Varzim-Salgueiros, 0-0 (crónica)

6 jan 2002, 17:46

Pouca alma e muito sofrimento O nulo dá conta da pobreza do espectáculo, mas não contempla a vontade que o Varzim, apesar de tudo, mostrou. Os poveiros recusam-se a aceitar fatalismos, só que a falhar como falham dificilmente poderão sonhar.

Um jogo que, numa escala de 1 a 5, só teve notas atribuídas aos jogadores entre o «2» e o «3» não pode ter sido bom. E não foi, de facto. Chegou a ter momentos interessantes, é certo, mas infelizmente eles duraram pouco. Muito pouco. Claro que há explicações para essa frustração: o Varzim é último, anda com a moral em baixo, os níveis de inquietação são elevados... Dificilmente poderia oferecer um espectáculo mais agradável à vista. Já do Salgueiros se esperava bem mais.  

O facto de o resultado ter ficado em 0-0, por si só, não quer dizer tudo. Há jogos que terminam em nulo mas que até mostram bons espectáculos. Não foi o caso. Desta feita, o nulo quase foi sinónimo de nulidade. Só não o foi por completo graças à generosidade varzinista, que em alguns momentos da partida chegou a proporcionar jogadas de perigo e alguma emoção. Mas foi sempre sol de pouca dura. A regra deste jogo foi ritmo lento, perdas de bola e uma estranha indefinição mútua sobre como se deveriam desenvolver as jogadas de ataque. 

O resultado está à vista: períodos longos, sobretudo na segunda parte, de futebol próximo de «dez à hora», jogadas lateralizadas, passes falhados... Grande parte da culpa foi do conjunto visitante que, bem mais tranquilo na tabela que o opositor poveiro, não quis arriscar mais do que o q.b. O Salgueiros contentou-se com pouco ¿ o empate, neste caso ¿ quando tinha argumentos suficientes para tentar, com um alto grau de probabilidades de sucesso, a conquista dos três pontos. Mas para que isso acontecesse, os salgueiristas precisavam de ter mostrado muito mais ambição ofensiva. Em vez disso, denotaram carências nesse sector, revelando um Toy muito perdulário e a acusando em demasia a saída forçada de João Pedro, que se lesionou a meio da partida. 

A vontade ia sendo premiada 

Os primeiros minutos do jogo foram enganadores. O Salgueiros parecia disposto a fazer uma partida de ataque e criou duas boas jogadas em apenas cinco minutos. Só que o Varzim não se retraiu, reagindo à aparente vontade salgueirista de mandar no jogo.  

Em poucos minutos, a tendência inverteu-se. Primeiro, num remate de Mariano, por cima da barra; depois num lance que Paulo Piedade quase batia Rui Correia. Era o aviso para a melhor ocasião criada pelo Varzim em todo o jogo: aos 22 minutos, Marco Freitas serve Prokopenko. O russo cabeceia, mas à barra. Definitivamente, a sorte não está com o Varzim. Mas o poveiros não queriam desistir, prosseguindo na melhor fase que este jogo mostrou: entre os 15 e os 40 minutos, altura em que a equipa da casa criou boas situações. Mas o problema foi sempre o mesmo ¿ a concretização. E nesse plano, Prokopenko tem algumas culpas no cartório.  

José Alberto Costa decidiu mexer ao intervalo, mas o facto é que a segunda parte foi bem pior. Saiu Prokopenko, entrou Olivier Pickeu. Só que o francês nada mostrou de novo. Com o passar do tempo, os da casa foram perdendo a fé. O Salgueiros podia ter aproveitado a desaceleração varizinista, mas a falta de ambição que mostrou ao longo do jogo não merecia, de forma alguma, ter sido premiada com a vitória. 

Para o lado... porquê? 

A saída de João Pedro foi um rude golpe que os salgueiristas nunca souberam compensar. Se a equipa já não apresentava um caudal ofensivo muito famoso, então depois da lesão do extremo, foi quase o descalabro. Passes para o lado e momentos próximo do surrealismo em que os jogadores visitantes não tinham bem a certeza se era para atacar: Carlos Manuel punha as mãos à cabeça. 

Contas feitas, dificilmente o desfecho poderia ser outro. Mas fica a ideia de que com um pouco mais de felicidade ¿ que é coisa que tem faltado esta época na Póvoa ¿ o Varzim poderia ter ganho.

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