«Não há razão para mudar o discurso», garante Sanchez

17 mar 2001, 14:01

Boavista vence mas não se convence O Boavista venceu o Campomaiorense, em nova prova de pragmatismo e competitividade que abreviou caminho para um objectivo que se mantém comedido. Sanchez fala do sucesso do colectivo com orgulho, mas recusa rever a filosofia. Novidade, apenas o anúncio de que pode estar prestes a abandonar a selecção da Bolívia.

Sanchez é o atirador furtivo do pelotão, o mais preciso de todos os soldados, emboscado nas bolas paradas, que deixam o adversário arrepiado e encolhido, rezando para que o tiro não seja certeiro. Ontem, com o Campomaiorense, o boliviano atinou duas vezes com o alvo, de mais perto que habitualmente, é certo, mas com a mestria dos melhores, dos mais temíveis e respeitados. O jogo aguardava por ser resolvido, o médio finalizou-o, sempre com o mesmo método, a bomba, duas vezes a estourar para lá de Paulo Sérgio. 

«Importante foi a vitória da equipa», explica agora, horas depois, após um treino no qual teve a companhia do filho, equipado a rigor, à Boavista. «Tive algumas oportunidades de livre, mas a pontaria talvez não estivesse tão afinada com habitualmente». Sanchez festejou em dois penalties, pela primeira vez esta época. Tem agora sete golos, todos conseguidos depois de ter a bola devidamente acariciada no ponto em que o árbitro marcara uma falta. «O máximo que já marquei num ano foi dez, por isso está tudo a correr dentro do normal», garante, sem querer entrar em euforias ou vaidades que crê serem nefastas. «Estou a fazer uma época muito regular, pois não tenho tido lesões, o que é uma ajuda muito grande». 

O Boavista fizera horas antes novo jogo mais pragmático que entusiasmante. Sanchez encolhe os ombros quando lhe falam de espectáculo e assume a razoabilidade do método axadrezado. «As equipas vêm jogar ao Bessa para defender o empate e aguardar por um erro nosso. Isso obriga-nos a estar muito atentos e a tentar marcar rapidamente, para depois controlarmos o jogo», explica. A filosofia, goste-se ou não, tem dado resultados. Há, para lá dos muros do Bessa, quem fale de título, equipa técnica e jogadores rebatem e juram que só uma evidência incontornável os fará rever o discurso. «Fizemos mais uma vez o nosso trabalho e ganhámos, mas continua tudo na mesma», assegura. «Vamos continuar a trabalhar e depois se verá. Faltam poucos jogos, mas não temos razão para mudar». 

A visão pessoal, no entanto, permite-lhe conceber um cenário festivo para si e para os companheiros, um feito inesquecível que teria repercussões inevitáveis em todo o futebol português. «Sempre disse que será bom para o campeonato se o campeão fosse uma equipa diferente dos três grandes», refere, admitindo que um desfecho deste tipo, se favorável ao Boavista, seria inesquecível. «Toda a gente gosta de sonhar», concorda, regressando de imediato ao chão que abandonara por segundos, para saborear um devaneio. «O melhor é viver a realidade». 

Prestes a abandonar a selecção 

Sanchez tem sido dos jogadores mais decisivos na equipa de Jaime Pacheco, funcionando como excepção de qualidade e requinte numa máquina laboriosa e repetitiva. É, por isso, concebível que possa ser convocado para o Bolívia-Colômbia, que se disputa no próximo dia 28. O jogador acredita que sim, se bem que uma dúvida em relação ao número de cartões amarelos, que lhe foram exibidos ao serviço do seu país, e uma lista de problemas com a federação, obrigam-no a ponderar. «As pessoas não gostam de ouvir o que a gente sente», explica, «tenho muita pena, mas admito mesmo abandonar a selecção». 

Encerrará, caso escolha o único destino que nesta altura lhe parece aceitável, um ciclo de presenças assíduas, marcadas por uma influência que ninguém esquecerá. «Desde criança que sonhava com a selecção, mas agora é altura de optar. A actual direcção federativa é uma complicação, por isso esse é o cenário mais provável». Mas a que dificuldades é que se refere exactamente? Sanchez limita-se a sorrir. «Estou contente com tudo o que me está a acontecer em Portugal, por isso quero aproveitar ao máximo e esquecer essas questões».

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