Opinião (contra): Porque é que Carlos não é o meu rei

CNN , Graham Smith
3 mai 2023, 09:00
Carlos III (Getty Images)

"Está na altura de acabar com este disparate da monarquia"

Nota do Editor: Graham Smith é presidente executivo da organização de campanha Republic, que tem como objetivo abolir a monarquia e substituí-la por um chefe de Estado eleito. É autor do livro, prestes a ser publicado, "Abolish the Monarchy: Why We Should and How We Will" [tradução à letra: “Abolir a Monarquia: Porque Devemos e Como o Faremos”]. As opiniões expressas neste artigo são da sua inteira responsabilidade.

 

Opinião: Queremos uma escolha em vez de Carlos

Quando o Rei Carlos subir a rua do Palácio de Buckingham na sua carruagem puxada por cavalos, a 6 de Maio, para a sua coroação, eu estarei por perto, a protestar a favor da abolição da monarquia britânica.

Juntar-se-ão a mim muitos outros manifestantes, cada um de nós determinado a fazer duas coisas: mostrar ao mundo que a Grã-Bretanha não é uma nação de monárquicos e dizer ao povo britânico que é tempo de acabar com este disparate.

A monarquia está sempre errada em princípio e não é boa na prática. O apoio que teve até há pouco tempo foi sustentado pela Rainha, pela deferência dos média e pelo secretismo oficial (a Casa Real está isenta de pedidos de Liberdade de Informação).

Esse apoio está agora a diminuir. De acordo com uma recente sondagem da Savanta, o apoio à abolição - ou seja, a Grã-Bretanha ter um chefe de Estado eleito - aproxima-se de um terço. Mais ainda entre os jovens com menos de 35 anos, onde é quase metade.

O mais importante é que a maioria das pessoas simplesmente não está interessada na coroação. Depois de uma série de escândalos - desde acusações de racismo (a Casa Real afirma que cumpre as disposições da Lei da Igualdade) até à saga do Príncipe André (que tem negado continuamente as alegações de abuso sexual) - a monarquia está agora reduzida a um quarteto pouco inspirador: Carlos e Camila, William e Kate. Não são pessoas para dar a volta a sondagens em queda.

Mas embora seja quase certo que em Carlos temos um chefe de Estado que perderia uma eleição livre e justa, a oposição à monarquia não tem a ver com os membros da casa real. Sim, na minha opinião, a monarquia é corrupta, culpada de abusos sistemáticos de cargos públicos e de dinheiros públicos, embora legitimados pelo governo.

Mas há preocupações mais profundas por detrás do crescente impulso para uma república. Trata-se de reconhecer a força dos ideais democráticos e os fracassos da própria democracia britânica. Trata-se de uma reforma democrática que não deixa espaço para o poder e privilégios hereditários.

A monarquia não só nos obriga a comprometer os nossos valores, a criar espaço intelectual para cargos públicos hereditários e para uma instituição mergulhada nos crimes da escravatura e do império, como também não consegue criar ou defender uma cultura ou constituição democráticas.

Muito pelo contrário, a monarquia é a fonte de muita coisa que está errada na nossa política. A Coroa é a fonte de todo o poder político e jurídico. Os tribunais exercem o seu poder em nome da Coroa, tal como os ministros do governo.

Nos últimos 300 anos, os poderes do monarca foram simplesmente transferidos para o governo, permitindo-lhe declarar guerra, assinar tratados e controlar o parlamento. O poder está altamente centralizado, o governo é livre de fazer o que lhe apetece, com poucos controlos e equilíbrios para o impedir.

É revelador que os monárquicos reduzam tantas vezes o argumento aos custos e benefícios económicos, uma vez que argumentos mais sérios nunca favorecem a monarquia. Poderão dizer que a monarquia nos defende da tirania, mas isso é manifestamente falso. No entanto, o mesmo acontece com as alegações de ganhos económicos que foram desmentidas. De acordo com a investigação da minha organização, não há lucro com a monarquia, apenas custos.

Custos para as finanças da nossa nação, certamente, mas também para os nossos valores democráticos e para a forma como a nossa democracia funciona na prática.

Uma república parlamentar, pelo contrário, dar-nos-ia controlos e equilíbrios, dispersaria o poder entre o governo, o parlamento e o povo e teria um chefe de Estado responsável - um de nós que nos representasse verdadeiramente.

Não para dirigir o governo, mas para proteger a nossa Constituição. É um modelo que funciona bem em toda a Europa, nomeadamente na Irlanda.

Por isso, quando gritamos a Carlos “Not My King!” (“Não é o meu rei!”), isso é uma declaração orgulhosa do princípio democrático - que não reconhecemos a pretensão de ninguém de estar acima de nós devido ao seu nascimento. Em vez disso, exigimos uma democracia que celebre os nossos princípios mais nobres e os nossos maiores esforços.

No dia 6 de maio, trata-se de dizer muito claramente que queremos uma eleição em vez de uma coroação - e uma escolha em vez de Carlos.

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