O Japão vai reabrir, a restante Ásia já reabriu, só a China continua fechada. Do que precisa para fazer umas férias asiáticas?

24 set 2022, 13:50
Turistas visitam o templo de Sensoji, em Tóquio, no Japão. 13 setembro 2022. Foto: Yuichi Yamazaki/AFP via Getty Images

O Japão reabre as portas aos turistas em outubro. Tailândia, Singapura e Maldivas, entre outros destinos, já reabriram. Conheça as regras de cada destino

Os tailandeses fizeram-no, os indonésios fizeram-no, os filipinos fizeram-no. Os japoneses vão fazer, os taiwaneses também e os sul-coreanos idem - só os chineses desafinam e não dão sinais de reabertura do país ao turismo, o que deixa a China em contramão com a tendência que se verifica por toda a Ásia. Este outono, a China é mesmo a exceção à regra que diz que os principais destinos de férias no Indo-Pacífico estão reabertos ao mundo e à espera de turistas. Se está desde o início de 2020 à espera de poder viajar para o outro lado do mundo, este texto é para si.

O anúncio do Japão, na quinta-feira, acabou por ser um marco no lento retorno à normalidade na Ásia depois de dois anos de fronteiras fechadas. Os nipónicos tinham em vigor algumas das regras mais restritivas sobre entrada de turistas - ao longo de mais de dois anos estiveram completamente fechados a turistas estrangeiros, apenas permitindo a entrada de nacionais, e sob condições muito apertadas de quarentena. Aos poucos, no primeiro trimestre deste ano, as normas foram sendo flexibilizadas para estudantes e outros grupos especiais - mas ainda com quarentenas -, até que em maio o Governo anunciou a permissão de entrada a pequenos grupos de turistas em excursões organizadas. A medida foi um flop, pois esse tipo de viagem é popular entre os japoneses que visitam o estrangeiro, mas é pouco atraente para os europeus ou americanos que querem visitar o Japão por sua conta e com liberdade de movimentos. Ao longo de junho, o primeiro mês desta espécie de reabertura, o Japão recebeu oito mil turistas (valor que compara com mais de 80 por dia antes da pandemia).

Por fim, o primeiro-ministro anunciou na semana passada o que muitos esperavam ouvir: o fim das restrições para turistas individuais. A partir de 11 de outubro deixa de haver um limite máximo diário de entradas no país (estava agora nos 50 mil, mas já foi apenas 5 mil), são permitidas viagens individuais ou de grupo sem itinerário pré-definido nem organização de uma agência japonesa, e deixa de ser necessário o pedido de um visto no casos dos países para os quais não era necessário visto de turismo antes da pandemia (é o caso de Portugal e restantes membros da UE, e outras quatro dezenas de países). Mantém-se apenas a exigência de vacinação completa (três doses).

O Japão era o único país do G7 que ainda não tinha deixado cair as restrições à entrada de turistas, e estava há alguns meses a ser fortemente pressionado por parceiros como os EUA para que deixasse cair os controlos fronteiriços, considerados excessivos.

A relevância desta medida para o setor do turismo em particular e para a economia nipónica em geral é ainda mais evidente quando o anúncio de Fumio Kishida foi feito na Bolsa de Nova Iorque. "Somos uma nação que floresceu através da livre circulação de pessoas, bens e capital", disse Kishida na quinta-feira. "A covid-19, claro, interrompeu todos estes benefícios, mas a partir de 11 de outubro, o Japão flexibilizará as medidas de controlo fronteiriço para estar a par com os EUA, e retomará as viagens sem visto e as viagens individuais", acrescentou o chefe do governo.

Antes da pandemia, o Japão era o terceiro maior destino de turistas na Ásia, a seguir à China e à Tailândia. Em 2019, último ano de normalidade antes da covid-19, o país recebeu 32 milhões de turistas. Mas essa dinâmica desapareceu no ano seguinte, com a proibição de entrada de visitantes, que se manteve até junho, mas só agora desaparece completamente - um processo longo e lento, que fez o país perder terreno face a destinos turísticos concorrentes.
Agora, o governo e o setor turístico esperam um boom de visitantes, impulsionado pela baixa cotação do iene. A moeda japonesa está no seu valor mais baixo dos últimos 24 anos, e esse facto pode tornar o país ainda mais apetecível, sobretudo para visitantes norte-americanos e europeus.

Para além do Japão, também Taiwan anunciou que irá levantar no próximo mês as barreiras que ainda tem em vigor em relação à entrada de turistas. E Hong Kong fez na sexta-feira um anúncio há muito esperado, deixando de impor quarentena aos visitantes estrangeiros que entram no território. 
Desta forma, na Ásia só a China continental continua com muralhas levantadas para impedir a entrada de turistas com receio da covid-19. Mais difícil do que entrar na China, só mesmo entrar na Coreia do Norte - mas, neste caso, a culpa não é da covid.

Se estiver a pensar fazer uma viagem à Ásia, saiba que destinos tão variados como as Maldivas, a Austrália, a Malásia ou o Nepal só exigem certificado de vacinação completa (três doses). O Camboja só exige duas doses. E até Myanmar já levantou quase todas as barreiras relacionadas com o novo coronavírus (caso tenha apetência por fazer turismo em países com ditaduras militares). Veja abaixo o estado da arte em relação à entrada de viajantes estrangeiros nos dez principais destinos turísticos asiáticos (entre parêntesis, o número de visitantes estrangeiros que cada país recebeu em 2019).

1.China (65,7 milhões de visitantes em 2019)

Desde o aparecimento da covid-19 que o país apertou as regras para os turistas estrangeiros. Foto: CFOTO/Future Publishing via Getty Images

Como regra geral, a China está de portas fechadas aos turistas. Desde o aparecimento da covid-19 em Wuhan, o país tornou-se uma fortaleza onde turista não entra. A entrada de cidadãos chineses é fortemente controlada (com obrigatoriedade de quarentena) e, para além destes, apenas grupos específicos de cidadãos estrangeiros estão autorizados a entrar no país, nomeadamente portadores de determinados vistos de trabalho.

Há regras diferentes nas diversas províncias, mas em todas há quarentena obrigatória à entrada, normalmente num centro de isolamento. Esse período já foi de duas semanas (até de três, nalguns locais), mas em maio foi reduzido para dez dias, e atualmente está nos sete.

Na semana passada, o governo de Pequim revelou que está a preparar regras para facilitar a entrada de estrangeiros na China para visitas a locais turísticos ao longo da fronteira. Segundo essas normas, agências de turismo em zonas fronteiriças da China podem organizar excursões com alguma “flexibilidade” para definir o seu ponto de entrada e de saída do país, segundo o Ministério da Cultura e Turismo, que não deu pormenores sobre locais e datas.

Entretanto, a perda de competitividade de Hong Kong enquanto praça financeira fez esta região administrativa especial avançar antes do resto do país com o fim das quarentenas obrigatórias à chegada dos visitantes. O anúncio foi feito nesta sexta-feira, o mesmo dia em que um ranking internacional revelou que a antiga colónia inglesa foi ultrapassada por Singapura enquanto principal mercado financeiro da Ásia. A regra que vigorava em Hong Kong desde agosto era a quarentena “3+4”, ou seja, três dias de permanência obrigatória num hotel de quarentena e quatro em isolamento noutro local, à escolha do visitante, sob supervisão médica à distância. Mas nada indica que este alívio em Hong Kong seja o prenúncio de maior abertura no resto da China.

2.Tailândia (39,8 milhões)

A frenética Chinatown em Banguecoque, capital da Tailândia. Foto: Louise Delmotte/Getty Images

Desde 1 de julho os viajantes internacionais podem entrar na Tailândia sem restrições, desde que apresentem o certificado de vacinação ou um teste covid feito nas 72 horas anteriores à chegada ao país. Também é obrigatório um seguro de saúde com cobertura de pelo menos 10 mil dólares (mesmo valor em euros). A Tailândia, cuja economia é muito dependente do turismo, não só reabriu completamente aos visitantes estrangeiros como levantou quase todas as restrições que estavam em vigor em espaços públicos. 

3. Japão (32,2 milhões)

(Ver acima)

4. Malásia (26,1 milhões)

As torres Petronas, em Kuala Lumpur, são um marco da capital da Malásia. Foto: Idris Sulun/Anadolu Agency via Getty Images

Desde maio a Malásia reabriu-se completamente aos visitantes estrangeiros. Numa primeira fase quem tivesse o certificado de vacinação não precisava de fazer teste covid, mas desde agosto não é exigido sequer o certificado de vacinação. À chegada é medida a temperatura dos turistas, e quem tenha febre ou sintomas de doença é sujeito a avaliação médica.

5. Vietname (18 milhões)

Um comboio que atravessa uma zona residencial em Hanói, no Vietname, tornou-se um dos pontos de passagem obrigatórios para os turistas fotografarem. Foto: Nhac Nguyen/AFP via Getty Images

O Vietname não exige vacinação nem impõe teste covid à chegada ao país, mas os viajantes devem apresentar um teste PCR feito nas 72 antes ou um teste de antigénio (mas não autoteste) com menos de 24 horas. Os turistas também devem apresentar um seguro de viagem ou de saúde que cubra despesas relativas a tratamentos de covid até 10 mil dólares (cerca de 10 mil euros). Há vários países europeus cujos cidadãos não precisam de visto para entrar no Vietname, mas não é o caso de Portugal.

6. Índia (17,9 milhões)

O complexo do Taj Mahal, na Índia, foi acabado de construir em 1653 e é uma das principais atrações do país. Foto: Pawan Sharma/AFP

Os visitantes devem apresentar à chegada certificado de vacinação ou teste PCR negativo com menos de 72 horas. Os aeroportos também conduzem testes aleatórios a 2% dos passageiros que entram no país. Quem teste positivo será sujeito a isolamento. 

7. Coreia do Sul (17,5 milhões)

Palácio de Gyeongbokgung, em Seul, na Coreia do Sul. 3 julho 2020. Foto: Ed Jones/AFP via Getty Images

Tal como o Japão, a Coreia do Sul é dos últimos países asiáticos a aliviar as restrições à entrada de visitantes estrangeiros, e esse processo tem sido lento e gradual. Desde o início deste mês os turistas deixaram de ser obrigados a apresentar à chegada um resultado negativo no teste do coronavírus. Mas a obrigatoriedade de testagem mantém-se: os viajantes têm de fazer um teste PCR no prazo de 24 horas após a chegada ao país (pode ser feito no aeroporto). Também é necessário submeter os registos de vacinação. A boa notícia: já acabaram os requisitos de quarentena para os turistas.

8. Indonésia (15,5 milhões)

Centro turístico de Jacarta, capital da Indonésia. Foto: Aditya Irawan/NurPhoto via Getty Images

Desde maio, os viajantes estrangeiros que estejam completamente vacinados apenas precisam de apresentar o certificado, estando dispensados de teste PCR ou de antigénios para entrar no país.

9. Singapura (15,1 milhões)

O regresso dos turistas a Marina Bay, em Singapura. Foto: Roslan Rahman/AFP via Getty Images

Viajantes que estejam completamente vacinados apenas precisam de o demonstrar. Quem não cumpra este requisito tem de apresentar um teste PRC ou de antigénio com resultado negativo, realizado 48 horas antes da chegada a Singapura. Os não vacinados também estão obrigados a ter um seguro de saúde com cobertura até 30 mil dólares. Todos os visitantes são obrigados a ter a app local de contact tracing.

10. Taiwan (11,9 milhões)

Vista sobre Taipei. Foto: Sam Yeh/AFP via Getty Images

Taiwan foi dos territórios que ao longo deste ano manteve índices mais elevados de novas infeções covid, e tem prolongado as restrições à entrada de turistas. Porém, até 13 de outubro a ilha planeia remover a quarentena obrigatória de três dias para quem chega do exterior. Neste processo, também será elevado o limite diário de chegadas, das atuais 50 mil para 60 mil. Numa segunda fase, este limite crescerá para 250 entradas diárias e será eliminado o teste PCR à chegada. Para já, quem teste positivo ainda terá de continuar a fazer quarentena no domicílio ou num hotel de quarentena. 
“Esta é a última milha na nossa luta contra a pandemia”, disse um porta-voz do executivo taiwanês ao anunciar as medidas. Só para a China, com a política de covid zero, é que continua a não haver meta à vista. 

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