Cientistas criam o primeiro embrião humano sintético

16 jun 2023, 19:02
Primeiro embrião sintétivo yacobchuk/iStockphoto/Getty Images (CNN)

Criação de estruturas semelhantes a embriões sem recorrer a óvulos e espermatozóides está a levantar questões quanto à sua legalidade e ética

Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos e do Reino Unido criaram as primeiras estruturas semelhantes a embriões apenas com recurso a células estaminais, ou seja, sem recorrer a óvulos e espermatozóides, segundo a CNN

Segundo Magdalena Zernicka-Goetz, professora de biologia e engenharia biológica no CalTech e na Universidade de Cambridge, estas estruturas semelhantes a embriões que os investigadores criaram em laboratório, são as primeiras a ter células germinativas que se desenvolvem sem óvulos e espermatozóides.

A especialista acrescenta que, do seu conhecimento, esta foi também a primeira vez que foi criado um modelo de embrião humano com três camadas de tecido de células, ou seja, o embrião deixa de ser uma folha contínua de células para formar linhas celulares distintas e estabelecer os eixos básicos do corpo.    

Ainda que estas estruturas semelhantes a embriões estejam nas fases mais precoces do desenvolvimento humano - porque não têm um coração a bater nem cérebro - os cientistas estão confiantes que servirão para ajudar a compreender melhor as doenças genéticas e as causas dos abortos espontâneos, uma vez que, segundo Zernicka-Goetz, "a maioria das gravidezes falha na altura do desenvolvimento em que construímos estas estruturas semelhantes a embriões". Aliás, os embriões já contam com células responsáveis por desenvolver o saco vitelino, uma placenta e o próprio embrião.

O jornal britânico The Guardian foi o primeiro a publicar o estudo e avança que o seu objetivo é permitir aos cientistas aceder e compreender o período de desenvolvimento do embrião chamado de "caixa negra", período de desenvolvimento assim chamado porque os cientistas só podem cultivar embriões em laboratório até ao limite legal de 14 dias. Depois, o acompanhamento é feito através de exames de gravidez e de embriões doados para investigação.

"A ideia é que se modelarmos realmente o desenvolvimento embrionário humano normal utilizando células estaminais, podemos obter uma enorme quantidade de informação sobre como começamos o desenvolvimento, o que pode correr mal, sem termos de utilizar embriões precoces para investigação", indica Robin Lovell-Badge, diretor do departamento de biologia das células estaminais e genética do desenvolvimento do Instituto Francis Crick, em Londres.

O trabalho foi apresentado esta quarta-feira, na reunião anual da Sociedade Internacional para a Investigação em Células Estaminais, em Boston, e a investigadora Magdalena Zernicka-Goetz disse que a investigação foi aceite numa revista científica de renome, mas não foi publicada.

Por enquanto, segundo o The Guardian, os investigadores não tencionam utilizar clinicamente os embriões sintéticos. Uma vez que, para além de ser ilegal implementá-los no útero de uma paciente, ainda não se sabe se estas estruturas têm potencial para continuar a crescer para além das primeiras fases de desenvolvimento.

No entanto, segundo a CNN, este avanço cientifico tem sido alvo de críticas quanto à legalidade e ética da investigação. O ritmo destas descobertas e a crescente sofistificação destes modelos tem alarmado os especialistas da bioética. Nos Estados Unidos da América e noutros países não existem leis que regulem a criação ou o tratamento de embriões sintéticos.

"Ao contrário dos embriões humanos resultantes da fertilização in vitro (FIV), em que existe um quadro jurídico estabelecido, não existem atualmente normas claras que regulem os modelos de embriões humanos derivados de células estaminais. Há uma necessidade urgente de regulamentação que forneça um quadro para a criação e utilização de modelos de embriões humanos derivados de células estaminais", afirmou James Briscoe, diretor de investigação associado do Francis Crick Institute, num comunicado.

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