Os 37 depósitos que pagam mais que a inflação

ECO - Parceiro CNN Portugal , Luís Leitão
31 out 2023, 09:16
Dinheiro digital. Fonte: Adobe Stock

São quase 400 os depósitos a prazo disponíveis para as famílias aplicarem as suas poupanças, mas são poucos (menos de 10%) os que oferecem uma taxa de juro acima dos 3,58% da inflação. Conheça-os

Os depósitos são o produto financeiro de eleição dos portugueses. Segundo os últimos dados do Banco de Portugal sobre a composição da riqueza das famílias, mais de 49% do seu património financeiro está alocado em depósitos.

Por ocasião da celebração do Dia Mundial da Poupança, que se celebra esta terça-feira, o ECO palmilhou todo o mercado nacional para encontrar os depósitos com as taxas de juro mais elevadas. Consultámos o preçário de 28 bancos e instituições financeiras autorizadas pelo Banco de Portugal a operar no mercado nacional e analisámos a Ficha de Informação Normalizada (FIN) de 396 depósitos a prazo.

As conclusões estão longe de ser fantásticas para a carteira das famílias. Apesar da oferta existente no mercado ser ampla, são apenas 37 os depósitos (menos de 10% do total) que atualmente pagam acima da taxa de inflação homóloga, que em setembro se situou nos 3,58%, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística (INE). E pior: se for tido em conta a tributação de 28% sobre os juros gerados, apenas sobra um depósito capaz de proteger as poupanças dos portugueses do efeito corrosivo da inflação, ou seja, que pague 5% ou mais.

No entanto, mesmo essa “agulha no palheiro”, que é comercializada pelo Bankinter através do “Depósito a Prazo BK Mini”, não é para todos os clientes e dificilmente fará uma grande diferença na carteira de qualquer aforrador: além de apenas estar disponível para menores de 18 anos, só permite aplicações entre 100 e 1.000 euros.

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Na listagem dos depósitos com as mais elevadas taxa de juro sobressai a oferta de pequenos e médios bancos. Para os clientes mais avessos ao risco, a dimensão dos bancos ou até o facto de muitos nem sequer terem uma agência física pode ser motivo de preocupação. Mas não tem de ser. Há mais de 30 anos que os depósitos bancários estão garantidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. Atualmente, este mecanismo garante o reembolso da totalidade dos depósitos em cada instituição de crédito até ao limite máximo de 100 mil euros por depositante.

Se a segurança das poupanças não deverá ser um problema, encontrar um depósito que mereça as poupanças de uma vida sim. Os dados recolhidos pelo ECO mostram que, a maioria dos bancos continua a remunerar muito mal as poupanças dos portugueses. Há inclusive muitos depósitos que ainda apresentam taxas de juro nulas, apesar de nos últimos 15 meses o Banco Central Europeu (BCE) ter aumentado as taxas diretoras em 450 pontos base e colocado a taxa de facilidade permanente de depósito nos 4%.

"Alguns bancos têm também a particularidade de rotular os seus clientes, disponibilizando depósitos a prazo orientados de acordo com algumas das suas características. No entanto, ao contrário do que seria de esperar, essa diferenciação nunca é para os beneficiar."

A atual oferta de depósitos a prazo revela também que, além de a taxa de juro oferecida pela grande maioria dos depósitos a prazo não cobrir a perda de poder de compra gerada pelo efeito inflacionista, os bancos nacionais continuam a mostrar-se muito menos benevolentes do que os seus pares europeus.

Segundo os últimos dados do Banco de Portugal, a taxa de juro média dos novos depósitos até um ano em Portugal era de 1,75% em agosto. Para o mesmo período, os bancos da Zona Euro remuneravam, em agosto, as poupanças dos seus clientes com uma taxa de juro média de 3,01%, segundo dados do BCE — para prazos de aforro mais longos, a diferença entre Portugal e a média da Zona Euro persiste, se bem que de forma menos pronunciada.

É certo que tem havido melhorias por parte dos bancos portugueses nesta matéria, que ao longo dos últimos 12 meses têm procurado aumentar as taxas de juro dos depósitos, mas não tem sido um esforço suficiente. Entre agosto de 2022 e agosto deste ano, a taxa de juro dos depósitos até um ano em Portugal aumentou cerca de 1,74 pontos percentuais, mas, na Zona Euro, a remuneração destes mesmos depósitos cresceu 2,52 pontos percentuais, cerca de 1,5 vezes mais, segundo dados do BCE.

Esta dinâmica até fez com que Portugal tivesse abandonado o top 3 dos países com as mais baixas taxa de remuneração dos depósitos em que estava há cerca de um ano, ficando apenas à frente da banca irlandesa e eslovena. Porém, atualmente, os bancos portugueses figuram na quinta posição do ranking dos piores pagadores das poupanças das famílias.

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Efeito díspar na diferenciação dos clientes

Com os depósitos a serem vistos como o produto financeiro preferido e mais entendido pelos portugueses há décadas, não é de estranhar que os bancos recorram cada vez mais a campanhas promocionais sobre estes produtos para “pescarem” novos clientes, oferecendo taxas de juro nestes depósitos bem acima da média da sua oferta comercial.

É com base nesse propósito que nasceram e proliferam no mercado os depósitos para novos clientes e/ou novos recursos, como é o caso do “Super Depósito” a 3 e 6 meses, do Banco Big, o “Depósito Novos Clientes“, do Banco Best, ou o “Depósito Net Boas Vindas“, do Bankinter, que, atualmente, permitem aos seus novos clientes aplicarem as suas poupanças em depósitos a prazo com taxas de juro de 4% ou mais.

O problema coloca-se depois desse tempo passar, quando o estatuto de “novo cliente” passa para “cliente habitual”, tão grande que é o desfasamento entre a taxa de juro do depósito de boas-vindas, que não é renovável, e a restante oferta do seu cardápio. É o caso do Banco Best que, após pagar 4% por um depósito de boas-vindas a 6 meses, limita-se a pagar até 0,5% por um depósito a prazo também a 6 meses, segundo informação do seu preçário.

Esta situação é comum a quase todos os bancos e, por isso, serve de alerta às famílias para terem a preocupação e o cuidado de consultarem o mercado com alguma regularidade à procura dos melhores opções para o seu dinheiro, mas sobretudo quando o depósito a prazo estiver perto de vencer. Se encontrarem melhor solução noutro sítio poderá sempre mudar de banco. Ninguém o impede e as poupanças agradecem.

Alguns bancos têm também a particularidade de rotular os seus clientes, disponibilizando depósitos a prazo orientados de acordo com algumas das suas características. No entanto, ao contrário do que seria de esperar, essa diferenciação nunca é para os beneficiar.

"No universo dos depósitos a prazo, ficar parado à espera que os juros caiam na conta está longe de ser o caminho mais indicado. Tirar parte da concorrência no mercado, sobretudo junto dos bancos de menor dimensão, e aproveitar os depósitos promocionais revela-se na estratégia mais eficaz para encontrar os melhores depósitos."

Por exemplo, a Caixa Geral de Depósitos oferece um depósito a prazo não mobilizável a 6 meses para todos os clientes com uma taxa de juro de 3,5%. Caso os clientes pretendam continuar a aplicar as suas poupanças a 6 meses num depósito a prazo terão de aplicar o dinheiro através do “CaixaPoupança“, um depósito a 6 meses que paga 0,1%. Mas se forem reformados e auferirem uma pensão de velhice até três vezes o salário mínimo, podem aplicar as suas poupanças no “CaixaPoupança Reformado” que paga 0,005%. Numa aplicação de 10 mil euros, enquanto o depósito a prazo orientado para os reformados confere um juro líquido de 0,21 euros, o depósito pelo mesmo prazo para todos os clientes, reformados ou não, gera um juro líquido de 4,1 euros, cerca de 20 vezes mais.

Acontece o mesmo no Crédito Agrícola com o “CA Mulher”, um depósito a prazo a 3, 6, 12 e 24 meses, renovável, que paga entre 0,15% a 0,35% pelas poupanças realizadas por mulheres. No entanto, para os mesmos prazos de poupança, o Crédito Agrícola tem depósitos igualmente renováveis a pagarem bem mais que isso, independentemente do sexto do cliente. É disso exemplo o “Depósito a Prazo Normal”, que paga entre 0,15% e 1,25%, ou o “Depósito a Prazo DP Net”, que para aplicações a 1, 3, 6 e 12 meses para entre 1,75% e 3,5%.

No universo dos depósitos a prazo, ficar parado à espera que os juros caiam na conta está longe de ser o caminho mais indicado. Tirar parte da concorrência no mercado, sobretudo junto dos bancos de menor dimensão, e aproveitar os depósitos promocionais revela-se na estratégia mais eficaz para encontrar os melhores depósitos.

No entanto não espere ficar rico. A banca nacional, como mostram os dados do BCE, continua a mostrar-se muito reticente em acompanhar os bancos europeus na remuneração dos depósitos das famílias.

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