Quem paga o “Coração Francisco”? Gigante homenagem ao Papa arrisca-se a custar uma fortuna à Câmara de Ourém

13 ago 2023, 23:27

Seis anos depois da inauguração em Fátima, o artista plástico autor da obra vai avançar com uma queixa contra a autarquia e reclamar mais de meio milhão de euros

Fernando Crespo demorou seis anos a recompor-se do abalo que teve nas suas finanças pessoais por ter tido a ideia e assumido a construção de um coração com 22 toneladas de aço em homenagem ao Papa Francisco.

O “Coração Francisco” foi inaugurado na véspera da primeira visita do Papa a Portugal em 2017, e ainda hoje é fotografado por centenas ou milhares de pessoas por dia quando visitam Fátima, num símbolo dedicado ao Sumo Pontífice e ao centenário das aparições.

O problema é que o “Coração Francisco” nunca foi pago ao artista plástico e Fernando Crespo entrou em insolvência, num abalo com epicentro naquilo que diz ser a forma que a Câmara Municipal de Ourém encontrou para financiar uma obra que a autarquia não podia fazer num tão curto espaço de tempo - em dois meses, a tempo da chegada do Papa -, contornando a lei dos contratos públicos.

O mecenas que segundo Fernando Crespo foi encontrado pelo então presidente da autarquia, o socialista Paulo Fonseca, não pagou o acordado e desde aí que o artista entrou num “calvário” para convencer a câmara a pagar uma obra que teria encomendado.

O problema é que sem contrato o novo presidente da Câmara Municipal de Ourém, o social-democrata Luís Albuquerque, recusou pagar a obra e assumiu o “Coração Francisco” como propriedade da autarquia, apenas admitindo pagar 60 mil euros pelos direitos de autor (excluindo os custos da construção), com base num parecer jurídico que custou 18 mil euros.

O atual presidente da autarquia justifica-se com um e-mail enviado pelo próprio artista plástico, antes da construção, em 2017, a prometer doar a peça de arte, e-mail que o artista plástico diz que foi ditado, por escrito, pelo anterior líder do município, sempre com base no pressuposto que o mecenas (que nunca pagou) iria financiar a obra.

Por lei, Fernando Crespo tem vinte anos para reclamar o dinheiro e garante que agora, depois de refazer as suas finanças pessoais, tem capacidade para iniciar um longo e caro processo contra o município, exigindo pelo menos meio milhão de euros, tendo como provas os e-mails que trocou com o ex-líder da autarquia no ano da primeira visita do Papa.

Contactado pela TVI/CNN Portugal, o antigo presidente da Câmara Municipal de Ourém, Paulo Fonseca, recusou fazer qualquer comentário à obra que permitiu construir o "Coração Francisco".

País

Mais País

Patrocinados