Aposta nos certificados de aforro afunda 70% após Governo cortar juros

ECO - Parceiro CNN Portugal , Alberto Teixeira
24 jul 2023, 07:53
Dinheiro

Emissões líquidas de Certificados de Aforro tombaram 70% em junho, mês em que o Governo decidiu baixar a remuneração destes títulos. Já os bancos travaram sangria nos depósitos.

Terminou a corrida desenfreada aos Certificados de Aforro, o que acontece depois de o Governo ter cortado a remuneração destes certificados no início do mês passado. As emissões líquidas atingiram os 670 milhões de euros em junho, menos 70% face ao montante líquido emitido no mês anterior. Foi mesmo o valor mais baixo de emissões em quase um ano.

O disparo da Euribor a 3 meses impulsionou a taxa de juro dos Certificados de Aforro para o máximo de 3,5% que podia oferecer (mais prémio de manutenção), o que tornou este produto de poupança do Estado muito popular junto das famílias portuguesas. Até porque o dinheiro que tinham depositado no banco pouco ou nada estava a render.

Mas, a 2 de junho, o Governo decidiu descontinuar a Série E destes certificados, lançando ao mesmo tempo uma nova série com uma remuneração mais baixa, até ao máximo de 2,5% (mais prémio de manutenção).

A decisão motivou muitas críticas. Principalmente porque os certificados estavam a ser o único concorrente à altura dos bancos e a principal força que estava a levar as instituições financeiras a subir as taxas de juro dos depósitos, dada a pressão causada pela fuga de poupanças.

O Governo justificou as mudanças com a necessidade de alinhar a remuneração destes certificados aos outros instrumentos de financiamento público, designadamente as Obrigações do Tesouro, e também pelo facto de que se estava a se estava a colocar uma fatia importante da dívida portuguesa junto de um credor menos estável, como as famílias.

Desde o início do ano, o investimento em Certificados de Aforro aumentou 13,59 mil milhões de euros, contando já com o aumento de junho, sendo que as aplicações neste produto de poupança do Estado ascendem já a um valor recorde de 33,22 mil milhões.

Em relação aos Certificados do Tesouro, que já tiveram outro brilho no passado, perderam dinheiro pelo 20.º mês consecutivo: foram menos 200 milhões em junho para um total de 12,3 mil milhões.

Contas feitas, as famílias têm 45,5 mil milhões de euros em certificados. O que significa que cerca de 16% da dívida pública está nas mãos dos particulares – Portugal é mesmo dos países onde as famílias tem peso no financiamento do Estado.

Caixa já travou fuga de depósitos

Os Certificados de Aforro causaram enorme pressão junto dos bancos que assistiram a uma razia nos depósitos de particulares nos cinco primeiros meses do ano: uma queda de 8,8 mil milhões de euros face a dezembro, de acordo com os últimos dados do Banco de Portugal.

O supervisor vai atualizar os dados relativos à evolução dos depósitos até junho esta semana, mas já há sinais de que a fuga parou. Pelo menos foi o que aconteceu na Caixa Geral de Depósitos (CGD), que no mês passado já registou um aumento de quase 400 milhões de euros nos depósitos, depois de ter perdido mais de quatro mil milhões desde o início do ano.

O CEO Paulo Macedo recusou associar o aumento dos depósitos às mudanças nos Certificados de Aforro, argumentou que há uma guerra entre os bancos para captar poupanças das famílias e considerou mesmo ser um “mito” a ideia de que os bancos tenham pressionado o Governo a alterar as condições dos certificados.

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