Estudo desvenda "mistério" da invasão biológica do coelho europeu na Austrália

Agência Lusa , BMA
22 ago 2022, 22:23
Coelho europeu (Getty Images)

Análise da composição genética dos coelhos revela que estes tinham uma “origem maioritariamente selvagem”, característica que, defendem os autores, Austin “escolheu propositadamente”, uma vez que pretendia usá-los para a caça

Uma equipa internacional, liderada por investigadores do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO-InBIO), desvendou a razão pela qual foram necessários mais de 70 anos para se verificar a invasão do coelho-europeu na Austrália.

Em comunicado, o centro da Universidade do Porto esclarece que o estudo, publicado esta segunda-feira na revista americana PNAS, decifra o “mistério” da invasão do coelho-europeu no continente australiano. 

“A colonização da Austrália pelo coelho-europeu é uma das invasões biológicas mais famosas da história”, salienta o centro, lembrando que a espécie foi levada para aquele continente, pela primeira vez, em 1788, mas que só na segunda metade do século XIX o coelho-europeu “se tornou uma peste”. 

“A expansão, que cobriu uma área 13 vezes maior que a Península Ibérica, mudou irreversivelmente a paisagem Australiana e deixou um rastro de destruição nos ecossistemas e propriedades agrícolas”, refere. 

A investigação internacional, liderada por investigadores do CIBIO-InBIO e das Universidades de Cambridge e Oxford, combinou dados de ADN com documentos históricos, tendo demonstrado que a invasão foi “desencadeada pela ação de uma única pessoa: Thomas Austin”, um emigrante britânico que, em 1859, importou 24 coelhos de Inglaterra. 

“A história era célebre, mas a evidência do papel de Thomas Austin na invasão era difusa porque há registo de outras introduções. No entanto, o perfil genético dos coelhos australianos permitiu-nos rastrear a origem da invasão precisamente à propriedade onde Austin viveu, no sudoeste da Austrália”, afirma, citado no comunicado, Joel Alves, primeiro autor do artigo e investigador do CIBIO-InBIO.

No estudo, os investigadores conseguiram ainda seguir a linhagem genética dos coelhos e chegar à vila onde Austin nasceu em Inglaterra e de onde os coelhos foram capturados para serem, posteriormente, transportados para a Austrália. 

Uma análise da composição genética dos coelhos revela que estes tinham uma “origem maioritariamente selvagem”, característica que, defendem os autores, Austin “escolheu propositadamente”, uma vez que pretendia usá-los para a caça. 

“Durante a domesticação, os coelhos foram selecionados para várias características como diferentes colorações e mansidão. Isto tornou-os menos preparados para sobreviver no ambiente selvagem australiano”, acrescenta ainda Miguel Carneiro, coautor do estudo e também investigador no centro da Universidade do Porto.

A par dos genes, existiram outros fatores que contribuíram para o sucesso dos coelhos de Austin, nomeadamente, o facto de “estarem mais bem adaptados”, mas, principalmente, “o impacto humano”, como a “eliminação de predadores e a expansão de terrenos agrícolas”.

“Este estudo mostra a excecionalidade dos coelhos como modelo biológico a todos os níveis, mas, mais do que tudo, é uma demonstração inequívoca da importância da ciência para informar e desenvolver políticas de conservação”, refere Nuno Ferrand, um dos autores do estudo e atual diretor do CIBIO-InBIO. 

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