Moedas espera "retorno absolutamente extraordinário” da JMJ: "Estamos a falar em centenas de milhões de euros"

Agência Lusa , BCE
26 jul 2023, 08:46

O município de Lisboa vai gastar até 35 milhões de euros na JMJ, dos quais 25 milhões são investimento que fica na cidade, segundo o autarca.

O presidente da Câmara de Lisboa disse esta quarta-feira que colabora na preparação da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), até pelo “retorno absolutamente extraordinário” para a cidade, mas não participa religiosamente, tal como fez em “eventos de variadíssimas religiões”.

“A questão aqui não é um evento para a Igreja Católica, é um evento para todos os jovens do mundo e é um evento que terá um retorno absolutamente extraordinário para aquilo que é a cidade”, afirmou Carlos Moedas (PSD), em entrevista à agência Lusa.

Procurando fazer contas ao retorno económico, o autarca de Lisboa indicou que, se um milhão de jovens participar na JMJ, estiver na cidade sete ou oito dias e gastar 40 ou 50 euros por dia, resultará numa “quantia de 200 a 300 euros, no mínimo, que cada pessoa destas traz para Lisboa, multiplicado por um milhão, são 200, 300 ou 400 milhões” de euros.

"Estamos a falar aqui em centenas de milhões de euros [….]. Neste caso, podemos retirar o fator religioso, tirar aqui esse fator de que é um evento religioso, até porque eu penso que o Papa quer que seja um evento para todos os lisboetas, e, retirando esse fator, nós temos aqui um retorno que é muito maior do que qualquer outro evento teve alguma vez para a cidade”, reforçou o presidente da câmara.

Moedas ressalva que não participa "religiosamente" no evento

Questionado sobre a disponibilidade para apoiar eventos de outras religiões, Carlos Moedas assegurou que “a câmara municipal tem feito eventos de variadíssimas regiões” e sublinhou que a ideia do Papa Francisco na JMJ é “honrar outras religiões, com encontros inter-religiosos, com encontros ecuménicos entre várias religiões e, também, de jovens que não têm religião”, considerando que “essa é a grande marca desta Jornada Mundial da Juventude”.

“O Estado português é um Estado laico e o presidente da câmara deve manter essa postura de Estado e essa postura da câmara municipal […]. Eu ajudo ao evento, mas eu não participo religiosamente”, declarou o social-democrata, referindo que as convicções religiosas de cada um são do foro pessoal, ainda que as suas sejam publicamente conhecidas como “agnóstico convicto”, mas que, até pela força política que representa – PSD –, tem “profundos valores cristãos”.

O autarca de Lisboa reforçou que participa na JMJ como já participou em eventos da religião muçulmana, como no Iftar, afirmando que, quando foi o “romper do jejum dos muçulmanos em Lisboa, estava na mesquita”.

Carlos Moedas disse que também esteve na celebração da Hanukkah para os judeus e assegurou que estará noutras religiões, porque deve “manter essa equidistância”.

Carlos Moedas assume-se como “agnóstico convicto” e garante que não participa "religiosamente" na preparação da JMJ, mas sim como autarca (Tiago Petinga/LUSA)

Para o presidente da câmara, “ser laico não é estar contra as religiões, é estar com as religiões e aqueles não têm religiões”.

“Hoje em dia, esta fricção em que vivemos, constante na sociedade, em que temos de estar contra uns ou contra outros, o meu papel é ao contrário, é estar com todos”, expôs, recusando as críticas quanto à participação na chegada dos símbolos da JMJ a Lisboa, afirmando que foi “por esse respeito” que esteve presente.

Quando era emigrante em França, Carlos Moedas participou na JMJ em 1997 e, passado 26 anos, é o representante da cidade anfitriã do evento e vai receber na sua casa o filho da pessoa com quem esteve na capital francesa, revelou.

"Não é o turismo que está a retirar casas às pessoas”

Sobre o impacto da JMJ no aumento da procura turística, que pode ter consequências no acesso à habitação, o autarca defendeu que “o turismo é importante para cidade, mas não é o turismo que está a retirar casas às pessoas”.

“O turismo dá trabalho às pessoas, cria empregos. Depois, há pessoas que vêm do estrangeiro, que se instalam em Portugal e que podem pagar preços de imobiliário mais altos e que podem fazer subir os preços, isso é outro tema”, apontou, referindo que, durante muitos anos, não só não se produziu habitação e os preços aumentaram, portanto houve uma crise de oferta, como também não se construiu habitação municipal para ter preços mais reduzidos.

O autarca do PSD realçou a prioridade que tem em investir em habitação municipal, dispondo de 800 milhões de euros, verba que diz que não tem comparação, nem mesmo na altura do PER – Programa Especial de Realojamento, iniciado em 1993.

“Se a Jornada Mundial da Juventude tem um impacto negativo na habitação em Lisboa? Não, não tem. A Jornada Mundial da Juventude é um evento durante sete dias, em que as pessoas vêm a Lisboa, estão cá sete dias, depois vão-se embora, e nesses sete dias vão gastar 200 ou 300 milhões de euros a consumir e, portanto, com impacto económico direto positivo na cidade”, frisou.

Relativamente à aprovação de novos hotéis na cidade, Carlos Moedas disse que “não é a vontade política do presidente da câmara que decide se há mais hotéis ou menos hotéis”, explicando que tal está previsto no Plano Diretor Municipal, que dá direito aos proprietários para investir consoante o que está definido.

Investimento de Lisboa vai manter-se dentro do limite de 35 milhões

Moedas calcula que 25 milhões de euros do montante investido na JMJ vão ficar na cidade (Tiago Petinga/LUSA)

Sobre o investimento do município na JMJ, Carlos Moedas garante que será até 35 milhões de euros, dos quais 25 milhões são investimento na cidade e 10 milhões no evento.

Como exemplo deu o parque verde do Tejo-Trancão e a ponte ciclo-pedonal, que assegura a ligação entre Lisboa e Loures e permite um percurso na frente ribeirinha desde Vila Franca de Xira até Cascais, com um total de 60 quilómetros.

O social-democrata realça ainda o investimento em bebedores na cidade, que aumentam de 200 para 400, reforçando que “muito do material que está a ser comprado fica para a cidade”.

O presidente da câmara afasta a ideia de derrapagens no custo de obras para a JMJ, que foram adjudicadas aos preços que foram anunciados, mas reforça que todas as contas serão vistas pelo Tribunal de Contas.

Relativamente a custos indiretos associados à JMJ, como o desconto de 50% no acesso a espaços culturais da cidade para os peregrinos, o autarca diz que se trata de receita que a câmara abdica e não de “investimento puro e duro”, considerando que esse montante “é marginal”.

Questionado sobre o que poderia ter sido diferente na preparação da cidade para acolher a JMJ, Carlos Moedas considera que “tudo isto poderia ter sido feito antes e ter as coisas preparadas antes”, mas o prazo apertado também permitiu mostrar a capacidade de “ser um fazedor, de ser alguém que faz, que realiza, que consegue fazer”.

“Quando arregacei as mangas naquele dia 18 de outubro [de 2021], sabia que este era um dos maiores desafios do meu mandato”, frisa, sublinhando que a preparação da JMJ foi “uma grande experiência profissional” e prevendo que seja um sucesso, mas sem ter ainda uma resposta sobre a possibilidade de se recandidatar nas próximas eleições autárquicas, em 2025.

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