pelo nome foi de Hélder Postiga, a passe de Capucho, aos 73 minutos. Insuficiente é mesmo a palavra que bate certo com o F.C. Porto desta quarta-feira. Resta lamentar que a transpiração da maioria não tenha sido o complemento indicado para a inspiração de poucos. Frente a equipas como a Juventus a vida não costuma sorrir mais do que duas ou três vezes. É uma lição a recordar mais tarde.

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