Rematar, rematar e não marcar: eis o grande quebra-cabeças de NES

9 jan 2017, 10:32
Nuno Espírito Santo (Lusa)

Equipa de Nuno Espírito Santo é a que mais remata na Liga, mas entre os três grandes a que mais precisa de o fazer para marcar um golo; tendo ainda o dobro dos nulos (quatro) do que Sporting e Benfica juntos

Um, dois, três, 22 remates… E zero golos. Nesta 16.ª jornada o FC Porto empatou em Paços de Ferreira, perdeu pontos para Benfica e Sporting, e igualou o recorde negativo de produtividade do Rio Ave, que à 9.ª jornada (0-3 frente ao V. Guimarães) fez também 22 remates sem marcar qualquer golo.

O fantasma da seca de golos já havia assolado a equipa de Nuno Espírito Santo nesta época, tendo até os dragões a quebrado um recorde negativo na sua história, com cinco placards de 0-0 consecutivos (em diferentes competições).

Desta vez, não abordamos a pouca produtividade portista numa perspetiva histórica, mas sim recorrendo aos dados da presente edição da Liga (com base nas estatísticas oficiais da competição). O problema está no ataque, de facto. E a análise aos números sustenta esta conclusão. Este é o grande quebra-cabeças para Nuno Espírito Santo, cujo conjunto mostra segurança defensiva e consegue na maioria dos jogos um bom fluxo ofensivo.

O FC Porto é a equipa mais rematadora de toda a competição, com 265 remates nas 16 jornadas (16,6 por jogo), mas não só tem menos golos que o Benfica (28 contra 34; o Sporting leva 27) como entre os três grandes é a equipa que mais precisa de rematar até conseguir marcar: 9,5 remates e meio por golo, sensivelmente mais dois remates do que necessitam Benfica (7,5 remates por golo) e Sporting (7,7) para colocarem a bola no fundo das redes.

A tendência agrava-se se tivermos em consideração as últimas cinco jornadas. Nesse período, a única exceção em termos de eficiência ofensiva dos pupilos de NES foi a deslocação ao terreno do Feirense, à 13.ª jornada, o jogo mais produtivo dos dragões nesta Liga, com 13 remates e 4 golos. Na 12.ª jornada, quando a equipa quebrou o longo jejum de golos frente ao Sp. Braga, só nos descontos e com um golo salvador do miúdo Rui Pedro, o FC Porto fez nada menos do que 30 (!) remates, um recorde nesta época entre os grandes, sendo que o maior registo anterior foi também dos portistas, com 26 remates e também apenas um golo na receção ao Estoril, à jornada 2, que culminou também com um triunfo no último minuto.

Nulos: FC Porto tem quatro, o Benfica marcou sempre

O FC Porto remata muito, mas concretiza pouco em função daquilo que remata e tem alguma propensão para o nulo: ficou a zeros em quatro das 16 jornadas da Liga, ou seja, num quarto dos jogos; enquanto o Sporting não marcou apenas em duas jornadas e o Benfica fez golos em todas.

Basta atentar na eficiência ofensiva dos encarnados nas últimas duas jornadas, já com Jonas na equipa: 8 remates e dois golos tanto na receção ao Rio Ave como na deslocação a Guimarães. A título comparativo, na 15.ª e 16.ª jornada o FC Porto fez respetivamente 15 (dois golos) e 22 remates.

FC Porto - últimas 5 jornadas

Jornada Adversário Remates Golos
12.ª Sp. Braga (c) 30 1
13.ª Feirense (f) 13 4
14.ª Desp. Chaves (c) 19 2
15.ª Marítimo (c) 15 2
16.ª P. Ferreira (f) 22 0

Benfica - últimas 5 jornadas

Jornada Adversário Remates Golos
12.ª  Marítimo (f) 21 1
13.ª Sporting (c) 7 2
14.ª Estoril (f) 11 1
15.ª Rio Ave (c) 8 2
16.ª V. Guimarães (f) 8 2

Sporting - últimas 5 jornadas

Jornada Adversário Remates Golos
12.ª V. Setúbal (c) 11 2
13.ª Benfica (f) 13 1
14.ª Sp. Braga (c) 13 0
15.ª Belenenses (f) 12 1
16.ª Feirense (c) 16 2

Os dragões atrasaram-se na corrida pela liderança, que deixou de estar a quatro para ficar a seis pontos, janeiro está aí e ainda não foi contratado o ponta-de-lança ansiado por boa parte dos adeptos não só desde o início da temporada, mas que em bom rigor falta há cerca de um ano e meio, desde que Jackson Martínez saiu do Dragão.

André Silva tem qualidades evidentes, mas, apesar dos 10 golos apontados na Liga, tem pecado pela falta de eficácia em alguns jogos, o que até é natural para um jovem de 21 anos que na época passada atuou sobretudo na equipa B, Rui Pedro saltou dos sub-19 para a equipa principal com passagem pela B, mas apesar do talento tem arestas para limar de qualquer miúdo de 18 anos. E além destes há dois erros de casting gigantescos… e caros: Adrián López (11 milhões por 60 por cento do passe) e Laurent Depoitre (6,5 milhões).

O espanhol reentrou na semana passada para a lista de dispensáveis, enquanto o belga, que chegou no início da época proveniente do Gent, passou no último jogo a ser terceira opção para Nuno Espírito Santo, não saindo do banco num jogo em que o FC Porto precisava de vencer.

Mercado de inverno pode ser solução

É portanto expectável que o FC Porto aproveite o mercado de inverno para poder reforçar o seu setor ofensivo. Aliás, dada a urgência de golos – e a debilidade evidente que está já identificada – não deixa de causar estranheza a aparente paciência da SAD portista em esperar para contratar um ponta-de-lança.

Em 2015/16, os dragões esperaram por janeiro para contratarem no mercado interno Moussa Marega e Hyun-jun Suk, dois avançados (internacionais pelo Mali e pela Coreia do Sul, respetivamente) que ainda assim não convenceram na segunda metade da época, tendo sido ambos dispensados.

Noutras ocasiões, os dragões já aproveitaram o mercado de inverno para reforçarem o setor ofensivo. Assim aconteceu nos últimos dois títulos nacionais conquistados, ambos por Vítor Pereira: em 2012/13 foi contratado Liedson, em 2011/12 na reabertura de mercado chegou Marc Janko (5 golos em 12 jogos). O austríaco foi substancialmente mais útil do que o luso-brasileiro ex-Sporting e internacional por Portugal, que não marcou, mas ainda assim teve o seu papel no golo de Kelvin, que decidiu o campeonato.

Recuando ainda mais, há exemplos de avançados que chegaram em janeiro e que acabaram por assumir a titularidade e afirmar-se com golos, como foram os casos de Adriano (2005/06) e McCarthy (2001/02), mas também casos em que os reforços de inverno acabaram por cumprir a sua função, como Renteria (2006/07) ou Kaviedes (também 2001/02).

No entanto, apesar das contingências financeiras e da altura do ano em que a maioria dos clubes não está disposta a negociar jogadores, parece evidente que, apesar da demora, os dragões vão reforçar-se na frente de ataque.

Resta saber a resposta para a pergunta do momento no Dragão: estará aí a chave para a falta de eficácia portista?

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