A descida das taxas Euribor que se tem vindo a registar desde o final do ano passado não se vai verificar em fevereiro. Ainda assim, esta alteração não irá impedir uma descida da prestação a pagar ao banco nos contratos que serão revistos em março. Confira o seu caso
As dúvidas sobre o momento em que o Banco Central Europeu (BCE) vai começar a cortar taxas de juro provocou uma interrupção na descida das taxas Euribor em fevereiro. Desde novembro do ano passado que a média mensal das Euribor a 3, 6 e 12 meses vinha a cair, mas este mês, ainda sem levar em conta o valor de hoje, essa descida terá sido interrompida. As Euribor a 6 e 12 meses voltaram a subir face ao mês anterior e a Euribor a 3 meses, apesar de poder voltar a cair, só terá uma queda residual.
Ainda assim, apesar da interrupção na descida das Euribor, os detentores de contratos de crédito à habitação que tenham o seu contrato a ser revisto, com base nas taxas de fevereiro, deverão registar uma diminuição da prestação a pagar ao banco. Uma descida que poderá beneficiar não só os contratos indexados à Euribor 3 e 6 meses, tal como aconteceu em fevereiro com base nas taxas de janeiro, mas que também deverá beneficiar os contratos indexados à Euribor a 12 meses.
Na prática, para calcular o valor da nova prestação são tidas em conta as Euribor de fevereiro e as Euribor praticadas na última revisão do contrato: na Euribor a 3 meses, a taxa de novembro do ano passado; na Euribor a 6 meses, a taxa de agosto do ano passado; e na Euribor a 12 meses, a taxa de fevereiro do ano passado. Ora, o que acontece é que, apesar da interrupção da descida de taxas entre janeiro e fevereiro, no caso da Euribor 3 meses a taxa de fevereiro deste ano é mais baixa que a taxa de novembro do ano passado e no caso da Euribor 6 meses, a taxa também é mais baixa que a praticada em agosto do ano passado. Já no caso da Euribor a 12 meses, apesar de a taxa ainda ser mais alta que a praticada em fevereiro do ano passado, essa diferença é bastante pequena. Mas como entre março do ano passado e fevereiro deste ano os detentores destes contratos amortizaram parte do capital em dívida durante as 12 prestações que pagaram ao banco, a nova prestação deverá mesmo diminuir na próxima revisão, ainda que num valor pouco significativo.
Num contrato de 150 mil euros, por exemplo, com um spread (margem do banco) de 1%, indexado à Euribor 12 meses, a prestação paga nos últimos 12 meses era de 763,06 euros. Com base na média da Euribor de fevereiro e tendo em conta que o capital em dívida é agora de pouco mais de 147.500 euros, a prestação a pagar ao banco será de 762,56 euros, menos 50 cêntimos. No caso de um contrato nas mesmas condições, mas indexado à Euribor 6 ou 12 meses, como para além de amortização de capital ocorrido também se regista uma descida nas taxas de juro, a diminuição da prestação a pagar ao banco é mais significativa: de 7,29 euros e 9,88 euros respetivamente.
Quanto já aumentou e como vai evoluir a prestação da casa
Empréstimo a 30 anos com spread de 1% || Valores das Euribor de fevereiro até dia 28
EURIBOR A 3 MESES
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EURIBOR A 6 MESES
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EURIBOR A 12 MESES
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Quando é que o BCE começa a cortar taxas de juro
A interrupção registada em fevereiro na descida das taxas Euribor está ligada às dúvidas sobre quando é que o BCE começará a diminuir taxas de juro, uma decisão que, por sua vez está dependente dos dados da taxa de inflação na zona euro.
Os últimos dados divulgados pelo Eurostat, o órgão estatístico da União Europeia, mostram que a taxa de inflação na zona euro em janeiro atingiu os 2,8%, ainda acima do referencial de 2% que o BCE pretende alcançar, mas bastante abaixo do valor de 10,6% registado em outubro de 2022. Valores que, não têm sido ainda suficientes para convencer o Conselho de Governadores do BCE a descer taxas de juro. Numa audição no Parlamento Europeu este mês, a líder do BCE, Christine Lagarde, reconheceu os dados positivos relativos à estabilidade dos preços, mas relembrou que ainda são necessários mais dados antes de agir em relação às taxas de juro. “Espera-se que o atual processo” de desaceleração da inflação “prossiga, mas o Conselho do BCE precisa de estar confiante de que nos conduzirá de forma sustentável ao nosso objetivo de 2%", sublinhava nessa audição a presidente do BCE.
As constantes declarações de Lagarde e de outros influentes membros do BCE no sentido de que ainda é cedo para começar a descer as taxas de juro tem levado a adiar as expectativas dos mercados em relação a essa data. Se numa primeira fase se acreditava que o primeiro corte de taxas poderia acontecer ainda no primeiro trimestre, agora, a expectativa é que essa mexida ocorra apenas até junho. Um recente inquérito da agência Reuters dava conta disso mesmo, com 45% dos inquiridos a apostarem nessa data.
Sem certezas em relação ao que irá acontecer, o BCE reúne-se novamente dia 7 de março para tomar decisões sobre política de taxas de juro, uma decisão que já terá em conta os dados da inflação na zona euro relativos a fevereiro que serão divulgados pelo Eurostat esta sexta-feira, dia 01.
NOTA 1 | O que são as taxas Euribor
Euribor é a abreviatura de Euro Interbank Offered Rate. As taxas Euribor baseiam-se nas taxas de juro que um conjunto de bancos europeus está disposto a pagar para emprestar dinheiro uns aos outros. No cálculo, os 15% mais altos e mais baixos de todas as cotações recolhidas são eliminados. As restantes taxas são calculadas como média e arredondadas a três casas decimais. O valor das taxas Euribor é determinado e publicado diariamente. Existem cinco taxas Euribor diferentes, todas com diferentes maturidades (uma semana, um mês, três meses, seis meses e 12 meses).
NOTA 2 | O BCE tem três taxas de juro de referência:
- A taxa das principais operações de refinanciamento, sob a qual os bancos podem contrair empréstimos junto do BCE pelo prazo de uma semana: está nos 4,50%, mas esteve fixada em zero entre março de 2016 e julho do ano passado;
- A taxa de depósito, que determina os juros que os bancos recebem pelos depósitos realizados junto do BCE: está em 4%. Mas entre julho de 2012 e junho de 2013 era de zero. E entre junho de 2013 e julho do ano passado era negativa, obrigando os bancos a pagar pelos depósitos que faziam no BCE;
- E a taxa de cedência de liquidez, que determina o juro que os bancos pagam quando contraem empréstimos junto do BCE pelo prazo de um dia (overnight). Está atualmente em 4,75%.