Outra noite «special» para o Mourinho do costume

9 abr 2014, 11:40

Golos do banco garantem oitava meia-final para o técnico português. Cristiano Ronaldo sofreu por fora no apuramento do Real

Nunca se tinha visto uma equipa treinada por José Mourinho ser eliminada nos quartos de final da Liga dos Campeões: ainda não foi desta, parte um
. Nunca se tinha visto o Real Madrid desperdiçar uma vantagem de 3-0 na primeira mão em provas europeias: ainda não foi desta, parte dois
. E, no entanto, tanto no jogo de Londres como no de Dortmund estivemos perto, muito perto, de testemunhar desfechos inéditos.

Em Stamford Bridge o Chelsea tinha dois golos de desvantagem para recuperar, algo que na história das competições europeias só é conseguido em 25% dos casos. A baixa de Ibrahimovic parecia aumentar um pouco as probabilidades para os «blues» mas, se esse era o caso, a lesão prematura de Hazard, juntando-se à suspensão de Ramires, voltou a inclinar a balança para o lado do PSG.



Durante boa parte do primeiro tempo, os franceses mantiveram os «blues» a distância confortável da baliza de Sirigu, acentuando a sensação de que uma bola parada seria a melhor fórmula para o Chelsea reentrar na discussão da eliminatória. Um livre de Lampard deu a primeira confirmação, a segunda chegou num lançamento lateral de Ivanovic, desviado por David Luiz: a bola foi ter aos pés do recém-entrado Schürrle e Mourinho colheu os primeiros frutos vindos do banco. Com 1-0 ao intervalo, a reviravolta parecia mais perto, e a entrada dos «blues» na segunda parte foi a tradução perfeita para esse entusiasmo e por duas vezes, em lances consecutivos (53 e 54 minutos), a trave de Sirigu travou remates de Schürrle e Oscar.



E quando a pressão dos «blues» deu sinais de afrouxar, Mourinho antecipou o tudo ou nada, lançando Demba Ba para fazer companhia a Etoo, com 25 minutos por jogar. É justo dizer que o Chelsea passou então pela fase mais delicada, com dois remates de Cavani e um de Lucas a sugerirem que o KO na eliminatória não estava longe. Mas com a entrada do terceiro ponta-de-lança (Torres) para os dez minutos finais, o Chelsea ganhou capacidade de pressão na área, acabando por conseguir o 2-0 aos 88 minutos, num lance de ressaltos vários e com a conclusão feliz e algo trapalhona de Demba Ba – um dos jogadores menos utilizados do plantel dos «blues».



Foi o segundo golo vindo do banco, ironicamente apontado pelo único parisiense em campo, acentuou a certeza de que estávamos perante mais uma noite «vintage» de Mourinho, que aproveitou os festejos do golo para reeditar o sprint mais famoso da sua carreira, feito dez anos antes em Old Trafford. A corrida louca ao longo da lateral serviu tanto para partilhar os festejos com os jogadores como para dar instruções para uns minutos finais de sufoco, em que a frieza de Cech ajudou a segurar o apuramento até ao apito final de Pedro Proença.



Estava consumada a oitava meia-final da Liga dos Campeões na carreira de Mourinho, a quinta consecutiva ao serviço de três clubes diferentes: um recorde absoluto na competição, superando as sete de Alex Ferguson, e para mais conseguido em 12 participações por quatro clubes. Resta saber se à terceira semifinal no Chelsea, Mourinho consegue quebrar o enguiço das três anteriores, perdidas com o Real Madrid.

Ronaldo a sofrer por fora

Se houve algum «déjà vu» (ou «déjà blue», como na manchete do Daily Mirror) na forma como Mourinho garantiu esta noite a oitava meia-final em 12 presenças na Champions, já a chegada de Cristiano Ronaldo à sétima meia-final da carreira, em 11 participações, chegou de forma bastante invulgar: com o craque português no banco de suplentes, a roer as unhas até ao sabugo por força da má exibição da equipa.



As queixas sentidas no treino da véspera e o conforto dado pela tal vantagem nunca desperdiçada foram suficientes para Ancelotti deixar o português no banco. Em condições normais, o Real não lhe teria sentido a falta, tanto mais que aos 17 minutos beneficiou de um penálti que Di María não conseguiu aproveitar – com enorme mérito de Weidenfeller, que fez uma defesa fantástica.



Ao primeiro erro individual grave seguiu-se, aos 24 minutos, um outro ainda mais flagrante: num lance aparentemente inofensivo, Pepe (que decididamente se dá mal neste estádio) calculou mal o atraso de cabeça para Casillas e isolou Reus, que contornou o guarda-redes e marcou à vontade. Com o Real incapaz de pegar no jogo a meio-campo e de anular a mobilidade de Reus, as transições do Dortmund voltara m a fazer mossa ainda antes do intervalo, com Reus a aproveitar uma perda infantil de Illarramendi para iniciar e concluir um golo ainda pontuado por um remate de Lewandowski ao poste.



Ao intervalo, os merengues pareciam em risco de KO iminente, e Illarramendi pagou a fatura, sendo substituído por Isco para a segunda parte. Mas nem isso relançou a equipa de Ancelotti, que começou por beneficiar da pontaria desafinada de Mkhitaryan, em três ocasiões, e da exibição inspirada de Casillas, em outras três, para sobreviver ao inferno amarelo e garantir a quarta meia-final consecutiva.


Nas outras três, com Mourinho no comando, não conseguiu a passagem à final - e desta também não o conseguirá, se manifestar as mesmas fragilidades do jogo no Westfallenstadion. A começar pela ausência forçada de Cristiano Ronaldo: se para mais não serviu, a derrota com final feliz, nesta terça-feira, sublinhou à evidência, entre outras coisas, a falta que o moço lhes faz.

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