Uma ação do PAN no Aeroporto de Beja foi interrompida por dezenas de agricultores e aficionados da tauromaquia que fizeram provocações à líder do partido. A CNN Portugal falou com eles: "Vêm para aqui criticar a agricultura, mas não estão no terreno, não veem o que está a acontecer"
Foi um dos momentos que marcaram a campanha eleitoral desta quinta-feira. À entrada do aeroporto de Beja, dezenas de manifestantes abafaram o encontro entre a porta-voz do PAN e o representante do Movimento Beja Merece + com alguns insultos e palavras de ordem, como "fascista" ou "eh touro". Forcados amadores, aficionados, agricultores e, entre eles, está António Almodovar, um agricultor de 48 anos, com uma canadiana em cada mão. Recusa-se a sentar e tem muito para dizer. "Estes senhores vêm para aqui criticar a agricultura, mas não estão no terreno, não veem o que está a acontecer", desabafa. Ele, que partilha com os quatro irmãos um terreno para exploração agrícola, diz saber do que fala: "Isto é demagogia ou pior, é desconhecimento, é ignorância".
Sobre o investimento que a líder do PAN defende para o aeroporto de Beja, António não tem nada a apontar, mas são as propostas de Inês Sousa Real para a agricultura que acha "extremamente ofensivas". Com quatro filhos em casa, entre os 8 e os 16 anos, o futuro preocupa-o cada vez mais: "Temos que ter algum rendimento, para nós e para as nossas famílias". Garante que não se trata de uma questão política, mas de um problema transversal a todos os partidos. O que pretende são medidas estáveis e estudadas e, de preferência, "com um horizonte temporal de 20 ou 30 anos". "Maior parte das pessoas investe o que tem e o que não tem e endivida-se", explica. "Não podemos estar constantemente a mudar as regras do jogo".
"Temos de respeitar a opinião dos outros"
"O mundo rural gosta de caçar desportivamente, de pescar desportivamente, gosta de touros e de cavalos", defende António Almodovar, que acusa Inês de Sousa Real de ser "radical e proibicionista".
Ali não são os agricultores que sobressaem, tampouco são os apoiantes do PAN, em muito menor número. São, sim, os aficionados: pela caça desportiva, pela tauromaquia, pelos próprios touros. A faixa "Grupo de Forcados Amadores de Beja" dá conta disso mesmo.
"Dentro do grupo há pessoas de vários partidos políticos, é uma união", garante Miguel Peixe, um comerciante de 51 anos, que ali está por ser um "verdadeiro aficionado" das touradas . "Temos é que respeitar a opinião dos outros" o que, considera, "a porta-voz do PAN não faz".
Miguel gosta de ir a touradas e vai sempre acompanhado por toda a família. "Vejo touradas desde pequeno. Nessa altura, até comecei a usar óculos", lembra.
"Muitos perderão o emprego"
Confrontado com o bem estar dos touros, Miguel Peixe desvaloriza. E garante que o touro é bem tratado desde o seu nascimento até ao momento em que entra numa arena. E depois disso? "Não sou nenhum veterinário, mas acho que querem passar a imagem do matadouro, onde os touros depois são mortos". O certo é que se as touradas forem proibidas, "muitos perderão o emprego".
Ao seu lado, Raquel Tomé, 33 anos, ouve atenta com uma máscara do Clube Português de Monteiros no rosto, mais concretamente da Associação Nacional de Caça Maior. Tinha ido caçar justamente esta manhã. É agricultora e intitula-se de "aficionada e caçadora com orgulho", diz que é graças à caça que o Lince sobrevive em Portugal. Pede que lhe tirem uma fotografia com a sua máscara mesmo antes de a polícia chegar.
Nesse momento, os grupo de manifestantes prepara-se para atravessar a rua e tentar abordar de novo Inês Sousa Real, que estava a regressar à entrada do aeroporto, mas foram afastados pelos agentes de autoridades.
