A ACEMEL aponta que este tipo de tarifários, além de terem, de momento, benefícios para os consumidores, são também facilitadores da entrada de novos comercializadores no mercado
A primeira empresa a disponibilizar um tarifário com preços indexados dirigido a consumidores domésticos em Portugal foi a Luzboa, em 2018. Estes tarifários ganharam fama em 2023, quando chegaram a devolver dinheiro aos consumidores em vez de lhes cobrarem e, no arranque de 2024, voltam a ser a alternativa mais barata. Nas contas do regulador, em cerca de cinco anos, a quantidade deste tipo de tarifários saltou para mais de 100, entre eletricidade e gás natural, disponibilizados por 17 comercializadores.
Desde novembro do ano passado que os maiores comercializadores de eletricidade em Portugal – EDP Comercial, Goldenergy, Iberdrola, Galp e Endesa – estão obrigados a apresentarem tarifários indexados aos consumidores domésticos. Todas, exceto a Endesa, ofereciam esta opção desde final de outubro. A empresa liderada por José Bogas só operacionalizou a exigência durante o passado mês de dezembro.
A Coopérnico entrou no “campeonato” das ofertas indexadas em outubro de 2021. Desde então, a empresa multiplicou por quatro o número de clientes. No caso da Yesenergy, que também deu o pontapé de saída nesse mesmo ano, saltou de uma percentagem de 3% de clientes com tarifários indexados em 2021 para os 35% em 2023. João Nuno Serra, gestor da YesEnergy e líder da Associação dos Comercializadores de Energia no Mercado Liberalizado (ACEMEL), acredita que a adesão a este tipo de tarifários tem crescido também para o geral dos associados da ACEMEL.
Embora para os clientes domésticos estes tarifários ainda sejam uma relativa novidade, as empresas e indústrias já estão familiarizadas com este tipo de ofertas. A maioria dos comercializadores têm tarifários a preços indexados disponíveis para estes grandes consumidores, assinala o regulador, explicando que isto acontece porque empresas e indústrias têm, por norma, uma literacia energética superior.
João Nuno Serra acredita que este tipo de tarifários, além de terem, de momento, benefícios para os consumidores, são também facilitadores da entrada de novos comercializadores no mercado. “É preciso arcaboiço financeiro para oferecer preços fixos, cobrir posições”, diz. É que para oferecer tarifários fixos, explica a Coopérnico, um comercializador que compre energia no mercado terá de começar por estimar o valor médio de energia para o ano seguinte, ao qual soma os seus custos e margens, incluindo o preço do risco de falhar na sua previsão e poder ficar a vender a luz mais barata do que a compra.
“Para os comercializadores, um tarifário indexado permite operar exposto ao mercado, sem aumento de risco”, remata a Coopérnico. Neste sentido, o líder da ACEMEL acredita que irão existir “oportunidades interessantes se o mercado vier a ficar muito aberto a receber ofertas indexadas”.