Euro quase igual ao dólar: há décadas que a Europa não era tão barata para os norte-americanos

CNN , Julia Horowitz
6 jul 2022, 11:25
Euro e dólar

Um norte-americano que visite Itália, Grécia ou Espanha, este verão, após um hiato de viagens durante a pandemia, está com sorte: as refeições, os hotéis e os passeios estão mais acessíveis em dólares do que estiveram nas últimas duas décadas.

O que está a acontecer? O euro caiu para cerca de 1,03 dólares, uma queda de mais de 8% em relação ao dólar americano, desde o início do ano. Está agora a ser negociado ao nível mais baixo desde o final de 2002.

A maioria dos analistas acha que ainda não fica por aqui. Correm as previsões de que pode até chegar à paridade, quando um dólar poderá ser trocado por um euro.

“Estou pessimista em relação ao euro até ver um cabeçalho que me diga que o crescimento global vai aumentar e muito”, diz o estratega da Nomura, Jordan Rochester. Ele acha que o euro atingirá a paridade até ao final de agosto.

Euro cai para nível mais baixo desde 2002

A moeda enfraqueceu mais de 8% em relação ao dólar americano, até agora, este ano.

 

Resumindo: o que é bom para os turistas norte-americanos é difícil para as empresas europeias que precisam de comprar energia, matérias-primas e componentes em dólares. O aumento do custo das importações pode continuar a impulsionar os preços nos 19 países que usam o euro, onde a inflação anual saltou para um recorde de 8,6% em junho.

O que está a provocar a desvalorização do euro, a segunda moeda mais usada no mundo? Os analistas apontam para alguns fatores.

O primeiro é a perspetiva económica. Os temores de recessão estão a aumentar globalmente. Mas a proximidade da Europa com a guerra na Ucrânia e a sua dependência histórica da Rússia para responder às necessidades energéticas, tornam este continente mais vulnerável do que os Estados Unidos.

Os preços do gás natural na Europa estão no nível mais alto desde março. A Rússia cortou a distribuição de gás para a Europa e o principal gasoduto, o Nord Stream, está prestes a passar por uma manutenção. Os trabalhadores do setor da energia da Noruega acabaram de entrar em greve, ameaçando novas restrições no abastecimento.

“Temos uma crise de inverno a aproximar-se para a Zona Euro e espero que os preços da energia permaneçam muito fortes”, disse Rochester.

O euro tende a ter um mau desempenho quando diminui o apetite pelo risco entre os investidores.

Outra questão é o comércio. A Alemanha acaba de reportar um raro défice comercial mensal, um sinal de que os altos preços da energia estão a pesar sobre os fabricantes da maior potência exportadora da Europa. Um euro mais fraco torna-se então necessário para tornar as exportações do bloco mais competitivas.

A Europa também tem estado atrás dos Estados Unidos no aumento das taxas de juros, embora o Banco Central Europeu espere que comecem a subir este mês. Isso significa que os investidores preferem colocar o seu dinheiro nos Estados Unidos, onde podem obter melhores retornos.

À medida que as taxas de juros sobem, há preocupações de que os mercados de títulos em países com cargas altas de dívida, como a Itália e a Grécia, possam ficar sob pressão. O BCE disse que trabalhará para evitar o que apelida de “fragmentação”, mas continua a ser um risco que os corretores estão a vigiar atentamente.

Os clientes “estão muito preocupados com todas as coisas europeias”, disse o estratega da Société Générale, Kit Juckes, na terça-feira. “Os dados comerciais da Alemanha caíram muito, ontem, e a sensação de que o atual excedente da balança está a ser prejudicado pelos preços da energia está amplamente difundida. Se acrescentarmos a isso as preocupações com a fragmentação e o medo de que a economia global esteja no mau caminho, é difícil ficar nem que seja um pouco otimista em relação ao euro.”

É Bezos vs a Casa Branca vs a inflação

A inflação alta chama a atenção da Casa Branca, que tenta garantir aos norte-americanos que está a levar muito a sério os aumentos de preços. Isso aumentou as acusações contra a América Empresarial, que o governo Biden diz estar a piorar o problema.

“A minha mensagem para as empresas que administram as estações de serviço e estabelecem os preços nas bombas é muito simples: este é um momento de guerra e de perigo global”, publicou no Twitter o presidente Joe Biden, no fim de semana do 4 de Julho. “Baixem os preços que cobram nas bombas para refletir o custo que estão a pagar pelo produto. E façam isso agora.”

Isso provocou protestos do fundador da Amazon, Jeff Bezos, que se tem manifestado cada vez mais no Twitter.

“Ouch! A inflação é um problema demasiado importante para a Casa Branca continuar a fazer declarações como esta”, publicou no Twitter como resposta. “Ou é um desvio completamente errado ou uma profunda falta de conhecimento da dinâmica básica do mercado.”

O veterano investidor de risco Bill Gurley também entrou na discussão. Ele disse que concordava “totalmente” com Bezos, apontando para “os últimos trezentos anos de pesquisa e compreensão económica”.

A Casa Branca rejeitou as críticas.

“Os preços do petróleo caíram cerca de 15 dólares no mês passado, mas os preços nas bombas pouco desceram. Isto não é ‘dinâmica básica de mercado’. É um mercado que está a falhar para com o consumidor norte-americano”, disse a secretária de imprensa Karine Jean-Pierre no Twitter. “Mas acho que não é nenhuma surpresa que pensem que as empresas do petróleo e do gás estarem a usar o poder de mercado para obter lucros recordes às custas do povo americano seja a maneira certa para a nossa economia funcionar.”

Verificando os números: os preços do petróleo nos EUA recuaram no mês passado, à medida que os temores de recessão vieram à tona. Os futuros da West Texas Intermediate, a referência, foram negociados pela última vez a cerca de 108,50 dólares por barril, em comparação com os mais de 118,50 dólares de há um mês. Essa diferença de 10 dólares é menor do que o número avançado pela Casa Branca.

No entanto, é verdade que não se sentiu uma grande descida nas bombas. O preço médio de um litro de gasolina comum é de 1,26 dólares. Há um mês, era de 1,28 dólares, em comparação com 0,83 dólares de há um ano.

É este o resultado da manipulação de preços? Talvez em certos casos. Mas, neste momento, os maiores impulsionadores dos preços dos combustíveis são a procura elevada e a oferta limitada, principalmente de gasolina e gasóleo. Este é o resultado das perturbações causadas pela pandemia, da guerra na Ucrânia e da chegada da temporada de verão ao hemisfério norte. A falta de investimento na capacidade de refinamento também está a agravar o problema.

Petróleo a 380 dólares? A JPMorgan vê um cenário onde isso é possível

Pouco depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, os preços globais do petróleo subiram acima dos 139 dólares por barril. Foram negociados pela última vez abaixo dos 113 dólares. Mas os estrategas da JPMorgan Chase veem um cenário possível em que o petróleo chegue aos 380 dólares, fazendo com que os lucros atuais pareçam insignificantes em comparação.

Recuemos: na semana passada, os líderes do G7 concordaram em elaborar um plano para limitar o preço do petróleo russo. Isso permitiria que os barris com desconto do país continuassem a chegar ao mercado, mas reduziriam a receita de Moscovo.

Os pormenores ainda estão a ser alinhavados. Mas, em teoria, para terem seguros das empresas ocidentais para as suas cargas, clientes como a China e a Índia concordariam em pagar apenas 50 a 60 dólares por barril.

Isso reduziria a receita do Kremlin, que estimou que o preço dos seus barris de exportação chegaria aos 80 dólares até ao final de 2022.

Mas a equipa da JPMorgan, incluindo a estratega Natasha Kaneva, alerta que a Rússia pode retaliar reduzindo intencionalmente a produção de petróleo, como é feito com o gás natural. Isso faria os preços dispararem. Se reduzisse a produção em 3 milhões de barris por dia, o banco prevê que os preços podem saltar para os 190 dólares por barril. Num “cenário pior” de um corte de 5 milhões de barris por dia, os preços podem chegar aos 380 dólares.

“Se a situação geopolítica assim o exigir, parece agora mais provável que os cortes nas exportações possam ser usados ​​como alavanca ou ferramenta política, na nossa opinião”, escreveram Kaneva e os seus colegas, este mês.

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