Alunos portugueses pioram a Matemática e a Leitura. Foi a pandemia. Mas não só

Agência Lusa , AM
5 dez 2023, 10:41
Matemática

Quase sete mil alunos de 224 escolas portuguesas que realizaram as provas de 2022 obtiveram piores resultados do que os seus colegas em 2018

Os alunos portugueses de 15 anos pioraram os seus desempenhos nos testes internacionais de Matemática e Leitura do PISA de 2022, invertendo a tendência de melhoria que se vinha registando na última década.

O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) voltou a analisar os conhecimentos a Matemática, Leitura e Ciência de alunos de todo o mundo – em 2022 participaram cerca de 690 mil alunos de 81 países e economias - e o retrato do desempenho dos estudantes releva “uma quebra sem precedentes”, em que Portugal não foi exceção.

Os quase sete mil alunos de 224 escolas portuguesas que realizaram as provas de 2022 obtiveram piores resultados do que os seus colegas em 2018, colocando Portugal entre os países que mais baixaram de pontuação a Matemática, refere o relatório da OCDE hoje divulgado.

“Em comparação com 2018, o desempenho médio caiu dez pontos de pontuação em Leitura e quase 15 pontos de pontuação em Matemática, o que equivale a três quartos de um ano de aprendizagem”, sublinha Mathias Cornmann, secretário-geral da OCDE, no texto introdutório do relatório.

Em Portugal, os resultados dos alunos foram ainda mais graves: Os estudantes obtiveram 472 pontos a Matemática, ou seja, menos 20,6 pontos do que nas provas realizadas em 2018. Já em comparação com os resultados nas provas de 2012, desceram 14,6 pontos.

Portugal surge assim na lista dos 19 países que baixaram mais de 20 pontos a Matemática, sendo que as notas desceram entre os alunos mais carenciados, mas também entre os mais privilegiados.

Três em cada dez alunos não conseguiram demonstrar ter conhecimentos mínimos a Matemática, ou seja, não atingiram o nível dois numa escala de seis valores.

Apenas 7% dos estudantes portugueses se destacaram, atingindo os níveis de proficiência mais elevados (5 e 6) a Matemática, uma disciplina que voltou a ser dominada por seis países asiáticos.

Em Singapura, 41% dos estudantes demonstrou conhecimentos bastante elevados, assim como 32% dos estudantes de Taiwan.

Seguiram-se os alunos de Macau e China (29% com muito bons resultados), Hong Kong (27%), Japão (23%) e Coreia (23%).

A condição socioeconómica é um dos fatores que mais influencia os resultados académicos e, em Portugal, os estudantes portugueses de famílias mais privilegiadas tiveram uma pontuação média de 522 pontos, ou seja, 101 pontos acima da média dos alunos mais carenciados.

Esta diferença de resultados não se afasta muito da média dos países da OCDE (93 pontos), segundo o estudo hoje divulgado, que procurou os casos de sucesso entre os mais carenciados.

Em Portugal, cerca de 9% dos estudantes desfavorecidos conseguiram estar entre os melhores alunos a Matemática, sendo a média da OCDE de 10%.

Apesar de o PISA de 2022 estar mais focado no retrato dos conhecimentos a Matemática, também foi feita uma prova de Leitura e, mais uma vez, os resultados médios pioraram: os estudantes portugueses obtiveram 477 pontos, o que representa uma descida de 15,2 pontos em relação a 2018 e de 12,8 pontos face a 2012.

Apesar da descida, 77% dos alunos portugueses conseguiram atingir, pelo menos, o nível dois, ficando acima da média da OCDE (74%). Este resultado significa que estes jovens conseguem, pelo menos, identificar as ideias principais num texto de extensão moderada, encontrar informação e refletir sobre o propósito e a forma de um texto.

Apenas 5% dos portugueses conseguiram obter um nível 5 ou 6 em Leitura (7% é a média da OCDE), um nível que já implica ser capaz de compreender textos bastante longos, lidar bem com conceitos abstratos e conseguir estabelecer distinções entre um facto e uma opinião.

Já na prova de Ciências, Portugal surge como um caso de sucesso, ao contrariar a tendência de agravamento dos resultados: Em 2022, obtiveram 484 pontos, apenas menos 7,3 pontos do que em 2018 e do que em 2012.

O relatório indica que 78% dos alunos conseguiram ter, pelo menos, nível dois (OCDE é 76%). Entre estes, 5% tiveram desempenhos muito bons (nível 5 e 6), mostrando ser capazes de aplicar de forma criativa e autónoma os seus conhecimentos de ciência numa variedade de situações.

Numa comparação entre sexos, os rapazes portugueses voltam a ser melhores a Matemática (mais 11 pontos) e as raparigas a Leitura (mais 21 pontos).

No texto introdutório do relatório, Mathias Cornmann alertou que “um em cada quatro jovens de 15 anos é atualmente considerado como tendo um fraco desempenho em Matemática, Leitura e Ciências, em média, nos países da OCDE”.

Descida dos resultados “só pode ser parcialmente atribuída à pandemia”

Um em cada quatro jovens de 15 anos dos países da OCDE tem um fraco desempenho em Matemática, Leitura e Ciências, segundo um estudo internacional, que alerta que podem não conseguir utilizar algoritmos básicos ou interpretar textos simples.

Cerca de 690 mil alunos de 81 países e economias participaram no PISA e os resultados apontam para uma descida “sem precedentes” das capacidades dos alunos dos países da OCDE.

O estudo refere que um em cada quatro alunos dos países da OCDE teve um fraco desempenho, o que significa que “podem ter dificuldade em realizar tarefas como utilizar algoritmos básicos ou interpretar textos simples”.

A tendência é mais acentuada em 18 países e economias, onde "mais de 60% dos jovens de 15 anos estão a ficar para trás". Portugal não aparece nessa lista, apesar de ter baixado os seus resultados, em especial a Matemática.

No geral, “o declínio no desempenho em Matemática é três vezes maior do que qualquer outra alteração consecutiva anterior”, sublinha o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Mathias Cormann.

As provas internacionais foram realizadas quando os países ainda estavam a lidar com os impactos da pandemia de covid-19 e, por isso, os investigadores salientam que os resultados poderiam refletir os efeitos na aprendizagem do confinamento ou do ensino à distância, uma vez que se realiza de três em três anos, desde 2000.

No entanto, os investigadores consideram que a descida dos resultados “só pode ser parcialmente atribuída à pandemia”, lembrando que os resultados em Leitura e Ciências já estavam a piorar em alguns países antes da pandemia.

Também a Matemática, já havia sintomas de agravamento dos desempenhos antes de 2018, como foi o caso da Bélgica, Canadá, Finlândia ou França.

Os investigadores entendem que não se pode fazer uma relação direta entre o encerramento de escolas induzido pela pandemia e o declínio do desempenho dos alunos, tendo em conta os resultados agora conhecidos.

Cerca de metade dos alunos dos países da OCDE estiveram mais de três meses isolados, mas os resultados do PISA não revelaram uma diferença clara nas tendências de desempenho entre sistemas educativos em que as escolas estiveram menos tempo encerradas, como a Islândia ou a Suécia, e os países onde o isolamento foi mais prolongado, como aconteceu no Brasil, na Irlanda ou na Jamaica.

Apesar das circunstâncias difíceis, 31 países e economias conseguiram, pelo menos, manter o seu desempenho em Matemática desde o PISA 2018.

Foi o caso da Austrália, Japão, Coreia, Singapura e Suíça, que mantiveram ou aumentaram ainda mais os já elevados níveis de desempenho dos alunos, com pontuações que variaram entre os 487 e 575 pontos (quando a média da OCDE foi de 472 pontos).

Os investigadores concluíram que o que une estes sistemas de ensino são encerramentos de escolas mais curtos, mas também menos obstáculos à aprendizagem à distância e o apoio contínuo de professores e pais.

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