Há um movimento em curso: artistas espanholas que fazem topless durante concertos. E dizem que o fazem em defesa delas próprias e de todas as mulheres. "Não sei porque é que as nossas mamas são tão assustadoras"
A banda preparava-se para tocar Revolución quando a cantora Eva Amaral despiu o top vermelho de lantejoulas. Esta é uma entre várias artistas que estão a fazer topless durante espetáculos em Espanha em nome da defesa dos direitos das mulheres.
“Isto é por Rocío, por Rigoberta, por Zahara, por Miren, por Bebe, por todas nós”, reivindicou Eva Amaral durante uma atuação no sábado no Festival Sonorama, invocando as colegas que também já o tinham feito. E continuou: “Porque ninguém nos pode tirar a dignidade da nossa nudez. A dignidade da nossa fragilidade, da nossa força”.
“Esto es Por Rocío. Por Rigoberta. Por Zahara. Por Miren. Por Bebe. Por todas nosotras. Porque nadie nos puede arrebatar la dignidad de nuestra desnudez. La dignidad de nuestra fragilidad”. Eva Amaral conmemoraba 25 años quitándose el corpiño https://t.co/a3V1gXwN8h pic.twitter.com/5L1IjnCOG0
— EL PAÍS (@el_pais) August 13, 2023
Eva Amaral descreveu o gesto ao El País como “um momento muito importante”. Além de ser uma via para defender a liberdade e dignidade das mulheres, o gesto, que marcou o concerto de celebração dos 25 anos de carreira da banda, simbolizou a solidariedade com as artistas que já tinham feito algo semelhante - tendo sido aplaudidas e criticadas em simultâneo.
É o caso de Rocío Saiz e de Rigoberta Bandini. O concerto da primeira, durante o Murcia Pride Festival em junho, foi impedido pelas autoridades. Tudo porque, enquanto interpretava Como yo te Amo, despiu o top, algo que afirma fazer em todas as atuações há dez anos.
Eva,me he criado con tu música, cantaba tus letras con el corazón en trizas, soñaba con parecerme a ti, con tener esa fuerza desmedida y colosal, y no solo eres la mejor voz de este país, eres líder, hermana, chamana y compañera. No me quedan lágrimas. GRACIAS#SonoramaRibera2023 pic.twitter.com/rfhldIHv2O
— Rocio Saiz (@rocio__saiz) August 12, 2023
“Não sei porque é que as nossas mamas são tão assustadoras”, disse Rigoberta Bandini, cuja Ay Mamá, uma ode à maternidade, se tornou uma espécie de hino feminista em Espanha. Ao fazer topless enquanto interpretava esta canção durante um espetáculo, a artista foi também alvo de críticas.
O gesto de Eva Amaral, que está a atingir uma maior dimensão através das partilhas nas redes sociais, foi aplaudido por mulheres da esfera política, como Yolanda Díaz. A ministra do Trabalho, que esteve na corrida eleitoral, agradeceu à cantora por “representar todas as mulheres do país”, bem como por “defender direitos que hoje são ameaçados", cita o Guardian.
Para Nuria Varela, envolvida na criação do primeiro Ministério da Igualdade, em 2008, este movimento é um ato de desespero - de desespero necessário mas ainda ainda de desespero - porque as mulheres estão cansadas de lutar por si próprias mas é preciso continuar, lutar. “A mensagem de Amaral é que trabalhámos arduamente pelas nossas liberdades e estamos cansados de ter de as reconquistar de 10 em 10 minutos", disse, segundo o jornal inglês. E conclui: “Parece que os nossos corpos ainda não nos pertencem, apesar de tanta luta”.