EUA avisam Pequim: Xi Jinping “deve retirar as lições” das sanções à Rússia

7 abr 2022, 05:43
Joe Biden e Xi Jinping falam pela primeira vez do conflito na Ucrânia numa conversa telefónica de duas horas

Número 2 do Departamento de Estado voltou a ameaçar com sanções económicas coordenadas do Ocidente caso a China dê “ajuda material” à Rússia na guerra contra a Ucrânia

É um aviso repetido, mas agora com exemplos concretos: a China deve olhar para as sanções económicas que o Ocidente está a impor continuamente à Rússia para perceber o que poderá acontecer caso dê “ajuda material” ao regime de Vladimir Putin. "Penso que basta olhar para o leque de sanções [contra a Rússia], mais aquelas a anunciar hoje”, para que Pequim perceba o risco que corre se aceitar ajudar Moscovo neste conflito, disse ontem Wendy Sherman, a nº2 do Departamento de Estado, o equivalente norte-americano ao Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Sherman falava numa audiência perante a Comissão de Negócios Estrangeiros da Câmara dos Representantes, no Congresso dos EUA. O "leque de sanções" e os controlos de exportação coordenados entre os estados Unidos e os seus aliados contra Vladimir Putin, a economia e os oligarcas russos, devem servir de exemplo para o líder chinês Xi Jinping, disse a vice-secretária de Estado.

A barragem de sanções ocidentais “dá ao Presidente Xi, penso eu, uma boa compreensão do que poderá vir a acontecer se ele, de facto, apoiar Putin de qualquer forma material", afirmou Sherman.

Joe Biden já fez avisos semelhantes, na última conversa que manteve com Xi Jinping, e o titular dos Negócios Estrangeiros dos EUA, Antony Blinken, tem feito o mesmo de forma reiterada. Mas Washington nunca concretizou que tipo de ajuda chinesa seria alvo de retaliação, e que tipo de sanções poderiam estar em causa. Perante os congressistas, Sherman elencou as sanções contra a economia russa - "contra indivíduos que são facilitadores, contra elites, contra oligarcas, controlos de exportação, designações" -, dando a entender que poderia ser seguido um caminho semelhante contra a China. E salientou que as decisões contra a Rússia têm sido tomadas, "de forma sem precedentes”, em coordenação com os aliados e parceiros dos EUA. 

"Esperamos que a República Popular da China aprenda algumas lições com isto", afirmou a governante norte-americana, referindo não só um potencial apoio à Rússia, mas também alguma tentação de recurso à força em relação a Taiwan. “Espero que aprendam a lição: que as sanções magoam, que elas vão crescendo, e que as ações têm consequências.”

 

China dividida?

 

A nº2 do Departamento de Estado considerou que não há dúvidas sobre o alinhamento da China com a Rússia, que Pequim considera ser o seu grande aliado estratégico, mas admitiu que a forma como está a decorrer a guerra russa na Ucrânia pode estar a ser difícil de gerir por parte do governo chinês.

"Penso que todos vimos indícios de que eles estão de algum modo em conflito [interior]", disse Sherman, sobre o que se passará em Pequim. "Isso não quer dizer que eles não vejam a Rússia como um parceiro. Eu não sou ingénua. Eles vêem, sim.” Porém, imagens com as do massacre de Bucha poderão estar a condicionar a China no eventual suporte à agressão russa.

“Eles [China] têm vindo a público dizer que não têm uma aliança [com a Rússia]", lembrou Sherman. "E certamente ficaram horrorizados com o que aconteceu em Bucha", acrescentou a vice de Blinken. "Quem não ficaria ao ver aquele vídeo?"

A China tem-se apresentado como uma parte neutral neste conflito, mas recusou-se até agora a condenar a invasão russa, e não apoiou nenhuma das resoluções aprovadas pelas Nações Unidas contra a agressão. 

O embaixador da China nas Nações Unidas, Zhang Jun, considerou “muito perturbadoras” as imagens de Bucha, mas avisou que só após uma investigação independente se poderá saber o que se passou e quem fez o quê. Entretanto, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China pediu contenção a ambas as partes nos comentários sobre aquilo que Pequim designa como o "incidente de Bucha". Segundo este porta-voz, qualquer acusação será infundada, até que uma investigação esclareça como foram mortos os civis filmados em Bucha. 

Apesar desta cautela, neste caso concreto, a China tem reproduzido o essencial dos argumentos do Kremlin, nomeadamente apoiando as preocupações russas sobre o alargamento da NATO e a necessidade de “desnazificar” a Ucrânia. A China também reproduziu as acusações russas de que a Ucrânia, com o apoio dos EUA, teria laboratórios a desenvolver armas químicas e biológicas que poderia utilizar nesta guerra - acusações sem qualquer demonstração até agora.

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