A endometriose surge “quando as células ou glândulas que deveriam crescer dentro do útero ou da cavidade uterina migram para fora do útero e crescem noutros sítios, vão menstruar noutros sítios, e dão alterações sob a forma de quistos e nódulos”
Compreender a endometriose é ainda um desafio para a ciência. Apesar de a doença afetar uma em cada dez mulheres em todo o mundo, há ainda muito por saber, sobretudo no que diz respeito à sua origem e forma de atuação.
No entanto, uma equipa de cientistas do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia do Centro Médico Cedars-Sinai em Los Angeles, nos Estados Unidos, conseguiu dar mais um passo em frente ao mapear alterações celulares ligadas à endometriose, o que poderá abrir caminhos a novas formas de terapêutica para controlar a dor causada pela doença, sobretudo tendo em conta a parte do corpo que afeta.
Para o estudo, os cientistas analisaram mais de 400 mil células individuais de 21 mulheres, 17 já diagnosticadas com endometriose e quatro sem sinais da doença.
Ao compararem os dados obtidos, como se lê na Nature Genetics, conseguiram perceber que existem alterações moleculares que estão associadas à endometriose e aos subtipos da doença, que são classificados consoante a zona do corpo que mais afeta, seja a cavidade abdominal ou o ovário, por exemplo. Com isto, foi assim possível criar um perfil das múltiplas células que contribuem para a doença.
Os autores do estudo defendem que ao conhecer-se agora o perfil molecular único e detalhado da endometriose e as alterações celulares relacionadas com a doença pode ser mais fácil entender a origem da mesma, estando em perspetiva novas formas de tratamento - os quais, aos dias de hoje, se baseiam na maioria dos casos em terapêuticas hormonais e cirurgia.
“Identificar essas diferenças celulares a um nível tão detalhado deve permitir entender melhor as origens, a progressão natural e os possíveis alvos terapêuticos para o tratamento”, afirma Matthew Siedhoff, vice-presidente de Ginecologia do Cedars-Sinai e co-autor do estudo.
Como explicou a médica Filipa Osório à CNN Portugal, a endometriose surge “quando as células ou glândulas que deveriam crescer dentro do útero ou da cavidade uterina migram para fora do útero e crescem noutros sítios, vão menstruar noutros sítios, sofrer as mesmas alterações cíclicas do mês e dão alterações sob a forma de quistos e nódulos”.
Quem tem endometriose pode sentir dor crónica, dores de cabeça, fadiga e disfunção intestinal e da bexiga e ainda ter infertilidade.