Como os protestos na China estão a ter impacto na economia mundial

CNN , Nicole Goodkind
3 dez 2022, 22:00

Manifestações são um caso extremamente raro de desobediência civil generalizada na China

Os protestos contra as medidas prolongadas e restritivas contra a covid na China espalharam-se por todo o país no fim de semana passado. As manifestações contra o presidente chinês Xi Jinping, e contra a dispendiosa política de zero-covid, são um caso extremamente raro de desobediência civil generalizada.

Embora os protestos representem um desafio sem precedentes para Xi, também têm implicações económicas e nos mercados. O petróleo caiu a pique e atingiu valores mínimos de 2022 a 28 de novembro, e as ações de empresas que dependem da produção chinesa foram afetadas. As ações da Apple caíram 2,6% após relatos de que a agitação numa das suas fábricas poderia resultar na produção de menos seis milhões de iPhone Pro este ano.

O que está a acontecer: a controversa política de Zero-Covid da China afetou a vida quotidiana e teve um enorme peso na economia. Quando os surtos se agravam, cidades inteiras são fechadas. Xangai esteve cerca de dois meses em confinamento esta primavera, e Chengdu, uma cidade de 21 milhões de habitantes, foi isolada no outono.

No início deste mês, Pequim aliviou algumas restrições relacionadas com a covid, gerando alguma esperança de que a economia pudesse reabrir completamente em breve, mas os governos locais voltaram a apertar o controlo à medida que os casos foram aumentando. A política não parece estar a funcionar, pois o número de casos atingiu um recorde máximo, mas a baixa taxa de vacinação na China, as vacinas relativamente ineficazes e o envelhecimento da população significam que a alternativa pode ser muito letal.

A crescente tensão política também tem sido difícil de interpretar. No início, os protestos pareciam centrados nas restrições relacionadas com a covid, mas agora parecem carregar exigências mais amplas por reformas políticas. As folhas de papel em branco exibidas pelos manifestantes em Xangai, o centro financeiro do país, já se tornaram símbolos icónicos da provocação contra um governo que limita a liberdade de expressão.

Impacto económico: as pessoas em confinamento dizem ter dificuldades em encontrar alimentos e em satisfazer necessidades básicas. O crescimento económico diminuiu e o desemprego aumentou como consequência dos confinamentos.

A política também levou a grandes restrições na produção global que sustém a inflação. As pressões globais na cadeia de abastecimento aumentaram moderadamente em outubro, após cinco meses consecutivos de abrandamento, em grande parte devido ao aumento nos prazos de entrega de produtos asiáticos, segundo o Índice de Pressão Global da Cadeia de Abastecimento do Banco da Reserva Federal de Nova Iorque.

Ainda assim, as matérias-primas derraparam devido às preocupações com a China, na segunda-feira dia 28. Os preços do petróleo caíram acentuadamente, com os investidores preocupados com o facto de o aumento dos casos de covid e os protestos na China poderem diminuir a procura por parte de um dos maiores consumidores de petróleo do mundo.

O que se segue: as autoridades do Estado chinês estão numa situação estranha. Não querem acabar com a política relacionada com a covid, mas ao mesmo tempo querem garantir que a agitação política não aumenta. As empresas que fazem negócios na China estão atentas a quaisquer pistas sobre o que o futuro pode reservar. Também estão a considerar transferir a produção para fora do país, a longo prazo. A Apple já transferiu parte de sua produção para a Índia.

A Goldman Sachs, num relatório de análise publicado na noite de domingo, dia 27 de novembro, previa que os protestos poderiam levar a China a abandonar a política de Zero-Covid antes da data esperada, com “algumas hipóteses de uma saída forçada e desordenada”.

Mas os próximos dias podem ser cruciais. Se os protestos se voltarem a intensificar, o governo chinês será provavelmente obrigado a reagir de alguma forma. Na terça-feira, anunciou um “plano de ação” para impulsionar a vacinação entre os idosos. Mas “com uma rápida disseminação de novos casos de covid, é difícil de imaginar uma suspensão abrangente das restrições que daria um impulso significativo às perspetivas económicas do país, para o próximo ano”, disse Christopher Smart, responsável pela estratégia global no Baring. “Seja como for, a incerteza contínua da política pandémica levará a mais pressões nas cadeias de abastecimento globais e manterá os preços mais altos do que seriam de outra forma.”

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