opinião
Professor Auxiliar na Universidade Europeia e IPAM

A batalha da perceção nos debates eleitorais. Dois a um para Pedro Nuno Santos

26 fev, 15:04

Os momentos iniciais e finais de um debate são momentos da verdade, instantes decisivos, oportunidades de ouro para convencer e persuadir o eleitorado. As estratégias de comunicação utilizadas pelos políticos nos debates, influenciam significativamente o seu resultado. A capacidade dos candidatos a primeiro-ministro apresentarem mensagens claras, fazendo uso nomeadamente de uma linguagem enfática, aliada ao uso eficaz dos sinais não-verbais e de uma argumentação eficaz, têm um impacto relevante nas criação de perceções de credibilidade e de empatia, fatores essenciais para ganhar a confiança e o apoio dos eleitores. Assim, tanto as estratégias de comunicação verbal, como as não-verbais, devem ser devidamente preparadas e executadas, para maximizar a influência durante os momentos críticos de abertura e encerramento de um debate. Os momentos da verdade!

No primeiro momento em que a câmara foca os candidatos, ainda antes sequer de começarem a falar, o tempo começa a contar, e a comunicação não-verbal começa a ditar a dinâmica da gestão de impressões onde, o que podem parecem ser meros pormenores, são, na verdade, ‘pormaiores’, dado o poder que têm para influenciar, de forma mais ou menos consciente, as perceções de vitória ou derrota num embate político.

  • Instantes iniciais: 1 ponto para Luís Montenegro: a primeira vez que a câmara foca Luís Montenegro este encontra-se com um olhar dirigido para o painel de jornalistas, descontraído na cadeira, com a mãos confortáveis em cima da mesa. Pelo contrário, a primeira imagem projetada por Pedro Nuno Santos, é de contato ocular nulo e de ajustes na cadeira, o que pode transmitir a ideia aos eleitores de que não está tão seguro e comprometido com o debate.
  • Abertura: 1 ponto para Pedro Nuno Santos. Apesar do candidato da AD ter começado a narrativa de forma afável, não transmitiu a convicção indispensável para o desafio inicial que a jornalista lançou aos candidatos. A sua resposta tem algumas hesitações, desvios de olhar e uma gesticulação suave. Já Pedro Nuno Santos, apresenta um excelente contato visual, uma voz forte e com contraste, gesticula de forma assertiva e cria a perceção que está sentado mais alto na cadeira, o que lhe permite criar um diferencial de poder sobre o seu adversário. No plano da narrativa também começa com o ‘pé direito’, pois assume uma posição de chefe de estado, quando refere que apesar de estar aberto a negociações com os policias, não o fará sobre coação. Faltou a ambos os candidatos a utilização de linguagem colorida nos momentos iniciais, como o uso, por exemplo, de analogias, que permitissem criar uma imagem plausível em torno do conteúdo. Por exemplo, quando Pedro Nuno Santos referiu que estava aberto a negociações com os policias, mas sem estar debaixo de coação, poderia ter acrescentado: ou seja, o convite para nos sentarmos à mesa está feito, mas o menu é para ser escolhido com flexibilidade. Aliás, a ausência de linguagem enfática foi uma constante ao longo do discurso, o que o tornou algo seco, como se lhe faltasse tempero.

  • Encerramento: 1 ponto para Pedro Nuno Santos. Outro dos momentos centrais para influenciar decisivamente o eleitorado é o encerramento que, neste caso, foi acordado ser de 1 minuto para cada candidato. Ao nível da forma, fundamental para criar perceções de liderança carismática e eficaz, na generalidade, ambos os candidatos utilizaram uma comunicação não-verbal adequada, com um bom contato visual, o que revelou uma boa preparação. Luís Montenegro começou com gestos de autoconfiança e polarização para passar a mensagem de que a escolha nas próximas eleições legislativas é entre ele e Pedro Nuno Santos. E continuou com um nível de gesticulação elevado e quase sempre sintónico com as suas palavras. Por vezes, franziu a testa, o que lhe retirou alguma proximidade, mas mais para o fim esboçou alguns sorrisos ténues, com o corpo chegado para frente, utilizando gestos relativamente amplos, com marcação relevante, o que revelou algum entusiasmo e poder pessoal. Ao nível do conteúdo, utilizou alguns exemplos, mas perdeu demasiado tempo inicialmente a falar do seu adversário, o que conduziu a uma má gestão do tempo, com alguma perda de impacto da mensagem junto da audiência. Atrapalhou-se um pouco, quando foi alertado pela jornalista de que o tempo tinha escoado e quebrou por segundos o flow da sua narrativa. Trouxe demasiado conteúdo para 1 minuto apenas, retirando foco e robustez à sua mensagem. Faltou-lhe utilizar mais linguagem enfática, para facilitar a retenção do seu conteúdo junto do eleitorado. Faltou-lhe, também, deixar clara uma maior ligação com o principal slogan da sua campanha. Pedro Nuno Santos por seu turno, começou a sua mensagem final com um bom nível de energia, gesticulando com uma marcação elevada, modulação na voz, um bom ritmo de discurso e o corpo bem direito e projetado para a frente, revelando um forte compromisso com o eleitorado. Estes comportamentos utilizados pelo candidato do PS, são importantes para contagiar emocionalmente o eleitorado. Terminou a sua mensagem com um sorriso ténue o que ajuda a criar proximidade. Poderia ter utilizado uma maior variedade de gestos, mais expressividade na face e mais acenos de cabeça, para trazer ainda mais cor ao seu discurso. Estes comportamentos estão associados a proximidade e poder pessoal no âmbito da liderança. Ao nível da narrativa utilizou uma estrutura mais simples do que a de Luís Montenegro, e que podemos dividir, entre aquilo que o governo do PS conseguiu conquistar até ao momento e aquilo que quer fazer com futuro, com ambição. Utilizou, ainda que de forma pouco abundante, linguagem enfática, quando por exemplo referiu ‘não arrastar os pés’. Fez uso do recurso da repetição, utilizando palavras fortes e que ficam na memória das pessoas como: fazermos mais; fazer hoje; queremos mais; avançar. Por fim, cumpriu o tempo e finalizou a sua mensagem apelando ao espírito de cooperação dos Portugueses, estabelecendo com uma ligação feliz com o slogan da sua campanha: ‘Por um Portugal Inteiro’.

Em conclusão, os momentos iniciais e finais do debate são decisivos. São momentos da verdade, que convidam os políticos a uma preparação cuidadosa. São as mensagens verbais e não-verbais veiculadas nestes momentos, que têm mais impacto sobre as pessoas.

Nesta análise, Pedro Nuno Santos conquista dois pontos em três possíveis e Luís Montenegro apenas um. Entre a qualidade do conteúdo e a gestão de impressões não se escolhe, atua-se sobre ambas. Porém, é preciso gerir bem esta última, para que as pessoas estejam mais recetivas a receber o conteúdo e a reter as principais mensagens com maior facilidade.

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