F.C. Porto-Belenenses, 2-2 (crónica)

25 ago 2002, 21:52

Empate em jeito de mal menor Dois momentos de precisão e dois instantes típicos de ponta-de-lança, entre vários sinais de desespero.

Há jogadores, que, pela sua excelência, se distinguem mesmo quando não jogam, quando não pisam o relvado, quando não marcam ou driblam, cujo génio enche estádios, vira jogos do avesso e justifica, até, o dispêncio das primeiras linhas de uma crónica, que, por regra, não deveria reconhecer a condição de protagonista a ausentes. A questão ou, se o leitor preferir, o excesso, surge a propósito da indisponibilidade de Deco. Duvida que o jogo teria sido outro com ele em campo, que a história que agora se conta não seria a mesma? Não, com toda a certeza.

Na perspectiva de Mourinho, a pertinência da observação ganha, inclusive, a forma de uma latejante dor de cabeça. A dupla identidade do F.C. Porto, assustadoramente mais pobre sem os pés e o cérebro do brasileiro, é, no mínimo, preocupante, por tão evidente e irrefutável, mesmo que Capucho corra por perto, que Derlei remate em catadupa ou que Postiga esbarre entre os centrais. Sem Deco, nada é o mesmo.

Sem Deco, distinguiram-se Neca e Jankauskas, duas espécies distintas de deuses menores. O primeiro, pela precisão em dois instantes decisivos, de que dependeu directamente o êxito do Belenenses. O segundo, pelas várias assistências que serviu a Derlei e pelo sentido de oportunidade que depositou o empate a seus pés, a segundos do final. Na escala de distinções, Marco Aurélio surge um nada mais abaixo. Defendeu o defensável e irritou, em prolongadas reposições de bola e descaradas encenações, o adversário e a plateia.

Sem tempo ou oportunidade para justificar a vantagem, o Belenenses marcava, pouco depois de deixar perceber que parte da estratégia passava também pela abusiva prática do antijogo, em que Pedro Proença anuiu. O restante da trama era simples: defender muito e contra-atacar pouco. Talvez o F.C. Porto nem precisasse de ajuda para se aproximar do desespero, mas o plano azul, angelicamente vestido de branco, expôs o que de mais nervoso e frenético tem o futebol das Antas: pouco, muito pouco, para o que a pré-época prometeu.

Uma pequena tradição

O F.C. Porto fazia mais pelo espectáculo, mas raramente bem. Sem artista, os flancos foram sobrexplorados, em tarde de desacerto e deslize de Capucho, ao ponto de Jankauskas se transformar num flanqueador e servir vários cruzamentos, que Derlei desperdiçaria. Ou, mediante outra interpretação possível, a que Marco Aurélio se oporia. Como fez num dos últimos instantes da partida, adiando, por uma fracção de segundo, o empate, assinado pelo lituano. Antes, já Postiga empatara e Neca, da marca de grande penalidade, transmitira a sensação de que a derrota portista era uma inevitabilidade.

Nas Antas, o Belenenses voltava a não perder. Pela terceira vez e com um dado incontornável e comum a todos os êxitos: Marco Aurélio. Pelo que defende e pelo que teatraliza, encurtando o espectáculo em minutos, mas acrescentando-lhe, em compensação, irritação e nervosismo. Pelo fim, sofreu o golo que a primeira parte (a boa) da sua exibição não merecia. Será excessivo falar em tradição, como bem observou José Mourinho, mas o Belenenses voltará a provocar calafrios, sugeridos pela memória, na próxima passagem pelas Antas. Nem que seja dias e momentos antes de a bola juntar os mesmos intérpretes.

Pedro Proença, o árbitro, provocou o mesmo efeito que Marco Aurélio produzira na plateia. Equivocou-se vezes de mais, ainda que em lances de menor importância, se excluído o lance, já nos primeiros minutos da segunda parte, em que perdoou a expulsão, pelo método da acumulação, a Carlos Fernandes. Mandou, com razão, assinalar uma grande penalidade, depois de Jorge Costa ter derrubado Neca, que arrancou para o lance em posição milimetricamente legal.

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