BCP vende malparado perante alertas sobre aumento de insolvências

ECO - Parceiro CNN Portugal , Alberto Teixeira
7 set 2023, 09:00
Presidente da Comissão Executiva do Millennium BCP, Miguel Maya (José Sena Goulão/ Lusa)

DBRS alerta para impacto do aumento das insolvências no malparado da banca portuguesa. BCP vende mais uma carteira após alienar Fundo de Reestruturação Empresarial.

O BCP colocou no mercado uma carteira de crédito malparado no valor de 65 milhões de euros, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO junto de fonte do mercado. Trata-se do “Projeto Light” que o banco liderado por Miguel Maya pôs à venda no mês passado e que inclui empréstimos em situação de incumprimento e sem garantias (unsecured).

O ano de 2023 tem sido marcado por um reduzido volume de transações de malparado no mercado português, depois de os bancos nacionais terem feito um enorme esforço de limpeza de balanço nos últimos anos, o que permitiu reduzir os níveis de NPL (non performing loans) para 3%.

Ainda assim, no caso do BCP, que não comenta a operação, mantém-se a toada de redução dos riscos do balanço. Como tem acontecido com o resto da banca, aliás.

Ainda no final de junho, a instituição presidida por Miguel Maya fechou a venda da sua posição no Fundo de Reestruturação Empresarial, que gere as exposições avaliadas em cerca de 70 milhões da banca à fabricante de cabos elétricos Cabelte e ao grupo de cerâmica Carlos Cardoso da Mota, como avançou o ECO há duas semanas.

Entretanto, o Novobanco revelou no seu relatório e contas do primeiro semestre que também vendeu a sua posição no fundo de reestruturação com um ganho de 4,3 milhões de euros. Ao que tudo indica, BCP e Novobanco venderam as suas posições à Oxy Capital, que é a sociedade gestora do fundo, enquanto a Caixa Geral de Depósitos e a Banco Montepio vão lançar um processo de venda organizado este mês.

Nos outros bancos, também há operações de NPL. Por exemplo, o Santander Totta alienou três carteiras — a Pool 58, 59 e 60 — com um valor global de cerca de 130 milhões de euros. São portefólios que incluem créditos hipotecários secured (com garantias) e unsecured (sem garantias).

No BPI, o “Projeto Citrus” passava pela venda de uma carteira de empréstimos problemáticos secured e unsecured também na ordem dos 130 milhões.

Banca portuguesa na mira da DBRS

De acordo com os dados do Banco de Portugal, o sistema ainda se deparava com 6,5 mil milhões de euros em crédito malparado no final do ano passado, apesar da forte descida em relação aos 31,5 mil milhões há cinco anos.

O aumento da incerteza associada à subida da inflação e das taxas de juro tem levado as entidades oficiais a alertarem para a importância de monitorizarem a evolução da qualidade de crédito. Os bancos asseguram que ainda não têm sinais de preocupação.

O alerta mais recente veio da Morningstar DBRS esta segunda-feira. A agência de rating avisou que as falências de empresas estão a subir na União Europeia, tendo atingido no segundo trimestre o valor mais elevado desde 2025. E embora o impacto deve ser gerível para a maioria dos setores bancários europeus, “alguns países serão provavelmente mais afetados, dada a sua elevada exposição aos segmentos mais vulneráveis ​​da economia neste contexto”.

Entre os países em posição mais sensível está Portugal, ao lado dos gregos, cipriotas, malteses e croatas. A DBRS diz que os bancos portugueses vão necessitar de uma vigilância mais apertada, pois apresentam uma concentração de quase 15% aos setores dos transportes e armazenamento e hotelaria e restauração, dada a forte dependência da economia ao turismo. É o dobro da média da UE.

“Isto apresentará desafios para os setores bancários mencionados, uma vez que estes países reportam normalmente rácios de empréstimos em incumprimento mais elevados do que a média europeia”, indicam os analistas da DBRS. “Continuaremos a acompanhar isto de perto, uma vez que estas concentrações mais elevadas poderão levar a uma deterioração mais rápida e significativa das carteiras dos bancos nestes países”, acrescentam.

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