Os rostos do mundo rural que acenaram a Rodrigues dos Santos

23 jan 2022, 20:26
CDS na Feira do Fumeiro, em Montalegre

No último dia da feira do fumeiro, em Montalegre, a comitiva de Francisco Rodrigues dos Santos visitou as bancadas dos produtos regionais. Entre os participantes, vários aproveitaram para divulgar o seu negócio junto do candidato, outros teceram críticas ao PAN: "São totalmente contra o mundo rural". A CNN Portugal falou com alguns produtores.

O cheiro a enchidos e queijos da terra atravessa os corredores do mercado municipal, em Montalegre, com a abertura de várias bancas de iguarias regionais. Por causa da pandemia, os produtores foram forçados a recorrer à internet para venderem os seus produtos, até que a feira pudesse retomar o formato presencial. A Feira do Fumeiro tem sido várias vezes visitada por partidos políticos em tempo campanha eleitoral. E esta foi a vez do líder do CDS, que aproveitou o mundo rural para desferir várias críticas às propostas de Inês de Sousa Real, líder do PAN.

Banca atrás de banca, Francisco Rodrigues dos Santos interagia com os comerciantes e apelava ao voto no CDS-PP. Alguns não pareciam corresponder ao seu entusiasmo, tampouco quando entregava merchandising do partido, já outros aproveitavam o momento para partilhar as suas preocupações ou palavras de motivação. 

Eis que surge o "Cibinhos d'avó". "Significa bocadinhos, em latim", esclarece Paulo Dias, 37 anos. É produtor e gere um negócio familiar com a namorada e os pais, estes que se encontravam na banca do lado também a vender. Os produtos vão desde os fumados, ao pão, aos folares e aos queijos variados - "tudo coisinhas regionais". Paulo Dias gosta de vender em "sítios inesperados", como centros comerciais e mercados, sobretudo no Porto e em Lisboa. "Se Maomé não vai à montanha, vai a montanha a Maomé", justifica. 

Atrás da banca exibe uma imagem da avó, pioneira do negócio, aquela que conhecia o "saber fazer" de antigamente. "Infelizmente já não está aqui, mas se estivesse ficava pasmada", diz Paulo Dias, que teve de escolher entre emigrar ou manter o projeto da família. A produção aumentou, e hoje passa de mão em mão, dos pais, seus filhos, e futuramente netos. "A minha filha de 1 ano e 7 meses já sabe dizer cibinho", conta orgulhoso. 

"O interior está cada vez mais deserto"

É uma das bandeiras do CDS: investir no interior, que tem vindo a perder habitantes todos os anos, deixando para trás terrenos por explorar. "Está cada vez mais deserto", desabafa Paulo Dias. "Montalegre tinha 30 mil pessoas e, neste momento, conta apenas com 8 ou 9 mil". Número que deverá continuar a encolher na próxima década.

O produtor queixa-se do valor elevado das portagens sempre que tem de viajar até ao Porto, ao que se junta agora o aumento do combustível. E os políticos "divagam muito" em vez de resolverem estes problemas.  "Gostam de vender o peixe para a televisão, mas depois não fazem nada em termos concretos", critica Paulo Dias. Ainda assim, sugere a reducão dos impostos às empresas que se instalem no interior, bem como mais apoio na habitação. Desse modo, "tira-se algumas pessoas que estão a mais na cidade", contribuindo para uma demografia mais equilibrada.

Paulo Dias

"O porquinho nasce e serve para alimentar"

Numa banca paralela, Normanda Pires, de 40 anos, vende derivados de porco fumados, como chouriço, alheira, salpicão, "de tudo um pouco", diretamente do seu terreno, em Pitões das Júnias. Participa na feira há 22 anos e, tal como Paulo, dá seguimento aos costumes dos seus pais e avós.

Assim que a vê, o líder do CDS abraça-a. "Ele dá-nos muito apoio", afirma a comerciante aos jornalistas. "Ao contrário do PAN, nós estamos mentalizados de que o porquinho nasce e serve para alimentar". Garante que adora os animais e que os seus são "super bem tratados", desde o momento do seu nascimento. "Andam ao ar livre, recolhem quando querem e saem quando querem", explica. A alimentação, diz ser toda natural, à base de cereais, couves, nabos, beterraba, enfim, "tudo o que a terra pode dar".

Normanda recorda os tempos em que os animais eram alimentados através de um alçapão. "Todos os restos do que fazíamos na cozinha eram dados aos porcos", lembra, remetendo-nos para a aldeia típica de Pitões das Júnias, onde o rés-do-chão das casas pertencia aos animais e as famílias ficavam no andar de cima. Foi habituada pelo pai ao trabalho no campo, desde tenra idade, e os dois filhos também lhe seguiram as pisadas. Atualmente, mantém a casa onde cresceu, agora transformada em turismo rural, mas também é lá que mantém o seu terreno e leva a cabo a produção. 

Normanda Pires

"As medidas do PAN são totalmente contra o mundo rural"

Márcio Azevedo e a esposa apresentam-se como um 2 em 1 na feira do fumeiro. Num lado, o produtor de 42 anos vende os enchidos do "Casa do Igreja", com origem em 1564, em Cabril. Atrás de si, Catarina Rodrigues, de 36 anos, dedica-se à venda das compotas da mesma marca. Ajudam-se mutuamente a partir de uma porta que une as duas bancas.

Com a visita do CDS, torna-se inevitável abordar as medidas propostas pelo PAN que, para Márcio, "são totalmente contra o mundo rural". "É gente tendencialmente urbana", afirma, acusando o partido de querer levar as tradições portuguesas à extinção, "principalmente nas zonas rurais". Sente-se triste, considera a situação "inconcebível". Por outro lado, assume que o trabalho lhe corre bem e as vendas online continuam a ser uma opção.

Catarina Rodrigues e Márcio Azevedo

Em declarações aos jornalistas, Francisco Rodrigues dos Santos abordou uma vez mais “o ataque aos caçadores” feito pelo PAN, que os responsabiliza pelo declínio das espécies. “É uma agenda ditatorial que quer destruir o mundo rural, e hoje estou em defesa desse modo de vida dos produtores, agricultores e caçadores de animais”, afirma, acrescentando que estes são os verdadeiros ambientalistas. O candidato do CDS defende ainda a potenciação do valor económico do setor da caça em Portugal, visando “a criação de valor, riqueza, postos de trabalho e dinamismo do interior do país”. “Os caçadores não são terroristas, são gestores da biosfera”, remata.

 

 

 

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