Manuel do Laço, boavisteiro da cabeça aos pés

19 mai 2001, 03:00

No Bessa, todos o conhecem

O seu nome é Manuel de Sousa, mas no Bessa todos o conhecem por «Manel do Laço». Chapéu xadrez, camisa cinzenta escura, calças pretas, casaco branco. Não há duvidas: este é o boavisteiro mais fácil de se reconhecer à distância. Nos jogos, até traz calçados um par de sapatos de duas cores: o esquerdo preto, o direito branco.  
 
«Manel do Laço» vive para o Boavista. Emigrante nos Estados Unidos durante 30 anos, nunca abdicou da paixão axadrezada e nos EUA foi a voz mais sonora que se ouvia do Boavista para lá do Atlântico: «Era o único adepto do Boavista entre os emigrantes portugueses, mas todos me respeitavam e gostavam de mim. Nos EUA, todos os emigrantes portugueses sabem que é o Manel do Laço. Alguns até me telefonam a dar-me os parabéns e a dizer que estão a torcer pelo Boavista. No outro dia, foi o Rocha, que é conhecido do Jaime Pacheco, é de Rebordosa. Apesar de ser adepto do Benfica, telefonou-me a dizer que está a torcer pelo Boavista...»  
 
Em tempos, até foi dirigente do Boavista: «Fui membro da Comissão Boavisteira na década de 60. Nessa altura, tudo era diferente. O clube era muito mais pequeno, mas havia uma forte implantação popular. Lembro-me de estarmos na III Divisão e mesmo assim termos levado 70 autocarros para um jogo fora. Eram milhares de adeptos. É uma pena que agora os estádios de futebol estejam com menos gente...»  
 
«Toda a gente me conhece»  
 
As memórias de «Manel do Laço» vão-se desfiando a uma velocidade estonteante. É uma vida inteira de um emigrante com um clube como principal elo de ligação ao país que deixou durante três décadas. «Cheguei a vir de propósito a Portugal só para ver jogos do Boavista. Vinha e voltava para lá. Trabalhei no duro durante anos, sempre com o propósito de voltar. Voltei há dois meses, tive um filho lá, que está a estudar fora».  
 
O seu estilo efusivo condiz com a imagem exuberante. Basicamente, é impossível que passe despercebido... «Toda a gente me conhece e todos sabem o amor que tenho pelo Boavista. Estou muito contente e, sobretudo, muito orgulhoso, porque sei que o Boavista foi a melhor equipa do campeonato e, por isso, merece o título».  
 
Sobre a rivalidade com o F.C. Porto, o adepto boavisteiro tem uma opinião muito peculiar: «Não vejo as coisas como um contra o outro. Todos devem ter o seu espaço. Não tenho nada contra o Porto, até já estive com o senhor Pinto da Costa nos Estados Unidos».  
 
«O grande mérito é do Major»  
 
Anos e anos a acompanhar o Boavista dão a «Manel do Laço» uma perspectiva muito especial sobre o clube do Bessa. E de uma coisa, não duvida: o grande mérito do crescimento do Boavista é de Valentim Loureiro: «O Major é que fez com que tudo isto fosse para a frente. Houve outros grandes presidentes, como o dr. Paulo Nogueira, que teve um desentendimento com o Porto por causa do Perdigão, Olímpio Magalhães Pinto foi outro grande dirigente, mas o homem da viragem é o major».  
 
Memórias de um emigrante de xadrez, no sentido mais literal que a expressão pode ter. E que até perde o apetite quando o Boavista perde.

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