Portugal: a força de Ronaldo e o real valor da experiência

10 jun 2014, 11:50
Portugal

A hipótese mais provável é a de sempre: o 4-3-3 com os mesmos jogadores de 2012.

A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Este foi o perfil apresentado sobre a Seleção Nacional:


Em 21 de junho de 2012, no seu último jogo no Campeonato da Europa, Portugal apresentou o seguinte onze: Rui Patrício; João Pereira, Bruno Alves, Pepe, Fabio Coentrão; Raul Meireles, Miguel Veloso, João Moutinho; Nani, Hugo Almeida e Cristiano Ronaldo.

A seleção de Paulo Bento teve um desempenho muito interessante no Europeu, caindo apenas no desempate através da marcação de grandes penalidades frente à Espanha. Quem recorda Portugal nesse torneio não deve esperar por surpresas. Na segunda mão do play-off frente à Suécia, a 19 de novembro de 2013, o selecionador utilizou o mesmo onze.

Portugal segue um trilho previsível a caminho do Campeonato do Mundo. A boa notícia é que Cristiano Ronaldo está no melhor momento da sua carreira, marcando mais golos que nunca por Portugal. Ainda assim, a sua condição física gera natural preocupação. Por outro lado, Paulo Bento tem um onze com mais idade e experiência. Nesta, a média ultrapassa os 28 anos.

João Pereira (então no Sporting, agora no Valência), Bruno Alves (Zenit, Fenerbahçe), Miguel Veloso (Génova, Dinamo Kiev), Raul Meireles (Chelsea, Fenerbahçe) e João Moutinho (FC Porto, Mónaco) mudaram de clube desde o Euro2012, deixando Rui Patrício (Sporting) como o único titular a jogar numa equipa do campeonato português.

O selecionador, que renovou o seu contrato recentemente (até 2016), sabe que o tempo de mudança vai chegar, mais cedo ou mais tarde. Por agora, Paulo Bento segue o mesmo plano e prepara o habitual 4-3-3, embora tenha de lidar com alguns problemas no setor ofensivo.

Rui Patrício continua a demonstrar qualidade entre os postes, João Pereira melhorou ao serviço do Valência e os dois centrais (Bruno Alves e Pepe) apresentam as caraterísticas de sempre: duros, fortes pelo ar e com falhas pontuais de coordenação em situações de pressão. Na esquerda, Fábio Coentrão continua a demonstrar uma grande capacidade para fazer todo o corredor.

O setor intermediário tem agora mais experiência, com as três primeiras escolhas a passarem por diferentes campeonatos nos últimos anos. Miguel Veloso tem alguma falta de dimensão física para a missão defensiva e enfrenta a concorrência do promissor William Carvalho. Raul Meireles não fez uma grande época no Fenerbahçe mas Portugal conta sempre com a sua entrega ao jogo (se estiver em boas condições físicas, o que nesta altura ainda motiva dúvidas) e João Moutinho pode fazer ainda melhor, agora que ganhou dimensão na Ligue 1 de França.

Na frente, Cristiano Ronaldo espera fazer o melhor torneio internacional de sempre. CR7 marcou quatro golos no play-off frente à Suécia e, nos últimos meses, bateu mais alguns recordes pelo Real Madrid. A sua condição física está a gerar uma enorme preocupação mas todos acreditam que ele jogará de uma forma ou de outra.

E quem mais? Nani, mesmo sem presenças regulares no Manchester United, é um provável titular, com Silvestre Varela a surgir como primeira alternativa para os flancos. Ao centro, Hugo Almeida tem ritmo de jogo e no segundo duelo com os suecos foi importante porque caiu por vezes na esquerda e libertou Ronaldo. Hélder Postiga é o concorrente pelo lugar e leva vantagem histórica, mas apresenta um quadro clínico que o deixou sem jogar nos últimos meses.

A evolução de William Carvalho, promissor médio defensivo do Sporting, e os problemas no ataque podem levar Paulo Bento a delinear um plano B para os jogos mais competitivos, sobretudo o encontro inaugurar frente à Alemanha. O 4-4-2 é uma alternativa, mas a hipótese mais provável no torneio é a de sempre: o 4-3-3 com os mesmos jogadores de 2012.

Que jogador pode surpreender no Campeonato do Mundo?

Para os adeptos que não o conhecem: João Moutinho. O médio ficou bastante tempo na Liga portuguesa, acumulando exibições de grande qualidade no Sporting e no FC Porto. No início da temporada 2013/14, Moutinho foi contratado pelo AS Mónaco e teve de se adaptar a outro campeonato. Em França, o médio demonstrou o seu valor após um natural período de transição. Se alguém vir Ronaldo a correr como um louco, será porque espera um passe mágico de Moutinho Os portugueses sabem aquilo que João Moutinho é capaz de fazer. Alguns adversários não.

E que jogador pode desiludir as pessoas no torneio?

Nani é a grande dúvida – excluindo os problemas físicos no grupo, naturalmente – na seleção nacional. A sua falta de ritmo competitivo é notória após mais uma época difícil no Manchester United, com uma lesão complicada pelo meio. Quando Nani está em apto em termos físicos, Paulo Bento não prescinde do jogador. Porém, a verdade é que as exibições nem sempre convencem.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?

No Euro2012, os adeptos de Portugal esperavam uma tarefa difícil na fase de grupos mas a Seleção de Paulo Bento surpreendeu os céticos e chegou às meias-finais. Agora, com Cristiano Ronaldo a marcar bastantes golos por Portugal, é natural que a expectativa gire em torno de uma caminhada até, pelo menos, os quartos-de-final da competição. Porém, a qualidade da equipa pode não ser suficiente para chegar até ao jogo decisivo do torneio.


Curiosidades e segredos da seleção


Bruno Alves

Este será o torneio especial para o defesa português que vem de uma família brasileira. Bruno Alves nasceu em Portugal mas o seu pai Washington é do Brasil e jogou no Flamengo. Em 1974, Washington Alves aceitou uma proposta do Varzim para rumar ao Campeonato português e por cá ficou deste então. O tio de Bruno Alves, chamado Geraldo (como o irmão do central), era uma grande promessa do Flamengo e amigo próximo de Zico. Tinha a alcunha de Assoviador, devido ao estranho hábito de assobiar enquanto fintava os adversários. Geraldo Alves morreu de forma trágica aos 22 anos, durante uma operação.


Hugo Almeida

Avançado que tem apresentado bons números ao serviço do Besiktas, não é conhecido por perder a sua calma. Porém, em dezembro de 2013, enervou-se com um adepto do Kasimpasa que entrou em campo para pontapear Manuel Fernandes, companheiro de equipa de Hugo Almeida. Os jogadores locais rodearam de imediato o adepto em questão mas o avançado português ainda foi a tempo de devolver o pontapé. Por isso mesmo, foi expulso.

Raul Meireles

O estilo do médio do Fenerbahçe continua a gerar reações mistas. Raul Meireles tem incontáveis tatuagens no seu corpo e, desde que chegou à Turquia, tomou o gosto pela barba, usual naquele país. Hoje em dia, o médio opta por um corte de cabelo ao estilo moicano (talvez devido à sua progressiva queda de cabelo) e uma barba farta. Dá naturalmente nas vistas.

Ricardo Costa

O central festejou o seu 33º aniversário a 16 de maio e está a caminho do terceiro mundial. Esse registo, sem paralelo no futebol português, ficou ao alcance de dois jogadores: Cristiano Ronaldo e Ricardo Costa. O primeiro é a figura da seleção mas Ricardo perdura como uma alternativa de confiança. Aliás, desde fevereiro de 2005, o defesa somou apenas 17 internacionalizações. Terminou a época como capitão do Valência e, no Brasil, deve passar grande parte do Mundial no banco, uma vez mais.

Perfil de uma figura da seleção: William Carvalho




Nascido em Luanda (Angola) há 22 anos, William Carvalho está preparado para conquistar o Mundo. É, seguramente, a próxima grande estrela do futebol português. A confiança demonstrada por Paulo Bento no seu onze habitual pode comprometer a afirmação de William na seleção, mas restam poucas dúvidas: é apenas uma questão de tempo.

Portugal não assistia ao crescimento tão repentino de um talento há alguns anos. William Carvalho vem de uma família angolana dedicada ao futebol. O seu avô, Praia, e o seu tio, Afonso, jogaram no Progresso de Sambizanga. O seu pai também abraçou o desporto e é adepto do Sporting, algo que seria determinante para o futuro de William.

Depois de chegar a Portugal com tenra idade, William começou por jogar no Recreios Desportivos de Algueirão. Em 2004, enquanto a seleção nacional recebia o Campeonato da Europa, o jovem chegava ao União Sport Clube de Mira Sintra.

William Carvalho deu naturalmente nas vistas, até pelo seu porte físico, mas acabou por rejeitar a proposta apresentada por um treinador do Benfica em sua casa, em 2005. O Sporting bateria à porta logo depois, com Aurélio Pereira a convencer facilmente o jovem.

O Sporting terá pago cerca de 12.500 euros pelo jogador, então com 14 anos. A estreia pela equipa principal chegaria em 2011, mas William Carvalho seria posteriormente emprestado a Fátima e Cercle Brugge. Na Bélgica, evoluiu imenso e assumiu-se como médio defensivo.

Quando regressou ao Sporting, William estava preparado para explodir. Leonardo Jardim apostou no jogador e este justificou em pleno. Em poucos meses, o jogador convenceu tudo e todos. Ainda assim, Paulo Bento demorou o seu tempo até chamar o médio para a seleção nacional.

A primeira convocatória surgiu apenas em novembro de 2013, para o play-off frente à Suécia. Miguel Veloso é o titular à frente da defesa nacional e Paulo Bento não costuma mudar de ideias facilmente. De qualquer forma, com um talento como este nas mãos, o selecionador tem uma boa dor de cabeça pela frente.

Para William Carvalho, tudo parece apenas uma questão de tempo.

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