"A crise energética ainda não acabou”: preocupações com oferta e procura de gás pressionam preços

ECO - Parceiro CNN Portugal , Ana Batalha Oliveira
20 jun 2023, 08:29
Gás, preços, inflação, energia. Foto: Artur Widak/NurPhoto via Getty Images

“A alta dos preços do gás na Europa nos últimos dias evidencia também que a crise energética ainda não acabou”, alerta o economista sénior Paulo Rosa

Há vários fatores que continuam a pressionar os preços do gás. Depois de o preço dos contratos na Europa ter disparado na semana passada, os analistas contactados pelo ECO/Capital Verde apontam um episódio de volatilidade que pode voltar a repetir-se, embora a maioria não acredite que os preços retornem aos máximos registados em 2022.

“Embora possamos ter episódios de elevada volatilidade e tensão de preços, como o que ocorreu na semana passada, um cenário de preços como o do verão passado tem uma probabilidade de ocorrência baixa”, indicam os partners da Expense Reduction Analysts, João Pontes e Manuel Velazquez.

A recente volatilidade “apenas mostra o equilíbrio instável entre a oferta e a procura” pois, na ótica destes porta-vozes, “os fundamentais da oferta são iguais ou piores do que no ano passado”. No entanto, algumas condições tornam “improvável” o regresso a níveis de 2022. Por um lado, apontam, a Europa demonstrou que tem capacidade para preencher as suas reservas com fornecimentos de Gás Natural Liquefeito (GNL). Por outro, a procura europeia de gás ainda não recuperou. Parte desta procura destruída pode ser temporária ou permanente, mas não se registou qualquer recuperação com preços baixos.

“O mercado começa a preocupar-se com o fornecimento de gás da União Europeia”, identifica Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. É que, “apesar do armazenamento ser excecionalmente elevado para esta época do ano”, estando a União Europeia (UE) a caminho de cumprir a sua meta de stocks de gás, ou seja, atingir uma armazenamento de 90% em novembro, “o mercado receia que a procura de curto prazo possa penalizar esse plano”.

"A nossa perspetiva continua a ser a de um mercado extremamente volátil, no qual devemos aproveitar as descidas para tomar posições e reduzir o preço, tanto para o próximo inverno, como para o conjunto de 2024", indicam João Pontes e Manuel Velazquez, partners da Expense Reduction Analysts.

Os preços têm sido impulsionados por previsões de um clima mais quente e interrupções de fornecimento em campos chave na Noruega, além do anúncio de que a decisão de fechar o campo de gás holandês será tomada no final deste mês, enumera Paulo Rosa, considerando que a recuperação da cotação do gás “é habitual em termos técnicos depois de uma queda à volta de 90% desde os máximos”. No entanto, “a alta dos preços do gás na Europa nos últimos dias evidencia também que a crise energética ainda não acabou”, atira.

A ActivTrades acredita que os preços daqui para a frente dependerão essencialmente “da variável climática”: “temperaturas menos amenas, tanto no verão como no inverno, levarão a um aumento do preço”, prevê o analista Mário Martins. Segundo o mesmo, o retorno a níveis de 2022 é possível, dependendo da evolução do clima.

Seja qual for o desfecho dos preços, mais certa é a volatilidade. “A nossa perspetiva continua a ser a de um mercado extremamente volátil, no qual devemos aproveitar as descidas para tomar posições e reduzir o preço, tanto para o próximo inverno, como para o conjunto de 2024”. “A Comissão Europeia recomendou aos diferentes Estados-Membros a supressão das medidas de apoio para evitar a crise energética, dando a impressão de que o Executivo europeu pensa que a crise foi ultrapassada. Do nosso ponto de vista, esta decisão deve ser reconsiderada, uma vez que o equilíbrio entre a oferta e a procura é frágil”, reforça.

Fecho de campo holandês

Nas últimas duas semanas, os preços do gás natural para o próximo inverno e para o ano de 2024 aumentaram significativamente, cerca de 50% e 25%, precisa a Expansion Reduction Analysts. O intervalo de oscilação tem sido muito amplo, com mínimos de cerca de 25 euros por megawatt-hora (MWh) e máximos que entre os 50 e 60 euros por MWh, em movimentos intradiários.

O preço dos contratos de gás natural que são referência para a Europa, os holandeses Title Transfer Facility (TTF), dispararam 24% na quinta-feira passada, no mesmo dia em que a Bloomberg noticiou que o maior campo de gás da Europa, nos Países Baixos, deverá encerrar este ano. Fontes da agência noticiosa apontaram que o objetivo é fechar em outubro, embora ainda decorram negociações. A decisão espera-se que seja tomada no fim do mês.

O Banco Carregosa acredita que “um adiamento do encerramento para 2024 será o mais prudente”, enquanto a Expansion Reduction Analysts admite que, se se verificar “um verão de tensão nos preços, a decisão possa ser reconsiderada”. Mas, de momento, não preveem que tal aconteça. Também a ActivTrades afirma que “a opção deverá ser pelo encerramento”, pois, embora não seja “a escolha mais interessante para os europeus e para a estabilidade dos preços”, a eventualidade de terramoto que este campo apresenta e que serve de motivo para as intenções do Executivo holandês representa um risco muito elevado em termos políticos.

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