Histórias de devoção

5 jun 2000, 07:44

Especial Sporting

À parte a loucura que invadiu as ruas do país após o apito final de Jorge Coroado no Salgueiros-Sporting, numa festa que se prolongou noite fora, a quebra do longo jejum de 18 anos deu lugar a variadíssimas manifestações de apego ao clube por parte de adeptos leoninos. E a festa começou muito antes da garantia da conquista. Mais exactamente na semana que antecedeu o Sporting-Benfica. Recordemos algumas histórias que trouxeram mais colorido aos dias da decisão:  
  
 
Filas intermináveis - Foi o que os interessados em bilhetes para o "derby" que podia decidir o título foram obrigados a aguentar no Estádio José Alvalade desde o início dessa semana. Sendo que a maioria dos que ali acorreram teve de contentar-se com o sofá da sala ou a cadeira de um café, já que os ingressos esgotaram-se num ápice. Na terça-feira, 2 de Maio, uma das filas contornava o estádio, outra estendia-se até Telheiras. E nem na Luz, um dia depois, faltaram sportinguistas "disfarçados". O fim justificava os meios.  
 
Vídeo esgotado - Em semana de recepção ao maior rival de sempre, nada como recordar a maior goleada da história dos "derbies". Terá sido isso que pensaram os apaniguados leoninos que esgotaram o "stock" de cassetes vídeo com as imagens dos famosos 7-1 de 1987. O "filme" de 6 de Maio de 2000 é que acabou por ser um pouco diferente...  
 
Ecrã gigante nos Açores - Os custos da insularidade podem sempre ser minorados. É o que terá pensado a Câmara Municipal de Ponta Delgada, que mandou instalar um ecrã gigante numa praça da cidade a fim de que todos os interessados da ilha de São Miguel pudessem seguir o clássico em comunidade.  
 
De Angra a Paranhos - Se para alguns açorianos o "brinde" do município micaelense já foi bem bom, outros houve cujo amor ao Sporting exigia muito mais. Foi o caso de um habitante de Angra do Heroísmo, com apartamento à beira de Alvalade, que viajou até Lisboa para ver o Sporting-Benfica. A equipa não ganhou e ele não se fez rogado: esperou mais uma semana e deslocou-se ao Estádio Engº Vidal Pinheiro, onde enfim festejou.  
 
O café mais barato do Mundo - Serão poucos os que nunca ouviram falar do estabelecimento cujo proprietário prometeu, há anos, não aumentar o preço do café até que o Sporting fosse campeão. O senhor entretanto morreu, mas a mulher, também sportinguista, não deixou cair a promessa. O resultado, claro, foram anos de prejuízo, já que a bica ainda se vendia a 25 escudos. Na hora da festa, o Café Brasil, em Coimbra, manteve o preço inalterável durante mais uns dias. Na viagem de Paranhos para Lisboa, José Roquette fez questão de parar na Rua do Brasil e beber dois cafés: um ainda ao preço do jejum e o outro com o sabor a vitória.  
 
Corte de cabelo à borla - Na mesma rua coimbrã, João Duarte é dono de um cabeleireiro. "Leão" convicto, prometeu que se o Sporting batesse o Benfica e se sagrasse campeão abriria de imediato o estabelecimento e cortaria cabelos à borla durante 24 horas seguidas. Terá sido só questão de adiar a tarefa por uma semana...  
 
Caldo verde, vinho e broa - Um pouco mais para Norte e para dentro do país, o dono de um restaurante prometia uma semana de caldo verde, vinho verde e broa de milho de graça para quem entrasse na casa. Os que passaram por Viseu e sabiam da "promoção" devem ter aproveitado.  
 
Camping Alvalade - Dois amigos de coração verde, um do Porto e outro de Castelo Branco, decidiram pura e simplesmente acampar junto ao Estádio José Alvalade na semana que antecedeu o encontro com o Benfica. E prometiam, na altura, ficar o tempo suficiente para seguirem os trabalhos de preparação da final da Taça, seguindo então para o Jamor na hora do jogo com o F. C. Porto.  
 
Descalço na Madeira - Ricardo Sousa, jovem de 22 anos que dificilmente se recordará da festa de 1982, foi ainda mais arrojado. Natural da África do Sul, este habitante do Funchal prometeu que se o Sporting conquistasse o título iria a pé, descalço, da capital da Madeira até ao Terreiro da Luta, onde depositaria uma vela aos pés de uma estátua de Nossa Senhora da Paz. São 20 quilómetros...  
 
O homem dos foguetes - Vitorino Alves não podia abandonar o seu posto. Por mais vontade que tivesse de ir a Alvalade ver o Benfica ou depois ao Porto presenciar o desafio com o Salgueiros, tinha de ficar em Estremoz para cumprir uma missão que vem de longe: atirar foguetes quando o Sporting conquista algo. E a 14 de Maio lá troou a pólvora nos céus do Alentejo.  
 
"Forcinha" de Manchester - Peter Schmeichel, figura de proa do reconquistador Sporting, deixa saudades por onde passa. Que o digam os fãs do Manchester United. No site oficial do clube inglês, a derrota com o Benfica não passou despercebida e na sua sequência ficou uma mensagem de alento para o gigante dinamarquês tendo em vista o jogo decisivo de Paranhos: «Cruza os dedos, grande homem».  
 
Fabricante a esfregar as mãos - A célebre anedota dos sportinguistas a esfregar as mãos profetizando o estafado «para o ano é que é» passou de moda. Com verdadeiras razões para esfregarem as mãos, mas de contentes, ficaram os donos da Reebok. A marca que equipa o Sporting terminou a época com os "stocks" de equipamentos esgotados e muito dinheiro em caixa.  
 
Ameaças de morte - Como bom filme de suspense que foi, o Campeonato 99/2000 não podia terminar sem ameaças de morte. Quem terá achado pouca piada foram Augusto Inácio e alguns jogadores, alvos preferidos de brincalhões ou... desesperados. Inácio mostrou à imprensa uma carta a prometer um tiro por cada golo do Sporting em Paranhos e deixou o desejo: se assim fosse, então que levasse cinco tiros. Falhou por um.  
 
A barba saiu ou não? - Pouco dado a aparições públicas tem andado Dias Ferreira, o conhecido advogado que ainda cumpriu parte da temporada como assessor da SAD leonina. Dava jeito que fosse visto, para se poder comprovar o cumprimento da promessa de cortar a barba que é sua imagem de marca há anos e anos.  
 
Nos quatro cantos do globo - Onde há portugueses - e sabe-se que os há um pouco por toda a parte - o título leonino não passou despercebido. Da América a Timor, passando pela África e pela Índia, os festejos que animaram Portugal tiveram variadíssimas réplicas. Em Newark, onde se concentra a maior parte da comunidade portuguesa dos Estados Unidos, está a ser preparado para meados de Junho, depois do dia de Portugal, o "Dia do Sporting". Segundo a agência Lusa, a ideia partiu do Lar dos Leões de New Jersey e, além dos deste estado e do de Nova Iorque, teve acolhimento junto de sportinguistas radicados em Connecticut, Massachussets e Pensilvânia. 

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