Fundão, quando a interioridade não é inferioridade

6 mai 2014, 10:16

Vencedor da Taça de Portugal em futsal segura a bandeira da região. Festa apoteótica na cidade após a vitória sobre o Benfica

No Fundão a noite de domingo foi passada em branco e não pelas razões mais óbvias, como a serra da Estrela ou a cereja. A cidade celebrou o primeiro grande título da sua equipa de futsal, que suplantou o gigante Benfica para conquistar a Taça de Portugal. A equipa teve direito a tudo: celebração em Oliveira de Azeméis (onde decorreu a final four) com dezenas de adeptos, receção apoteótica na Câmara Municipal e festa de arromba com centenas de pessoas que não se cansaram de cantar o nome do clube.

«Pouco se dormiu» desabafa Joel Rocha, o artífice deste feito, um jovem treinador de 32 anos que não entra em euforias e que terá sido o mais sereno logo após o triunfo sobre os encarnados no prolongamento (7-6). «Histórico», «orgulho» e «competência» são alguns dos adjetivos usados e repetidos um dia depois do feito.

«Sinto-me como me sentia na quinta-feira (antes da final). Privilegiado e orgulhoso por poder ter estes jogadores, um grupo de trabalho que tem muito mais gente do que o treinador», começou por articular em conversa com o Maisfutebol
, disposto a manter um discurso pragmático e longe de euforias incontidas: «Sinto alegria pelo resultado, que é o culminar de quem acredita muito no que faz. Somos um grupo humilde, responsável e competente e mostrámos que não são as camisolas que ganham jogos, mas o que está dentro delas». Frases ideais para motivar a equipa e que continuam válidas após a vitória.

Fundada a 23 de Abril de 1955, a Associação Desportiva do Fundão nasceu da fusão do Sporting, do Benfica do Fundão e do Hóquei Clube do Fundão. Só em 2006 a equipa de futsal conseguiu chegar à I Divisão, mas tem vindo a sedimentar estatuto neste escalão e após a conquista da Taça podem ser dados passos mais ambiciosos no campeonato.

A conquista lançou as gentes do Fundão para a rua, como partilhou o clube nas redes sociais.


Também já surgiram vários vídeos de adeptos em que é possível conferir o ambiente com direito a «We are the champions» e muitos gritos de «campeões, campeões, nós somos campeões».





O apoio da Câmara Municipal é uma evidência, com retorno garantido. «Este é percurso iniciado há algum tempo, mas nos últimos anos tem consolidado a sua qualidade, tem demonstrado a sua ambição. Temos aliado bons resultados, sabendo que trabalhando bem e com a qualidade de muita gente, estamos mais perto de ganhar. Tem sido um percurso, um caminho a passo certo, sabendo que nunca damos um passo maior do que a perna, o que nos obriga a crescer de forma rigorosa e as coisas acontecem de forma natural. Existe um grande compromisso e envolvimento das pessoas que nos apoiam», salienta Joel Rocha, destacando também o «talento dos jogadores», com óbvio impacto nos resultados

«Definimos um perfil de jogador tendo em conta o clube e a conceção do treinador. Muito mais importante do que a nacionalidade e a naturalidade, são relevantes as características humanas, pessoais e desportivas. Procuramos o melhor para nós dentro da nossa realidade», explica, frisando um aspeto: «O orçamento mensal do Benfica é o orçamento anual do Fundão, ou seja, o Benfica gasta por mês aquilo que o Fundão gasta num ano».

Emocionante 

Está a chegar o tempo da cereja e o Fundão, assim como toda a Cova da Beira, vai voltar a estar nas bocas do mundo. Mas por causa do futsal a realidade pode estar a mudar um pouco.

«É importante olharmos para esta conquista como um impacto muito positivo, não só para o clube, mas também para a região. Digo muitas vezes e repito que a interioridade não é sinónimo de inferioridade. Nestas regiões há muita competência e pelo menos nós nunca nos desculpámos com a nossa zona geográfica, porque não é impedimento para nada. Temos consciência das nossas capacidades e das nossas qualidades», sublinha o treinador.

A Associação Desportiva do Fundão usufrui de vários apoios de empresas da região, mas também da Câmara Municipal, que vê o futebol como veículo importante de promoção. «O principal patrocinador do clube é a autarquia em duas marcas: na cereja e no futebol. A cereja é sazonal e o futsal é anual. Digamos que se tem justificado o investimento, uma vez que houve uma aposta positiva da autarquia e nós temos apresentado resultados», explica, aproveitando para recordar uma vez mais a festa de domingo à noite:

«Foi emocionante e gratificante. É por estes momentos que todos trabalhamos e nos dedicamos no dia-a-dia. São estes momentos que valem a pena. Sentimo-nos uns privilegiados».

Joel Rocha tem 32 anos, é natural da Covilhã, e iniciou a carreira de treinador há dez anos, na equipa de juvenis da Associação Desportiva da Carapalha. Entrou na AD Fundão em 2005/06 para treinar os juniores, com a qual se sagrou campeão distrital, para além de ter integrado a equipa técnica da formação principal que ascendeu à I Divisão. É treinador principal desde 2010 e foi nessa condição que conseguiu ir a duas meias-finais dos play-off, tendo agora conquistado da Taça de Portugal, com direito a banho na conferência de imprensa.


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