Como dois franceses enganaram as farmácias portuguesas e compraram 180 embalagens de xarope para a tosse por causa de um opioide cada vez mais procurado

22 mai 2023, 18:46

Objetivo era enviar os medicamentos para França. O remédio misturado com refrigerante forma o conhecido "purple drank" ou "lean", droga que tem vindo a conquistar mais consumidores nos últimos anos

Andavam de farmácia em farmácia e através de receitas falsas levantavam medicamentos, que depois enviavam para França. Os dois suspeitos são homens, têm 25 anos, e foram capturados pela Divisão de Investigação Criminal da PSP de Lisboa, esta segunda-feira.

Em apenas quatro dias, compraram pelo menos 180 embalagens de Toseína,  o que corresponde a 44.250 mililitros de um xarope utilizado em casos de tosse seca e persistente cujo principal agente ativo é a codeína, um analgésico derivado da morfina que causa dependência se for usado com frequência.

Este xarope é conhecido por ser consumido em altas doses e misturado com refrigerantes para fins recreativos. Bebida comumente apelidada de "purple drank" ou "lean", a codeína acaba por criar um efeito semelhante ao da heroína, mas mais lento.

Esta é uma droga altamente aditiva e que está a gerar preocupação um pouco por todo o mundo, estando também a ganhar consumidores em Portugal.

Os dois suspeitos foram apanhados em flagrante delito, no domingo, em Lisboa. Os dois homens foram vigiados durante milhares de quilómetros ao longo de quatro dias, um pouco por todo o país. No Algarve, por exemplo, esvaziaram as farmácias durante o fim de semana, sempre com a mesma receita.

Suspeitos contornaram sistema de controlo do SNS

Este medicamento só pode ser vendido com receita médica e, neste caso, a prescrição foi obtida na sequência de uma teleconsulta com uma especialista de uma clínica, em Lisboa. Os suspeitos disseram que tinham sintomas como tosse seca e a médica que os observou receitou-lhes o xarope de toseína. Contudo, a receita original era para apenas duas embalagens, só que os dois homens foram alterando a receita, falsificando as quantidades para um valor sempre superior.

No SNS, uma receita depois de ser aviada, fica inutilizável, mas os suspeitos são cidadãos estrangeiros e, por isso mesmo, não possuem número de utente português, o que torna o rastreamento da receita impossível. A receita acabou por ser prescrita de modo manual, o que faz com que após a venda não possa ser dada como aviada no sistema informático das farmácias. A prescrição ficava cativada apenas em cada farmácia.

O uso recreativo de codeína tem aumentado a nível global. Segundo um estudo recente patrocinado pelo Parlamento Europeu, a procura por este opioide subiu aproximadamente 27% na ultima década.

Os dois suspeitos detidos em Lisboa ficam a aguardar julgamento em prisão preventiva, indiciados por tráfico de droga e falsificação de documentos.

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