Geringonça, democracia interna e Ucrânia marcam debate entre moções à convenção do BE

Agência Lusa , DCT
4 abr 2023, 07:12
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Houve debate entre os representantes das duas moções

O balanço sobre geringonça e resultados eleitorais, a democracia interna do BE e a guerra da Ucrânia marcaram as principais diferenças entre Mariana Mortágua e Pedro Soares no debate entre as moções à próxima convenção bloquista.

No debate entre os representantes das duas moções que vão disputar a liderança do BE na reunião magna de 27 e 28 maio, transmitido pelos canais do partido na segunda-feira à noite, houve também pontos de concordância entre os candidatos, desde logo nas críticas à maioria absoluta do PS, na necessidade de respostas estruturais a problemas como a habitação, ou na importância das próximas três eleições: Madeira, Açores e Europeias.

Pela moção E, o ex-deputado Pedro Soares, porta-voz à convenção, defendeu que “a esquerda precisa de dar uma resposta sistémica” à crise. Não chegam “discursos vagos” do tipo: “queremos uma vida boa para todos”, disse, referindo-se a uma expressão usada pela moção A.

Na resposta, a deputada Mariana Mortágua afirmou que a “oposição à maioria absoluta precisa de campos sociais que se abrem por direitos e em torno de propostas concretas”, considerando que faz parte da génese do BE “participar nesses movimentos e ser uma referência politica para esses campos de luta pela sua capacidade de proposta”.

“Não sei se o Pedro acha que no socialismo não há vida boa. Eu acredito que há e acredito que é isso o socialismo, uma vida de justiça e solidariedade”, sublinhou.

Para Pedro Soares, a esquerda devia “desafiar a sociedade para um novo compromisso civilizacional entre trabalho, ambiente, conhecimento e novas gerações”, enfatizando o papel que o BE deve ter neste projeto que “consiga este novo contrato social” e para qual é preciso “ter um programa” e não apenas “declarações vagas, de princípio”.

“Eu acho que o Pedro acabou de descrever o programa que o Bloco de Esquerda levou às últimas eleições e que a moção E apoiou. Nunca faltou proposta ao BE. O que é preciso é precisamente construir maiorias sociais em torno dessas propostas”, contrapôs Mortágua.

O porta-voz da moção E disse que o problema foi a afirmação do programa eleitoral, aproveitando este momento para reiterar as críticas de uma corrida eleitoral que colocou o BE na “alçada da influência politica do PS” e diluiu, por isso, a “autonomia política” dos bloquistas.

A questão sobre a resposta da esquerda em relação à guerra na Ucrânia foi um tópico que marcou diferenças entre os dois candidatos, tendo Pedro Soares criticado a moção opositora por ter uma posição “um bocadinho ambígua relativamente à questão da NATO e dos Estados Unidos”.

O antigo deputado defendeu que “as brasas dessa guerra brutal estão a ser sopradas pelo imperialismo americano” e não concordou com a ideia de que União Europeia possa ter um papel central na promoção da paz.

Considerando que se deve assumir “sem qualquer elemento diluidor ou desculpabilizador” o discurso “imperialista e de expansão de [o Presidente russo, Vladimir] Putin”, Mariana Mortágua disse ser “mais difícil compreender a moção E muitas vezes porque a opinião vai dependendo do orador e do auditório” e conforme estas duas variáveis vai-se “ouvindo coisas um pouco diferentes sobre o papel da Rússia e o imperialismo russo”.

Sobre a geringonça, Mariana Mortágua manifestou “orgulho” por esta solução em que foi conseguida “muita coisa”, defendendo também que o BE “teve razão quando chumbou depois orçamentos que não respondiam ao país”, tendo depois pagado “o preço da coerência” nas eleições.

“Neste momento a prioridade do Bloco deve ser afirmar o seu projeto autónomo, o seu projeto de oposição à maioria absoluta, não é centrar-se sobre quais são as linhas vermelhas em relação ao PS”, disse a candidata.

Na resposta, Pedro Soares deixou claro que não renega o “acordo minimalista” feito em 2015, mas não concorda com a ideia que “o programa da geringonça foi cumprido” pelo PS, reiterando as críticas à falta de balanço pela atual direção aos maus resultados eleitorais.

“Faço um desafio a quem for maioria na convenção: nós precisamos de estimular a pluralidade. Não há ervas daninhas dentro do bloco. Somos todos precisos. (…) Quem tiver a maioria tem a responsabilidade de promover essa cooperação entre sensibilidades”, pediu o antigo deputado.

Já Mariana Mortágua rejeitou estas acusações de falta de pluralidade, sublinhado que “o Bloco é um partido democrático” e por isso disse não compreender “muito bem essas críticas da moção E”.

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