Iñaki Williams: o primeiro «negro, negro» da história do Athletic

18 nov 2015, 10:35
Betis-Athletic Bilbao (Lusa)

O mais recente ídolo do San Mamés é basco, filho de pai ganês e mãe liberiana, e ficou famoso ao marcar um dos golos do ano

«Não sou racista. Aliás, prefiro um negro, negro, que fale basco, a um branco que o ignore», disse contundente o antigo presidente do Partido Nacionalista Basco Xabier Arzalluz.

Iñaki Williams é o exemplo acabado desta frase que gerou polémica. Nascido em Bilbau, a 15 de junho de 1994, o jovem extremo de origem africana é o símbolo de um novo Athletic.

Estreou-se há menos de um ano e entrou logo para o livro de ouro do clube, sobretudo quando a 19 de fevereiro se tornou no primeiro negro em 117 anos de história a marcar com camisola do Athletic, num jogo da Liga Europa frente ao Torino. Foi chamado à seleção de sub-21 de Espanha logo no mês seguinte e desde então ganhou o seu espaço como titular na equipa de Ernesto Valverde, tendo esta época marcado seis golos em dez jogos disputados.

O melhor de todos aconteceu há pouco mais de uma semana, na vitória frente ao Espanhol (2-1), na jornada 11 da Liga Espanhola. Iñaki levou o San Mamés à loucura com um golo que correu o mundo e se apresenta como um sério candidato ao Prémio Puskas para melhor do ano.
 
Veja aqui o golaço de Iñaki Williams


O lance de antologia era o que faltava para que quem ainda não havia reparado nele passasse a conhecer o extremo veloz e habilidoso que se tornou «um ídolo dos bilbaínos quase sem querer», como conta ao MAISFUTEBOL Joseba Vivanco, do diário basco Gara.

«A cor da sua pele fez-nos reparar nele desde cedo, mas é pela sua qualidade futebolística que os adeptos e os colegas de equipa estão encantados com Iñaki. A sua ‘explosão’ na primeira equipa faz-nos recordar o aparecimento de talentos como Julen Guerrero ou, mais recentemente, Iker Muniaín», conta o jornalista que acompanha diariamente o Athletic, acrescentando que este maior cosmopolitismo de Lezama, centro de estágios onde treinam todos os escalões do clube, é o reflexo de uma sociedade basca mais multicultural: «Há alguns jovens jogadores que já nasceram cá e são filhos de emigrantes, mas há também, por exemplo, um miúdo dos Camarões que é um guarda-redes muito promissor ou um outro jovem que foi convocado para a seleção de sub-20 da Bolívia.»

Política de contratações é «intocável»

Tudo isto parecia impossível há alguns anos. O Athletic é um caso único no mundo do futebol por há mais de um século apenas se permitir jogar com atletas nascidos ou formados no País Basco (espanhol e francês). Mesmo considerando casos mais antigos como Lizarrazu ou atuais como Laporte (ambos do País Basco francês) ou até o de Amorebieta (atualmente a jogar no Middlesbrough, basco de família e criação que é internacional pela Venezuela, onde nasceu) o campo de recrutamento é limitado, o que torna decisiva a aposta na formação.

Lezama é essencial no sucesso da equipa principal, já que é a única porta de entrada de não-bascos. Foi dali que saiu Jonás Ramalho, de origem angolana, que em 2009 se tornou no primeiro jogador de raça negra a jogar na equipa principal do Athletic.

Na verdade, Jonas é mulato; «negro, negro» é Inãki, filho de pai ganês e mãe liberiana, mas nascido em Bilbau e criado em Pamplona, onde começou a carreira como futebolista.

Ele é a melhor prova de que a globalização chegou a Lezama. Nada que coloque em causa a regra de ouro, de não incorporar no plantel jogadores estrangeiros ou de outras regiões de Espanha, como explica Joseba Vivanco: «Na política de contratações não se toca. Nem sequer nos piores momentos. Abrir mão disso seria impensável, sobretudo agora que se está a demonstrar que o mercado basco e os escalões de formação têm sido suficientes para produzir jogadores de nível europeu. A chave do sucesso do Athletic é sobretudo aproveitar esses jogadores, convencê-los a ficar e a triunfar no clube. Era bom que Williams fosse um desses casos…»

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