"Isto é por Rocío, por Rigoberta, por Zahara, por Miren, por Bebe, por todas nós. Ninguém nos pode tirar a dignidade da nossa nudez. A dignidade da nossa fragilidade, da nossa força"

CNN Portugal , ARC
18 ago 2023, 11:05
Eva Amaral (Xavi Torrent/Getty Images)

Há um movimento em curso: artistas espanholas que fazem topless durante concertos. E dizem que o fazem em defesa delas próprias e de todas as mulheres. "Não sei porque é que as nossas mamas são tão assustadoras"

A banda preparava-se para tocar Revolución quando a cantora Eva Amaral despiu o top vermelho de lantejoulas. Esta é uma entre várias artistas que estão a fazer topless durante espetáculos em Espanha em nome da defesa dos direitos das mulheres.

“Isto é por Rocío, por Rigoberta, por Zahara, por Miren, por Bebe, por todas nós”, reivindicou Eva Amaral durante uma atuação no sábado no Festival Sonorama, invocando as colegas que também já o tinham feito. E continuou: “Porque ninguém nos pode tirar a dignidade da nossa nudez. A dignidade da nossa fragilidade, da nossa força”.

Eva Amaral descreveu o gesto ao El País como “um momento muito importante”. Além de ser uma via para defender a liberdade e dignidade das mulheres, o gesto, que marcou o concerto de celebração dos 25 anos de carreira da banda, simbolizou a solidariedade com as artistas que já tinham feito algo semelhante - tendo sido aplaudidas e criticadas em simultâneo.

É o caso de Rocío Saiz e de Rigoberta Bandini. O concerto da primeira, durante o Murcia Pride Festival em junho, foi impedido pelas autoridades. Tudo porque, enquanto interpretava Como yo te Amo, despiu o top, algo que afirma fazer em todas as atuações há dez anos.

“Não sei porque é que as nossas mamas são tão assustadoras”, disse Rigoberta Bandini, cuja Ay Mamá, uma ode à maternidade, se tornou uma espécie de hino feminista em Espanha. Ao fazer topless enquanto interpretava esta canção durante um espetáculo, a artista foi também alvo de críticas.

O gesto de Eva Amaral, que está a atingir uma maior dimensão através das partilhas nas redes sociais, foi aplaudido por mulheres da esfera política, como Yolanda Díaz. A ministra do Trabalho, que esteve na corrida eleitoral, agradeceu à cantora por “representar todas as mulheres do país”, bem como por “defender direitos que hoje são ameaçados", cita o Guardian.

Para Nuria Varela, envolvida na criação do primeiro Ministério da Igualdade, em 2008, este movimento é um ato de desespero - de desespero necessário mas ainda ainda de desespero - porque as mulheres estão cansadas de lutar por si próprias mas é preciso continuar, lutar. “A mensagem de Amaral é que trabalhámos arduamente pelas nossas liberdades e estamos cansados de ter de as reconquistar de 10 em 10 minutos", disse, segundo o jornal inglês. E conclui: “Parece que os nossos corpos ainda não nos pertencem, apesar de tanta luta”.

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