Os investidores da Tesla vão votar uma proposta de um plano de incentivos para Elon Musk, no valor de 1 bilião de dólares. O sétimo maior acionista da empresa e maior fundo de riqueza nacional do mundo já anunciou que irá votar contra
O maior fundo de riqueza nacional do mundo, o fundo soberano norueguês, anunciou que irá votar contra o pacote salarial de 1 bilião de dólares (870 mil milhões de euros) proposto pela Tesla para o seu diretor executivo, Elon Musk.
Apesar de reconhecer o “valor significativo criado sob o papel visionário de Musk”, o fundo afirmou que não irá apoiar o prémio de desempenho, alegando preocupações com “a dimensão total do prémio, a diluição e a falta de atenuação do risco de pessoas chave – em conformidade com as nossas opiniões sobre a remuneração dos executivos”. O comunicado acrescenta ainda que o fundo continuará a “procurar um diálogo construtivo com a Tesla sobre este e outros assuntos”.
O Norges Bank, o sétimo maior acionista individual da fabricante, que detém cerca de 17 mil milhões de dólares (14,8 mil milhões de euros) em ações da Tesla, divulgou a sua posição dois dias antes da assembleia anual de acionistas da empresa.
Na próxima quinta-feira, os investidores vão votar a proposta de um plano de incentivos sem precedentes, que poderá tornar Elon Musk no primeiro trilionário do mundo.
Se o valor de mercado da Tesla aumentar do valor atual, 1 bilião de dólares (870 mil milhões de euros), para 8,5 biliões de dólares (7,4 biliões de euros) ao longo dos próximos dez anos, Elon Musk irá receber novas ações que farão crescer a sua participação de 16% para mais de 25%, aumentando o seu património pessoal para mais de 2 biliões de dólares (1,74 biliões de euros).
A presidente do conselho da Tesla, Robyn Denholm, defende que a aprovação do plano é crucial para assegurar a permanência de Elon Musk na liderança e alerta numa carta aos acionistas que a empresa pode perder “um valor significativo” se o CEO abandonar o cargo.
O fundo petrolífero norueguês já havia votado contra o anterior pacote salarial de Musk – avaliado em 56 mil milhões de dólares (49 mil milhões de euros) –, considerado o maior da história corporativa dos EUA. Embora o acordo tenha sido aprovado pelos acionistas em junho, acabou anulado por um tribunal de Delaware em dezembro.
O diretor executivo do fundo, Nicolai Tangen, chegou a convidar Elon Musk para um jantar em Oslo no ano passado. No entanto, o empresário recusou o convite após o fundo ter votado contra o seu pacote salarial. Segundo uma publicação norueguesa, que obteve acesso a mensagens trocadas entre ambos, Musk escreveu a Tangen: “Quando eu te pedir um favor, o que raramente faço, e tu recusares, não me deves pedir outro até teres feito algo mais do que nada para te redimires. Os amigos são como os amigos são.”
Entre os acionistas da Tesla, as opiniões permanecem divididas. Contudo, os principais grupos de consultoria de acionistas, Glass Lewis e ISS, recomendaram que os investidores rejeitassem o pacote de um bilião de dólares. Para além disso, vários grandes fundos de pensões, incluindo a Federação Americana de Professores e o Sistema de Reforma dos Funcionários Públicos da Califórnia - o maior fundo público de pensões dos EUA -, também manifestaram oposição à proposta.
Elon Musk, como maior acionista individual da Tesla, também tem direito a votar na deliberação. No mês passado, o empresário publicou na rede social X: “A Tesla vale mais do que todas as outras empresas do setor automóvel juntas. Qual desses CEOs gostariam de ver a dirigir a Tesla? Não serei eu.”
Tesla is worth more than all other automotive companies combined. Which of those CEOs would you like to run Tesla?
— Elon Musk (@elonmusk) October 19, 2025
It won’t be me.
A Tesla tem procurado formas de manter Musk à frente da empresa, num momento em que enfrenta uma queda nas vendas. As entregas globais de veículos diminuíram 13% no primeiro semestre do ano, em parte devido ao redesenho do Modelo Y, um dos automóveis mais populares da empresa.
Apesar de um aumento temporário de 7% nas vendas trimestrais, impulsionado pela corrida dos consumidores norte-americanos para aproveitar o incentivo governamental de 7.500$, a empresa enfrenta agora um possível abrandamento no mercado interno, com o fim dos créditos locais.
Na Europa, as vendas da Tesla também registaram fortes quebras: em outubro, as matrículas de novos veículos caíram 89% na Suécia, 86% na Dinamarca, 50% na Noruega e 48% nos Países Baixos. França foi a exceção, apresentando um ligeiro crescimento nas vendas pelo segundo mês consecutivo.
Entretanto, na China, os números da Associação Chinesa de Automóveis de Passageiros revelaram uma nova queda: a fábrica de Xangai enviou cerca de 60 mil unidades em outubro, uma redução de aproximadamente 10% face ao ano anterior.