Laporta e o Caso Negreira: «O ataque mais feroz que sofremos na história»

17 abr 2023, 11:35
Joan Laporta (EPA/Alejandro Garcia)

Presidente do Barcelona saiu em defesa do clube no caso dos pagamentos a uma empresa detida por um responsável da arbitragem em Espanha e acusou o Real Madrid de «cinismo»

O presidente do Barcelona convocou nesta segunda-feira de manhã uma conferência de imprensa para sair em defesa do emblema catalão no chamado «Caso Negreira», no qual o Barça é suspeito de ter pago, entre 2001 e 2018, 7,3 milhões de euros a uma empresa de José María Enríquez Negreira, antigo vice-presidente do Comité de Árbitro de Espanha (CTA), quando este se encontrava em funções no organismo para beneficiar de arbitragens favoráveis

Joan Laporta reiterou que esse valor serviu apenas para pagar serviços de assessoria e nunca para comprar arbitragens.

«É importante contextualizar que este dinheiro foi pago em 18 anos. Não um, mas num período de 18 anos. Há que clarificar também que o prestador principal dos serviços era o Javier Enríquez Romero, o filho de Negreira. Isto é importante. Para além disso, o vice-presidente do CTA não tinha qualquer capacidade nem alterar os resultados desportivos da competição desportiva, nem para nomear árbitros. Isso não estava nas suas funções, está bastante claro no regulamento da Federação Espanhola», afirmou o dirigente numa conferência de imprensa para a qual pediram acreditação um total de 110 jornalistas provenientes de 70 meios de comunicação social.

«O barcelonismo está a sofrer uma gigantesca campanha de desprestígio por causa de conclusões difamatórias que nada têm a ver com a realidade. Ao longo dos nossos 123 anos, o Barça foi um exemplo de jogo limpo dentro e fora do campo. Demos muito ao futebol e ao desporto. (...) O Barcelona é uma entidade aglutinadora de valores. Gostamos de ganhar, mas importa-nos como o fazemos. Queremos ganhar porque jogamos bem e não por causa de ajudas de arbitragem. Temos detratores que estão a tentar corroer a nossa imagem e o nosso prestígio, mas nunca conseguiram nem conseguirão», acrescentou, mostrando-se seguro de que o Barcelona não será condenado.

Sobre os referidos pagamentos, Laporta defendeu estarem refletidos na contabilidade do clube e que houve sempre transparência. Disse até que o Barcelona é uma vítima nesta situação e acusou o Real Madrid de «cinismo». «Há um clube que fez uma acusação privada: o Real Madrid. É um clube historicamente tem sido favorecido por decisões de arbitragem. Um clube que foi considerado a equipa do regime. Cabe recordar que, durante sete décadas, a maioria dos presidentes do Comité de Árbitros foram ex-sócios, ex-sócios e ex-diretores do Real Madrid. Durante 70 anos, as pessoas que deviam zelar pela justiça em campo era pessoas ligadas ao Real Madrid. Que este clube alegue que se sente prejudicado parece-me um exercício de cinismo sem precedentes», apontou.

Repetindo várias vezes a ideia de que o Barcelona está a ser alvo de uma «campanha orquestrada para destruir a reputação do clube», Laporta garantiu que o departamento jurídico do emblema culé vai agir no sentido de avançar para a Justiça para pedir indemnizações por danos e prejuízos e voltou a acusar Javier Tebas, presidente da Liga espanhola, de «comportamento irresponsável» e de «incontinência verbal». «Disse que o Barcelona afirmou que estes serviços não existiam e isso é completamente falso», afirmou, considerando que a postura da UEFA, na pessoa do presidente Aleksander Ceferin, tem sido prudente.

De um olhar aos relatórios do Barcelona foi possível perceber que os pagamentos à empresa de Negreira aumentaram em 2009/10, na primeira passagem de Laporta enquanto presidente do clube. E para isso o dirigente também teve justificação. «Uma auditoria da KLMG que saiu hoje responde a essa pergunta: aumentaram porque houve mais serviços de 'scouting' devido ao aumento das competições.»

Os pagamentos a uma empresa detida por alto responsável da arbitragem também colocam em cima da mesa o cenário de um conflito de interesses e, confrontado com isso, Laporta reconheceu que hoje o clube procederia de outra forma, embora tenha dito que não viu nem continua a ver qualquer incompatibilidade. «Quando tivemos conhecimento deste serviço de assessoria, que herdámos em 2003, considerámos que os relatórios eram de qualidade e vinham de pessoas com experiência. Se voltaria a fazê-lo? Felizmente, grandes empresas como a nossa têm agora um departamento de "compliance" que presta todos os serviços. Colocaria isso na área de "compliance"», assumiu.

«O prestador principal era o filho de Negreira e as considerações éticas não fazem sentido, tendo em conta que o prestador de serviço principal era o filho do vice-presidente do CTA. Quando herdámos este serviço de assessoria, pareceu-nos interessante. Era de qualidade e de uma pessoa qualificada. Não entrámos em considerações éticas porque não vimos incompatibilidades», vincou.

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