Hoje é o dia em que 26 milhões fazem o teste covid em Xangai

4 abr 2022, 05:42
Milhares de profissionais de saúde foram destacados para Xangai

Milhares de militares e profissionais de saúde forma enviados para a cidade, que está sob lockdown progressivo há uma semana. Governo chinês não quer que a população viaje nas festividades Ching Ming, em honra dos antepassados, para evitar mais contágios por covid-19. E em Hong Kong, outra das cidades mais afetadas pela atual vaga da pandemia, é hora de mudar a liderança política

Milhares de profissionais de saúde e de militares dos vários ramos das Forças Armadas chinesas foram enviados para Xangai, onde decorre hoje a maior operação de testagem à covid-19 desde que a pandemia começou, há mais de dois anos. O plano do governo central é testar os 26 milhões de habitantes da metrópole, que é um dos principais centros financeiros, comerciais e industriais da China, para além de ter o porto de comércio marítimo mais movimentado do mundo.

Segundo a agência Reuters, alguns residentes tinham indicações para acordar antes do amanhecer para se submeterem aos testes de ácido nucleico nas suas zonas residenciais Muitos faziam fila às primeiras horas da manhã ainda em pijama.

De acordo com as autoridades militares chinesas, o Exército de Libertação Popular (ELP) enviou para a cidade, que está em lockdown, mais de 2 mil médicos do exército, da marinha e das forças conjuntas de apoio logístico. Para além dos militares, também foram encaminhados para a cidade milhares de profissionais de saúde civis, oriundos de províncias como Jiangsu, Zhejiang e Pequim. Segundo algumas estimativas, os profissionais de saúde mobilizados para esta mega-operação de testagem poderão ultrapassar os dez mil.

Trata-se da maior operação de saúde pública a que a China assiste desde o sobressalto do primeiro surto de Covid-19, em Wuhan, no início de 2020. Nessa altura, o Conselho de Estado disse que o ELP enviou mais de 4 mil médicos para a província de Hubei, onde fica a cidade de Wuhan. Tudo indica que a operação planeada para Xangai envolve bastantes mais recursos.

Ontem, domingo, as autoridades pediram aos residentes de Xangai para se auto-testarem, com testes de antigénio, antes da grande testagem com exames PCR. O objetivo seria identificar casos positivos que seriam de imediato isolados, evitando que essas pessoas se misturassem com as restantes nas grandes filas para a testagem oficial.

 

Festa dos antepassados… por email

 

Xangai é apenas uma das grandes cidades chinesas onde a quinta vaga da pandemia está a deixar milhões de pessoas em confinamento. As autoridades rejeitam aliviar a política de “covid zero”, e pediram aos cidadãos que fiquem em casa esta semana durante as festividades Ching Ming.

O feriado, que este ano acontece nesta terça-feira, celebra a chegada da primavera e costuma ser aproveitado para limpezas nos túmulos dos antepassados. Uma tradição que faz com que milhões de chineses viagem até as cidades ou aldeias de origem da sua família - o que este ano não deverá acontecer.

O Ching Ming é feriado desde 2007, e as festividades costumam ligar o feriado a um fim-de-semana, para estimular o turismo interno e o consumo das famílias chinesas. Mas, com a política de tolerância zero face à covid, os governantes estão a apelar a que essas deslocações não aconteçam este ano.

Conforme dezenas de milhões de chineses por todo o país estão em confinamento nas suas casas ou em quarentena em instalações oficiais, as autoridades apelaram a que só se realizem viagens essenciais mesmo para quem não esteja sob restrições. As deslocações para fora das respetivas províncias são desaconselhadas, e foram identificadas 499 zonas de “risco alto ou médio” em relação às quais não deve haver entradas ou saídas.

Sabendo do apego que milhões de chineses têm pelas tradições do Ching Ming, diversas autoridades locais apresentaram alternativas às habituais deslocações em família para varrer e limpar os túmulos dos antepassados. Algumas regiões sugeriram que os trabalhadores dos cemitérios fossem contratados para cumprir essas tarefas de limpeza. Noutros locais, o número de entradas nos cemitérios foi fortemente restringido, para desencorajar as deslocações. E na cidade de Guangzhou, os familiares foram incentivados a enviar emails para os seus antepassados já falecidos, em vez de irem aos cemitérios varrer e queimar oferendas.

 

Pandemia volta a afetar a economia

 

Desde segunda-feira da semana passada Xangai está sob lockdown, com ordens de confinamento em duas fases. Metade da cidade deveria ter ficado sob restrições entre segunda-feira e sexta-feira da semana passada, ficando, depois, a outra metade. Mas na sexta-feira, quando o lockdown entrou na segunda fase, muitas das áreas que estiveram sob bloqueio viram as ordens prolongar-se por mais três a dez dias. Neste momento, quase toda a cidade de Xangai está sob controlo das autoridades, com a população forçada a ficar em casa.

Na semana até 3 de abril, foram reportados 8.581 casos assintomáticos de Covid na cidade, e 425 casos sintomáticos. Números que seriam pouco preocupantes em qualquer outro território de 26 milhões de pessoas, mas não na China, onde o governo persiste com a política de “covid zero”, que tenta, há quase dois anos, eliminar totalmente as infeções com o novo coronavirus. Para isso o governo tem seguido regras rigorosas de testes, rastreio e quarentena para todos os casos positivos e para todos os seus contactos próximos.

Uma estratégia que mostrou bons resultados até ao ano passado, quando surgiu a variante Ómicron, bastante mais contagiosa do que as anteriores. Apesar disso, e de a nova variante provocar doença geralmente mais moderada, o governo de Pequim recusou a possibilidade de começar a “viver com o vírus”, como fizeram quase todos os países do mundo.

A pressão para manter os casos em zero, ou perto disso, tem tido como consequência o isolamento de milhões em cidades com poucas dezenas de casos, para além de ter comprometido a imunização natural, conforme parte da população ia sendo exposta ao vírus.

Atualmente a China enfrenta a quinta vaga de infeções, que se está a revelar a mais grave desde o início da pandemia. Xangai é a cidade sob maior pressão, mas há surtos com grande impacto em muitas outras cidades e regiões, de Hong Kong - onde está o grande centro financeiro - a Shenzhen, onde se localiza o grande centro fabril do país.

Em março, os indicadores económicos mostram que a China sofreu a maior queda da sua produção industrial desde o início da pandemia. Para este desempenho contribuíram as restrições impostas por causa da covid-19 em áreas fortemente industrializadas, bem como o impacto da guerra na Ucrânia.

 

Hong Kong: mudança de liderança

 

Em Hong Kong a situação continua longe de estar controlada, com os hospitais sob stress e a população a mostrar sinais de cada vez maior saturação. Tal como em Xangai, os residentes de Hong Kong têm-se confrontado com escassez de produtos básicos, e circulam nas redes sociais muitos vídeos de conflitos entre pessoas que tentam açambarcar produtos nos supermercados. Também a separação de pais e filhos está a contribuir para irrupções de protesto popular, tanto na antiga colónia inglesa como na China continental.

A gestão da pandemia feita pelas autoridades de Hong Kong tem sido alvo de reparos por parte do governo central, que por várias vezes exigiu medidas mais rigorosas para travar os contágios. Na mira de Pequim, a líder máxima do executivo local, Carrie Lam, anunciou esta segunda-feira que não se irá recandidatar ao cargo nas eleições marcadas para maio. 

Lam cumpriu um mandato marcado pela supressão quase total da democracia de Hong Kong, com o fim das principais liberdades políticas e sociais, mas acabou por ser a sua gestão da pandemia a deixá-la em maus lençóis. 

Em janeiro, após a vitória dos partidos pró-Pequim nas eleições para a assembleia legislativa - nas primeiras eleições em que só foram admitidos candidatos “patrióticos”, o que provocou uma abstenção recorde - Lam tinha proposto uma grande reforma no executivo de Hong Kong, o que fazia supor que esperaria manter-se em funções. Porém, a quinta e pior vaga da pandemia acabou por adiar esses planos de reforma do Governo. No anúncio que fez esta segunda-feira, Lam assegurou que a decisão de sair estava tomada há um ano.

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